RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A inflação dos aparelhos de ar-condicionado subiu 1,43% no Brasil em setembro, apontam dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) divulgados nesta quarta-feira (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
É a maior alta dos preços do produto desde fevereiro de 2022 (1,92%), ou seja, em 19 meses. O aumento ocorreu em meio a uma onda de calor que atingiu parte do país em setembro.
Segundo economistas, as altas temperaturas estimularam a procura de consumidores por aparelhos de ar-condicionado, o que pode estar por trás do avanço dos preços no IPCA.
“O ar-condicionado é um produto sazonal”, afirma o economista André Braz, pesquisador do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).
“Normalmente, as pessoas antecipam essa compra porque no verão a demanda é muito grande, e o preço costuma subir de modo muito mais rápido”, completa.
No IPCA, a inflação do ar-condicionado é calculada para 14 capitais e regiões metropolitanas. Em setembro, os preços do aparelho subiram em oito locais e recuaram em seis.
São Paulo teve a maior alta do produto: 5,16%. O Rio de Janeiro, por outro lado, registrou a queda mais intensa (-1,69%).
No caso da região metropolitana da capital paulista, a inflação superior a 5% foi a maior do ar-condicionado em quase três anos, desde outubro de 2020 (10,97%).
O mês passado foi o setembro mais quente da cidade de São Paulo desde 1943, quando o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) começou a fazer a medição na estação meteorológica de Santana, na zona norte do município.
A economista Luciana Rabelo, do Itaú Unibanco, concorda com a avaliação de que a carestia do ar-condicionado pode estar associada ao aumento das temperaturas. “Pode ser uma questão da demanda em função da onda de calor, principalmente em São Paulo.”
O ventilador, por outro lado, teve uma leve redução dos preços no Brasil em setembro, de acordo com o IPCA. A baixa foi de 0,14%.
O produto, contudo, só é pesquisado pelo IBGE em sete metrópoles (São Luís, Aracaju, Recife, Campo Grande, Rio Branco, Belém e Fortaleza). São Paulo não faz parte dessa lista.
Além dos efeitos diretos no meio ambiente, a onda de calor também tende a provocar diferentes impactos na economia. As temperaturas elevadas podem impulsionar a demanda por produtos sazonais, como é o caso do ar-condicionado, e elevar o consumo e o gasto da população com energia elétrica.
No segundo semestre deste ano, Brasil está começando a viver os efeitos do El Niño. O evento climático aumenta a chance de grandes volumes de chuva no Sul e eleva o risco de períodos mais secos no Nordeste e no Norte, conforme o Inmet.
O Norte, aliás, já amarga período de seca, que interrompeu o tráfego de navios em rios amazônicos e aumentou os custos de rotas comerciais.
Economistas dizem que o El Niño pode pressionar a inflação de alimentos in natura na reta final deste ano, caso provoque efeitos consideráveis em regiões produtoras como o Sul. O estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, vem de uma série de fortes chuvas que deixou rastro de mortes e destruição de municípios.
INFLAÇÃO DO AR-CONDICIONADO EM SETEMBRO, EM %
São Paulo 5,16
Aracaju 3,55
Recife 2,81
Porto Alegre 1,68
Brasil 1,43
Belém 1,23
Campo Grande 0,52
Goiânia 0,46
Fortaleza 0,11
Curitiba -0,02
Vitória -0,11
Rio Branco-0,84
Brasília -1,28
Salvador -1,44
Rio de Janeiro -1,69
Fonte: IPCA/IBGE
LEONARDO VIECELI / Folhapress