Preço dos imóveis deve subir até o fim deste ano para compensar alta dos custos de obra, diz Cbic

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Além do encarecimento do crédito e da alta dos juros do financiamento imobiliário, quem se planeja para comprar a casa própria nos próximos meses deve encontrar imóveis cada vez mais caros. Segundo o presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), Renato Correia, o custo da construção, que estava estável, deu um salto e está pressionando as empresas a repassarem o gasto ao consumidor.

“Não está ritmo de pandemia, mas houve uma aceleração da curva de acréscimo de custos de materiais e serviços. Isso nos preocupou um pouco. E a mão de obra acaba aumentando o custo não só dentro do canteiro, mas, eventualmente, na indústria”, diz Correia.

O setor de construção está com uma demanda aquecida, principalmente pelo “bom desempenho da área imobiliária de padrão econômico”. A projeção de crescimento é de 3,5% para 2024, superando a própria expectativa. No entanto, a construção sofre com a falta de mão de obra qualificada, que eleva salários e pressiona a inflação do setor.

Enquanto a inflação oficial do país —medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo)— subiu 4,42%, o INCC (Índice Nacional de Custo da Construção) aumentou 5,48% nos últimos 12 meses encerrados em setembro, sendo que só o componente mão de obra avançou 7,73%.

“O de materiais e equipamentos, em que pese ter subido abaixo da inflação, 3,89%, vinha se mantendo estável, mas agora deu um salto. É um indicador de que ele [INCC] continuará subindo”, avalia Correia.

De janeiro de 2020 até setembro deste ano, o INCC aumentou 46,93%. Nesse mesmo período o custo com o material cresceu 63,51% e o com a mão de obra registrou alta de 39,67%. Variações superiores ao IPCA (31,52%).

Na conta da escalada dos preços de imóveis há ainda a recomposição da expressiva alta dos custos na pandemia. Segundo o presidente da Cbic, muitas empresas ainda não conseguiram recompor suas margens de lucro e já estão tendo de lidar com essa nova precificação nos canteiros.

Para fugir do prejuízo, ou minimizá-lo, a saída é administrar o preço das unidades ainda não vendidas. A porcentagem de aumento vai depender do estoque de imóveis em cada cidade do país e da demanda.

Já as empresas que estão começando obras no Minha Casa, Minha Vida faixa 1, que recebe subsídio do governo federal, não têm margem para recompor o preço. “Se subir muito, passa a ser prejuízo. Penso que será [o segmento] mais afetado se [os custos] permanecerem evoluindo da maneira como estão”, afirma Correia.

Embora a projeção de crescimento do setor seja positiva, a Cbic diz que as perspectivas de novos aumentos na taxa de juros e a pressão sobre a disponibilidade de recursos do crédito imobiliário são outros obstáculos.

Para Correia, esses fatores podem influenciar o resultado da construção nos próximos meses e provocar “uma tempestade perfeita” para um desempenho abaixo do esperado para os últimos meses deste ano e início de 2025.

Ele diz que já há incorporadoras com dificuldade de encaminhar o cliente para o financiamento bancário no momento de entrega das chaves do imóvel vendido na planta por causa do encarecimento do crédito.

O presidente da Cbic propõe a liberação parcial dos depósitos compulsórios bancários para crédito imobiliário para ajudar a a aliviar o cenário —agravado pela sangria das cadernetas de poupança— até uma possível queda dos juros. A sugestão é apoiada por entidades do setor como Abrainc (associação das incorporadoras) e Secovi (sindicato patronal da habitação).

Preocupada desde o ano passado com sua capacidade de financiamento para a habitação, a Caixa também pediu ao governo federal a liberação de uma parcela de 5% dos recursos da poupança, hoje parada em depósitos compulsórios no Banco Central.

O BC exige o recolhimento compulsório de 20% sobre os recursos de depósitos de poupança. A ideia da Caixa é que passe a ser de 15%. Com a liberação desse percentual obrigatório seriam destravados entre R$ 70 bilhões e R$ 80 bilhões para financiamento imobiliário pelo banco.

ANA PAULA BRANCO / Folhapress

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