Preço dos imóveis tende a subir acima da inflação em 2024

Construção de prédios mais altos é uma das polêmicas do Plano Diretor| Foto: Reprodução

A fatura dos juros altos chegou na construção civil. A atividade do setor desacelerou neste ano em comparação a 2022, segundo dados da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) divulgados nesta sexta-feira (8).

Depois de uma projeção de alta de 2,5% no início de 2023 e a revisão para crescimento de 1,5% em julho, o setor deve encerrar o ano com queda de 0,5%. No terceiro trimestre de 2023, o PIB da construção recuou 3,8%, em relação ao trimestre anterior. É o pior resultado desde o segundo trimestre de 2020.

“A perspectiva é que o preço dos imóveis suba acima da inflação em 2024, por causa do baixo estoque, do custo em altos patamares e do fim da desoneração, que encarece a mão de obra”, afirma Renato Correia, presidente da Cbic.

Os empresários associam o resultado fraco às elevadas taxas de juros no país. De acordo com Correia, o resultado aquém do esperado também é reflexo do fim do ciclo de pequenas obras e reformas iniciado na pandemia e da demora da divulgação das novas regras do MCMV (Minha Casa, Minha Vida).

O resultado poderia ser ainda pior não fossem as obras de infraestrutura, como projetos de saneamento e construção de rodovias e estações de metrô. O fato de 2024 ser um ano com eleições municipais aqueceu o segmento, que contratou quase 30% a mais de profissionais entre janeiro e outubro deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado.

No total, a construção civil criou 254 mil novas vagas nos dez primeiros meses do ano. O número é inferior a 2021 e 2022 -anos de recorde histórico para o mercado imobiliário, mas é o terceiro maior resultado desde 2012.

São Paulo foi o estado com a maior geração de empregos nos três segmentos da construção: construção de edifícios, serviços especializados e obras de infraestrutura.

A indústria da construção emprega 6% dos trabalhadores com carteira assinada do país, mas foi responsável por mais de 14% do total de novos empregos formais criados até outubro deste ano, segundo dados do Caged (cadastro de empregos com carteira assinada do governo federal).

Segundo Correia, porém, este percentual pode cair no ano que vem com o fim da desoneração da folha de pagamentos. “O custo da mão de obra é muito alto mesmo sem a desoneração. Se não pode ter estímulo, que não tenha desestímulo. Por isso estamos trabalhando para que não ocorra o fim da desoneração”, disse o presidente da Cbic.

Ieda Vasconcelos, economista da entidade, afirma que, com o fim da desoneração, os custos trabalhistas na construção civil -que envolvem encargos como FGTS, INSS, férias e 13º salário além dos acordados em convenções coletivas– vão subir quase 33% em São Paulo.

A variação percentual mensal do CUB (Custo Unitário Básico), calculado mensalmente pelos sindicatos da indústria da construção civil em todo o país, tem servido como mecanismo de reajuste de preços em contratos de compra de apartamentos em construção e até mesmo como índice setorial.

Considerando os dados do CUB de novembro deste ano, o custo com a mão de obra em Goiás, que passa por um boom imobiliário, vai subir cerca de 15% sem a desoneração, estimam empresários e a Cbic.

A desoneração da folha de pagamento vale para 17 setores da economia, entre eles está o de comunicação, no qual se insere o Grupo Folha, empresa que edita a Folha. A medida permite que os empregadores paguem alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta, em vez de 20% sobre a folha de salários.

O benefício iria até 2027, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vetou a prorrogação. Parlamentares ainda podem derrubar o veto presidencial.

Enquanto isso, o Ministério da Fazenda afirma que trabalha em uma alternativa que atenda aos empresários e seja discutida com a Reforma Tributária para que não impacte as contas públicas. A desoneração custa R$ 9,4 bilhões por ano aos cofres públicos.

Considerada uma das maiores fontes de financiamento da construção, a poupança também sofre impacto da alta taxa de juros. “Mantendo o mesmo ritmo de janeiro a outubro de 2023, a caderneta deverá encerrar o ano com perda de quase R$ 100 bilhões”, disse Ieda.

O número de unidades financiadas com recursos do SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo) de janeiro a outubro de 2023 caiu 32,70% em relação ao mesmo período anterior. Já o de financiadas com recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) foi 30,16% superior ao resultado dos mesmos meses de 2022.

Para 2024, a Cbic prevê crescimento de 1,3%, na expectativa de que o Banco Central siga reduzindo a Selic (taxa básica de juros) e de que haja novo ciclo de lançamentos pelo Minha Casa, Minha Vida e de obras pelo Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

Os desafios, aponta a entidade, são o menor ritmo de crescimento da economia brasileira, os baixos investimentos no país, o endividamento das famílias e os juros, que embora em queda, seguem em patamar elevado.

“Nós precisamos de estabilidade para a construção civil para manter os empregos, investir e ganhar competitividade”, disse Correia.

“O custo da construção está se estabilizando em um patamar elevado, o que prejudica o setor. A quantidade de unidades habitacionais caiu, mas o VGV [Valor Geral de Vendas] subiu, mostrando que o custo subiu neste ano”, afirmou o presidente da Cbic.

Ele acredita numa tendência de recuperação com mais lançamentos pelo MCMV e pelo SBPE no segundo semestre de 2024, segmento que tem sofrido forte recuo com os altos saques da poupança por causa dos juros elevados.

“Enquanto não chegar a um dígito [a Selic], o efeito [da queda de juros na economia] não será sentido”, disse Correia.

ANA PAULA BRANCO / Folhapress

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