Prefeitura desconhece milícia atuando na cidade de SP, diz Nunes

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, disse nesta terça-feira (6) que “desconhece a existência de milícia atuando na cidade”. Ele comentava uma operação que investiga guardas-civis metropolitanos acusados de movimentar ao menos R$ 4 milhões desde 2020 ao vender proteção ilegal a comerciantes da região da cracolândia, no centro da capital.

Liderada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), do Ministério Público estadual, a operação mira atividades ilícitas que alimentam um ecossistema do crime no centro da capital paulista, sob o controle territorial do PCC (Primeiro Comando da Capital). A atuação dos guardas é apenas parte dos crimes investigados.

Entre os alvos de mandados de prisão estão tanto guardas-civis que já haviam sido afastados de seus cargos a GCM quanto outros que ainda trabalhavam na corporação e foram afastados nesta terça. A investigação identificou repasses financeiros de um guarda-civil para ao menos dez agentes públicos.

Nunes, que participou de uma entrevista coletiva que detalhou a operação, afirmou que a operação trata de casos isolados. Eles disse que os problemas apontados pela investigação não são generalizados na GCM.

“A prefeitura desconhece milícia atuando na cidade de São Paulo”, afirmou o prefeito, que concorre à reeleição. Ele afirmou que a gestão municipal tem regras rígidas para punir agentes que cometem crimes e destacou o afastamento de dois agentes. “Não vai ser um, dois, três, quatro ou cinco [funcionários públicos] que irão manchar a credibilidade de 7.500 valorosos guardas-civis metropolitanos dessa cidade. Eu faço questão de defender a minha corporação.”

Durante a entrevista, o prefeito sentava ao lado do coordenador da operação, o promotor Lincoln Gakiya, que evitou usar o termo “milícia” para descrever a atuação dos guardas-civis investigados. Gakiya afirmou que a expressão não é usada nos documentos enviados pelo Gaeco à Justiça.

“A gente está tratando de um ecossistema criminoso em que uma das fases em que houve investigação há, em certa medida, a parte de corrupção de agentes públicos. Não quero generalizar com [a categoria de] guarda metropolitano, com policiais”, disse Gakiya. “Não estamos querendo aqui proteger nenhuma instituição. Na verdade, isso [a atuação de agentes públicos] é parte do problema.”

Investigação aponta venda de armas por GCM

Como mostrou reportagem da Folha de S.Paulo, os R$ 4 milhões foram movimentados pelo guarda Antonio Carlos Amorim. Ele foi afastado da GCM em junho do ano passado, sob suspeita de exigir uma taxa mensal de comerciantes da região central para manter os usuários de drogas afastados de suas lojas.

Nos extratos de movimentações financeiras de Oliveira está o nome de outro guarda municipal afastado, Elisson de Assis. Oliveira e Assis fazem parte da Iope, considerada a tropa de elite da guarda do município.

Em junho do ano passado, Assis e outros seis guardas-civis foram afastados por suspeitas de desvios de conduta, quando o caso foi noticiado pelo Jornal da Band.

Além deles, o GCM Rubens Alexandre Bezerra, que está fora da ativa, também foi alvo de mandado de prisão. Ele é acusado pelos promotores de vender armamentos, munições e outros dispositivos para a prática de crimes.

Outro alvo da operação é a guarda-civil Renata Oliva de Freitas Scorsafava. Segundo os promotores, ela realizou movimentações financeiras atípicas em sua conta, inclusive a policiais civis, militares e a outros guardas-civis.

Ainda não há uma denúncia formal como resultado da operação -as investigações devem continuar, inclusive em relação aos agentes que receberam dinheiro.

Mais cedo, a prefeitura havia divulgado uma nota em que ressalta o afastamento do GCM Assis no ano passado e que havia pedido a prisão do agente. Informou, ainda, que Bezerra foi expulso da corporação em 2019. Os guardas Amorim e Scorsafava só foram afastados nesta terça, após a deflagração da operação.

A gestão municipal informou, ainda, que uma das investigações contra o GCM foi arquivada pelo Ministério Público. Gakiya confirmou que um dos inquérito chegou a ser arquivado, mas esclareceu que outras investigações continuaram em andamento, resultando na operação desta terça.

Autoridades destacam cooperação entre agências

Batizada de Salus et Dignitas (saúde e dignidade, em latim), a operação liderada pelo Ministério Público tem a participação das polícias Militar, Civil, Federal e Rodoviária Federal, além do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Ministério Público do Trabalho, Receita Federal e estadual, Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e Secretaria de Assistência Social do governo. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e outras autoridades destacaram a atuação conjunta, descrevendo-a como inédita.

Segundo os promotores do Gaeco, uma extensa investigação apontou para a cooperação entre diferentes grupos criminosos, o que cria um ambiente de ilicitudes no centro da maior cidade do país, favorecendo atividades ilegais que se valem da dependência química e da vulnerabilidade social das pessoas que circulam por ali para obtenção de benefícios econômicos.

Cinco pessoas foram presas -o que inclui todos os GCMs acusados- e duas estão foragidas.

TULIO KRUSE / Folhapress

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