Premiada com Nobel de Física batalha sem parar desde os anos 1980, diz físico brasileiro

SÃO CARLOS, SP (FOLHAPRESS) – O físico brasileiro Anderson Gomes, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), não se surpreendeu muito ao saber que sua antiga colega, a francesa Anne L’Huillier, tinha sido agraciada com o Prêmio Nobel de sua área em 2023.

“Quando olho para trás, fica claro que ela já sabia muito bem aonde queria chegar -não no sentido de ser uma ganhadora do Nobel, porque isso é muito difícil de planejar, mas na determinação de dominar profundamente aquela área”, diz Gomes, que trabalhou com Anne e publicou alguns estudos em parceria com ela entre o fim dos anos 1980 e começo dos anos 1990. Foi justamente o período em que a pesquisadora estava começando a dominar a técnica que acabaria por lhe render a láurea neste ano.

Gomes e L’Huillier conviveram no Centro de Pesquisa Nuclear Paris-Saclay, instituição onde a pesquisadora trabalhava antes de se transferir para a Universidade de Lund, na Suécia, onde está até hoje.

“Ela já tinha concluído o doutorado. Era física teórica, mas queria aprender o máximo possível das técnicas de laboratório. Como eu trabalhava com lasers e passava o tempo todo no laboratório, nós nos encontrávamos com frequência por lá”, diz o físico.

Ele conta que L’Huillier o ajudou, inclusive, a driblar a burocracia para continuar trabalhando. “As regras do centro de pesquisa estabeleciam horário certo para entrar e sair, e ninguém trabalhava em feriados. Um desses feriados ia cair numa sexta-feira, mas ela conversou com o diretor para que ele abrisse uma exceção, permitindo que a gente trabalhasse durante o fim de semana nos experimentos.”

Segundo o físico, que também é membro da Academia Brasileira de Ciências, laboratórios nacionais também têm potencial para fazer medições do comportamento de partículas na escala dos attosegundos (quintilionésimos de segundo), façanha que se tornou possível graças aos trabalhos da francesa e dos outros ganhadores do Nobel da área neste ano.

“Olhando para o Brasil, por que não temos premiações semelhantes? Não é falta de competência nem de conhecimento”, pondera ele. “O que faz diferença é o planejamento e a continuidade. Ela continua batalhando nisso sem parar desde os anos 1980. Não é algo que você consegue fazer florescer em um, dois, três anos. Essa constância, com investimento em pessoas, precisa se manter independentemente de mudanças de governantes.”

REINALDO JOSÉ LOPES / Folhapress

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