Premiê renuncia frente a pressão por reformas na Autoridade Palestina

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um dos principais líderes de uma organização atualmente em descrédito, o premiê da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mohammad Shtayyeh, anunciou nesta segunda (26) seu pedido de renúncia com o argumento de permitir que palestinos formem um consenso sobre os rumos de sua política em meio à guerra em Gaza.

A decisão ocorre em um momento em que há ampla pressão dos Estados Unidos para que o presidente da ANP, Mahmoud Abbas, reforme a autoridade, à medida que os esforços internacionais se intensificaram para interromper os ataques a Gaza.

Constituída em 1993, a ANP governa apenas parcialmente a Cisjordânia, um território palestino ocupado cuja governança se assemelha a uma colcha de retalhos depois da divisão do território travada após os Acordos de Oslo —e que é desrespeitada até hoje.

A renúncia de Shtayyeh ainda precisa ser aceita por Abbas, que pode pedir a seu primeiro-ministro cessante que permaneça no cargo como interino até a nomeação de substituto permanente. Ele teria comunicado o presidente no último dia 20 sobre sua decisão, formalizada somente nesta segunda.

Acadêmico e economista, o premiê assumiu o cargo em 2019. Em comunicado, seu gabinete disse que a próxima etapa da ANP precisa levar em conta a realidade de Gaza, devastada após quase cinco meses de intenso conflito armado. Quase 30 mil pessoas morreram na Faixa.

“A próxima fase exige novos acordos governamentais e políticos que tenham em conta a realidade emergente da Faixa de Gaza, as conversas sobre unidade nacional e a necessidade, urgente, de um consenso palestino”, afirmou ele, que também falou sobre uma “extensão da autoridade da ANP sobre todo o território da Palestina”.

Em jogo, como mostra a última frase de Shtayyeh, está a capacidade da Autoridade Palestina de governar uma Gaza pós-guerra, ainda que haja ampla descrença em relação a isso.

Na última semana, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, apresentou a seu gabinete de segurança um plano para o pós-conflito que dizia que a autoridade de Gaza, hoje em mãos do Hamas, seria repassada para “funcionários locais não ligados ao terrorismo”.

O plano não fazia qualquer menção à ANP.

O Fatah, grupo que controla a ANP, e o Hamas, a facção terrorista que governa Gaza desde os anos 2000, têm feito esforços para chegar a um acordo sobre um governo de unidade e devem se encontrar em Moscou, na Rússia, nesta quarta-feira (28).

Um alto funcionário do Hamas disse à agência Reuters que a medida deve ser seguida por um acordo mais amplo sobre governança.

Com sede em Dubai, o jornal Asharq News, citado pelo The Times of Israel, informou que até o final desta semana um novo governo deve ser formado —junto com o anúncio de um novo premiê, afinal, estão saindo todos os seus ministros.

O nome mais cotado é o de Mohammed Mustafa. Economista, ele lidera o conselho do Fundo de Investimento Palestino, um fundo independente estabelecido no início dos anos 2000 para organizar os investimentos na economia palestina.

Ele seria visto, assim, como uma figura mais técnica, apropriada para ser responsável por liderar um plano para a reconstrução de Gaza.

Figura importante da oposição a Mahmoud Abbas, o ex-chanceler palestino Nasser al Kidwa —sobrinho de Yasser Arafat, histórica liderança palestina, morto em 2004— vinha pedindo um “divórcio amistoso” de Abbas e defendendo uma renovação da liderança palestina, quiçá incluindo membros do Hamas —o que, ao final, afastaria ainda mais a ANP de qualquer acordo com Israel ou seus parceiros ocidentais.

Em um artigo publicado pela The Economist em outubro passado, uma semana após o eclodir da guerra, Kidwa disse que a ANP “é impotente e não tem credibilidade, sobretudo aos olhos do povo palestino”.

Também afirmou que era preciso uma “reestruturação” da Autoridade, o que exigiria a saída do grupo dominante de líderes, “incluindo o seu presidente de 87 anos [agora com 88], Mahmoud Abbas, através de uma transição cuidadosa”.

Redação / Folhapress

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