Presidente da Câmara dos EUA pode ser removido do cargo nesta terça (3)

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos está prestes a votar uma moção para retirar seu presidente, o republicano Kevin McCarthy, do cargo, nesta terça-feira (3) -a pedido de uma ala de seu próprio partido.

Se confirmada, será a primeira vez em mais de cem anos que a Casa vota uma moção do tipo. O pedido foi apresentado por Matt Gaetz, deputado conservador da Flórida cujo histórico de rixas com o líder republicano extrapolam o tablado político.

O movimento contra McCarthy acontece após o presidente aprovar, nas últimas horas do sábado, com apoio democrata, uma medida temporária para manter o governo funcionando enquanto as leis orçamentárias para o ano fiscal de 2024 não são ratificadas.

O feito impediu uma paralisação do governo no domingo, mas custou a McCarthy o apoio de um grupo mais radical de seu partido que exigia cortes de gastos mais profundos e já estava insatisfeito com a sua liderança desde o acordo fechado com a Casa Branca para elevar o teto da dívida pública no primeiro semestre.

A moção para destituir o presidente da Câmara foi apresentada na noite desta segunda. O uso do instrumento por um membro da Casa foi facilitado por McCarthy em janeiro, em um pacote de mudanças nas regras legislativas exigido por republicanos extremistas em troca de apoio ao seu pleito pela liderança.

“Uma das duas coisas vai acontecer: Kevin McCarthy não vai ser presidente da Câmara, ou ele vai ser o presidente da Câmara trabalhando de acordo com os desejos dos democratas”, disse Gaetz a jornalistas após apresentar o pedido.

“Vem com tudo”, afirmou McCarthy no X, ex-Twitter. “Acabei de ir”, retrucou Gaetz.

Os republicanos têm uma maioria apertada na Câmara, de apenas nove votos. O grupo de Gaetz, mais à direita, abrange 20 deputados, mas nem todos afirmaram publicamente até agora que votarão contra o líder. Para ser aprovada, a moção exige uma maioria simples entre os deputados presentes e votantes.

Assim, o destino de McCarthy está, na prática, na mão dos democratas. Caso o partido vote em bloco contra ele, somando-se à ala republicana, a derrota é certa. Mas, se parte dos adversários votarem contra, ou simplesmente se abstiverem, o republicano pode sobreviver no cargo.

Para isso, no entanto, os democratas queriam que o presidente da Câmara fizesse concessões à altura desse apoio inusual -o que ele disse na manhã desta terça que não vai fazer.

Os membros do partido de Joe Biden tiveram uma reunião a portas fechadas durante a manhã para discutir o tema. Muitos deputados relataram a jornalistas na saída que não foi acordado nenhum plano para salvar o presidente da Câmara, que recentemente determinou a abertura de um processo de impeachment contra o presidente.

Pouco antes da moção ir a votação, o líder da minoria na Casa, o democrata Hakeem Jeffries, divulgou uma carta dizendo que a liderança do partido na Câmara votará contra McCarthy. Mais cedo, ele havia afirmado que os adversários precisam “romper com os extremistas” e “encerrar o caos”.

Para tentar se salvar, há dois caminhos para McCarthy. Ou ele ou um de seus aliados apresenta uma resolução para cancelar a moção antes que ela seja votada, ou a encaminha para análise prévia por um comitê do Congresso formado por seus aliados.

Se a moção for votada e o líder, removido, um substituto interino será indicado até que uma nova votação para eleger um presidente da Casa seja realizada. As funções desse mandato temporário se limitam a essa tarefa. Não há ainda nenhuma aposta sobre quem poderia sucedê-lo -o próprio McCarthy poderia concorrer novamente.

A briga fratricida entre a oposição acontece em meio às discussões das leis orçamentárias que o Congresso precisa aprovar para que o governo federal consiga bancar seus gastos no ano fiscal que começou no domingo. A resolução temporária aprovada no sábado, que disparou o movimento contra McCarthy, tem prazo de apenas 45 dias, e não prevê aquilo que a Casa Branca vê como prioridade: recursos para a Ucrânia, em guerra com a Rússia.

FERNANDA PERRIN / Folhapress

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