‘Presidentes não fazem o que querem’, diz Nobel da Paz liberiana sobre Trump

BELÉM, PA (FOLHAPRESS) – Laureada com o Prêmio Nobel da Paz em 2011, a ex-presidente da Libéria Ellen Johnson-Sirleaf minimizou a eleição de Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos como um fator de instabilidade e disse ser preciso esperar para saber quais serão as consequências de seu governo.

“Quando as pessoas estão fazendo campanha na política, elas dizem todo tipo de coisas, todo tipo de declarações. Eu também fiz quando estava fazendo campanha. Você tem que esperar para ver o que eles realmente fazem quando estão no poder”, afirmou.

Ela destacou que o poder de ação de um líder de um país depende da qualidade e da autonomia das instituições e que presidentes não podem fazer o que querem diante de instituições fortes e autônomas: “Isso é o controle e equilíbrio do Poder Executivo. Então vamos esperar que isso se aplique.”

As declarações de Ellen Johnson-Sirleaf foram dadas na sexta-feira (8) em entrevista à imprensa após palestra na Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias, em Belém. O evento é organizado pelo Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração).

Presidente da Libéria por 12 anos, Ellen Johnson-Sirleaf foi a primeira mulher eleita chefe de governo de um país africano. Venceu as eleições presidenciais de 2005, derrotando o ex-jogador de futebol e também ex-presidente George Weah. Foi reeleita em 2011 para um novo mandato, que cumpriu até 2018.

Ela recebeu o Nobel junto com a liberiana Leymah Gbowee e a iemenita Tawkel Karman. Naquele ano, o comitê do prêmio reconheceu as lutas não violentas pela segurança das mulheres e pela construção da paz.

Questionada sobre a Guerra da Ucrânia e a guerra Israel-Hamas, Johnson-Sirleaf rememorou a própria história para dizer que sempre vai trabalhar pela paz. Nos anos 1980, foi condenada à prisão após críticas ao então regime militar no país. Viveu no exílio até 1997, quando retornou à Libéria.

“Tenho um compromisso de promover a paz. E meu próprio legado em meus 12 anos de presidência foi dizer: não me importa o que eu faça pela infraestrutura ou pelos serviços sociais, meu legado será a paz. E estou feliz que, após duas décadas de conflito, a Libéria agora pode se orgulhar de mais de 21 anos consistentes de paz”, afirmou.

Ao comentar sobre qual será a posição dos Estados Unidos de Trump diante das guerras na Europa e Oriente Médio, disse que é impossível prever o que acontecerá nos próximos quatro anos.

Ellen Johnson-Sirleaf ainda comentou o papel dos países emergentes e disse considerar que estes têm uma vantagem demográfica em relação aos mais ricos, cuja população está envelhecendo.

“Em quem o mundo vai se apoiar? Nesta população jovem, impulsionada pela tecnologia, para fornecer o profissionalismo que o mundo precisa. Porque, se não lhes for dada essa oportunidade, eles cruzarão fronteiras e exigirão mudanças.”

Na sequência, destacou que as políticas das maiores nações vão determinar se o mundo seguirá um caminho em direção à prosperidade para todos ou para um mundo caótico de divisão, guerras e conflitos.

“Não sabemos se nos uniremos novamente como nos velhos tempos de multilateralismo e cooperação global ou se veremos sistemas políticos se desintegrando. Eu não sei, é um mundo tão difícil. Mas o futuro pertence aos países emergentes”, declarou.

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O repórter viajou a convite do Ibram (Instituto Brasileiro de Mineração)

JOÃO PEDRO PITOMBO / Folhapress

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