(FOLHAPRESS) – O futuro do Primal Scream parecia incerto, até que Bobby Gillespie, vocalista e líder do grupo de pós-punk britânico, anunciou o lançamento de “Come Ahead”, 12º disco de estúdio da banda. O título do álbum já evidencia o renovado espírito combativo do novo trabalho, já que “Come Ahead” é uma expressão escocesa que significa algo como “pode vir, estou pronto para brigar com você”.
Na capa do disco, Gillespie botou uma foto do pai, Robert Gillespie Senior, um sindicalista e ativista político conhecido na Escócia. Em entrevistas, disse que o tema central das músicas é o conflito, “seja interno ou externo”.
As letras de “Come Ahead” falam sobre temas atuais, dos massacres em Gaza à apatia política das novas gerações. O curioso é que Gillespie, que escreveu sozinho todas as faixas, optou por uma sonoridade festiva e dançante que remete a “Screamadelica”, com percussões latinas, corais de vozes femininas, guitarras funkeadas e um clima geral de celebração. É o Primal Scream voltando às origens.
Isso porque o último disco da banda, “Chaosmosis”, lançado em 2016, não foi bem recebido pela crítica e pelo público. Em 2022, o tecladista, Martin Duffy, que tinha problemas com alcoolismo, morreu aos 55 anos.
Formado em Glasgow, na Escócia, em 1982, o Primal Scream lançou dois discos bem recebidos, “Sonic Flower Groove”, de 1987 e “Primal Scream”, de 1989, antes de estourar mundialmente com a obra-prima “Screamadelica”, de 1991.
“Screamadelica” saiu um dia antes de “Nevermind”, do Nirvana, mas não poderia ser mais diferente. Enquanto Kurt Cobain modernizava o metal do Black Sabbath adicionando a ele a doçura e verniz pop dos Pixies, Bobby Gillespie e seu Primal Scream, à época mergulhados de cabeça na cena eletrônica britânica, misturaram rock psicodélico às batidas dançantes daacid house, embalado por quantidades industriais de LSD e ecstasy. “Screamadelica” foi um dos primeiros discos de rock a tocar em clubes e raves de música eletrônica.
O Primal Scream teve uma sequência brilhante de lançamentos, com “Give Out But Dont Give Up”, de 1994, “Vanishing Point”, de 1997 e, principalmente, “XTRMNTR”, de 2000. Depois disso, parece ter entrado no piloto automático, lançando discos que traziam uma ou outra canção de destaque, mas sem o impacto de “Screamadelica” ou “XTRMNTR”.
Nos últimos tempos, Bobby Gillespie fez diversos trabalhos interessantes fora do Primal Scream: lançou a excelente autobiografia “Garoto do Cortiço”, publicado no Brasil pela editora Terreno Estranho, e gravou um disco, “Utopian Ashes”, com a cantora e atriz francesa Jehnny Beth.
E pode-se dizer que mais de quatro décadas depois de nascer, o pós-punk britânico vai bem, obrigado. Nos últimos meses, outras bandas importantes do movimento, surgido na esteira do punk rock, mas abarcando um maior ecletismo de sonoridades, como eletrônica, drones de guitarra e psicodelia, têm lançado álbuns marcantes.
É o caso de “Glasgow Eyes”, do The Jesus and Mary Chain, e do elogiadíssimo “Songs of a Lost World”, do The Cure, que não lançava um disco de inéditas há 16 anos. São bandas que estouraram juntas, no início dos anos 1980.
Os dois discos marcam também uma espécie de retorno sonoro à era de ouro das duas bandas. “Glasgow Eyes” traz a sonoridade típica dos irmãos Reid, com guitarras abrasivas por cima de canções pop de assobiar junto, enquanto “Songs of a Lost World” devolve o The Cure ao mundo sombrio e gótico do LP “Disintegration”, de 1989, seu maior sucesso de vendas.
Curiosamente, Bobby Gillespie também foi baterista do The Jesus and Mary Chain e gravou o clássico disco de estreia do JAMC, “Psychocandy”, de 1985.
COME AHEAD
– Avaliação Bom
– Onde Nas plataformas digitais.
– Autoria Primal Scream
– Gravadora BMG
ANDRÉ BARCINSKI / Folhapress