Primárias começam nos EUA com novo calendário e grandes incertezas; entenda

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O complexo sistema de seleção de candidatos por cada partido, conhecido como primárias, conseguiu ficar mais complicado este ano nos EUA. Democratas mudaram o calendário tradicional, após pressão de Joe Biden, e republicanos lidam com a dúvida se Donald Trump poderá ou não participar do processo.

A tradicional largada em Iowa, que ocorre nesta segunda-feira (15), já traz uma grande mudança (além do literal frio de matar): a ausência dos democratas pela primeira vez desde 1972. O partido terá caucus no estado, mas para tratar de outros assuntos, não da escolha do candidato a presidente.

Apesar de não ter muito peso em número de votos, Iowa, um estado mais rural no meio dos EUA, teve historicamente uma importância simbólica por abrir o calendário das primárias de ambos os partidos. Vitórias e derrotas em Iowa são lidas como um sinal de impulso ou fracasso das candidaturas.

Isso mudou do lado democrata neste ano por dois motivos. O primeiro é o caos no caucus de 2020, quando o partido levou semanas para conseguir anunciar um vencedor após falhas técnicas de um aplicativo. Neste ano, a votação no estado será pelo correio. O prazo começou em 12 de janeiro e vai até 5 de março, quando o vencedor deve ser anunciado.

A segunda razão é política. Seguindo a estratégia de dar maior peso ao eleitorado negro -Iowa é predominantemente branco e rural, perfil distante do democrata médio-, o calendário das primárias foi modificado para começar pela Carolina do Sul, em 3 de fevereiro.

Além de Iowa, New Hampshire também perdeu a precedência. O braço do partido no estado, porém, não aceitou a mudança, e vai realizar uma primária à revelia do Comitê Nacional em 23 de janeiro, mesma data das primárias republicanas.

Por isso, Biden não está na cédula no estado, mas Dean Phillips, um oponente com praticamente nenhuma chance de vencer, está -e anunciou sua candidatura, inclusive, em New Hampshire, aproveitando a rusga com a direção nacional do partido.

Isso não deve fazer grande diferença. Como incumbente, Biden tem amplo apoio no partido e sua nomeação é certa, a não ser que ele próprio decida se retirar do páreo –algo que parte do partido gostaria que acontecesse, tendo em vista a alta rejeição ao presidente e o desempenho ruim nas pesquisas de intenção de voto.

Do lado republicano, o principal imbróglio é Donald Trump. Até agora, dois estados -Colorado e Maine- tiraram o empresário das primárias, entendendo que ele violou uma emenda da Constituição sobre insurreição.

Lista **** A campanha do republicano entrou com recurso e, enquanto o apelo não for julgado, Trump permanece nas cédulas. A audiência do caso do Colorado na Suprema Corte está marcada para 8 de fevereiro.

As primárias em ambos os estados ocorrem dia 5 de março, na Super Terça, como é chamado o dia em que um grande número de estados faz sua seleção. No Colorado, muitos eleitores votam antes, por correio.

Questionamentos sobre a elegibilidade de Trump com base na 14ª Emenda foram apresentados em outros estados. Vários já arquivaram o pedido, mas em outros ele ainda está pendente, o que gera mais incerteza sobre a situação do empresário.

A decisão da Suprema Corte terá repercussão geral, ou seja, se ela entender que Trump pode participar das primárias, todos os estados terão que aceitá-lo. Do contrário, todos terão que retirá-lo das cédulas.

Nessa situação, uma saída possível para o Partido Republicano seria mudar seu modelo de escolha de candidato, de primárias para caucus, método em que a agremiação tem maior autonomia para definir as regras.

A nomeação do candidato republicano vai ocorrer na convenção nacional do partido, que ocorre em Milwaukee, no Wisconsin, a partir de 15 de julho. Os democratas se reúnem em 19 de agosto em Chicago, no estado de Illinois.

A partir desse momento, começa a eleição geral. Em setembro e outubro, ocorrem os debates presidenciais e vice-presidenciais. Em 5 de novembro, acontece a eleição.

Entenda abaixo esse sistema complexo.

O que são primárias?

Primárias são o processo por meio do qual cada partido seleciona seus candidatos, seja para o Congresso, para governos estaduais ou para a Presidência.

Essas votações ocorrem em todos os estados e se concentram no primeiro semestre do ano eleitoral.

Cada estado tem direito a um certo número de delegados, que varia de partido a partido. Em Iowa, por exemplo, são 40 delegados do lado republicano e 46 do democrata.

A distribuição desses delegados varia de estado a estado. Em alguns, quem obtém o maior número de votos leva todos os delegados a que o estado tem direito. Em outros, há uma divisão proporcional -essa é a regra do lado democrata. Há ainda modelos híbridos.

O método de votação dentro de cada estado varia, podendo ser de dois tipos: caucus e primária.

O que é caucus? Qual a diferença para a primária?

O caucus é uma reunião organizada pelos partidos em alguns estados, em geral em ginásios de escolas, igrejas e centros comunitários. Esses encontros têm hora marcada -em Iowa será às 19h, no horário local- e participam dele representantes das campanhas, que fazem uma defesa de seu candidato.

O método pode ser voto secreto, como farão os republicanos nesta segunda, ou, como os democratas costumavam fazer em Iowa, formando grupos em uma sala.

Os apoiadores do candidato A, por exemplo, juntavam-se no canto esquerdo, os do B, no direito, e os indecisos, ao centro. O processo corria -com as pessoas literalmente correndo de um lado para o outro- até chegar a um vencedor.

Já a primária é uma votação secreta organizada comumente pelas comissões eleitorais dos estados, não pelos partidos. São abertas seções eleitorais ao longo do dia, em que os eleitores votam em urnas, em um modelo tradicional.

Quem pode votar nas primárias?

As regras variam de estado a estado. Em alguns, apenas os filiados a um partido podem votar -são as chamadas “primárias fechadas”. Em outros, qualquer um pode votar, exceto os filiados a outro partido. Em outros, ainda, não há nenhum impedimento sobre quem pode votar.

Como funcionam as convenções?

Nas convenções nacionais de cada partido, os delegados dos estados votam em um candidato. Quem obtiver a maioria dos votos, recebe a nomeação.

Do lado dos democratas, são no total cerca de 3.900 delegados na primeira rodada de votação (mais são incluídos em rodadas posteriores se um candidato não obtiver a maioria). Do lado republicano, são 2.429.

Parte dos delegados é obrigada a votar segundo o resultado de seu estado, enquanto outros são livres para escolher quem quiserem.

Se nenhum candidato alcançar a maioria dos delegados em uma única votação, novas rodadas são feitas, com outras regras: inclusão dos chamados “superdelegados” no caso democrata, que podem votar em quem quiser, até o limite de liberar todos os delegados a decidirem seu voto, independentemente dos votos de seu estado.

FERNANDA PERRIN / Folhapress

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