Primeira-ministra da França renuncia após ano político marcado por crises

MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – A primeira-ministra da França, Élisabeth Borne, renunciou ao cargo nesta segunda-feira (8), após enfrentar um ano de turbulências na política. A informação foi confirmada pelo gabinete do presidente francês.

“Senhora primeira-ministra, querida Élisabeth Borne, seu trabalho a serviço da nossa nação tem sido exemplar todos os dias. Você implementou nosso projeto com a coragem, o compromisso e a determinação de funcionários do Estado. De todo o coração, obrigado”, escreveu o presidente da França, Emmanuel Macron, nas redes sociais.

A renúncia ocorre num momento em que Macron busca dar um novo impulso ao seu segundo mandato antes das eleições para o Parlamento europeu, em junho, e das Olimpíadas de Paris, em julho.

O presidente indicou no mês passado que faria uma remodelação do governo, buscando não reorientá-lo politicamente e sim enfocar outros temas. Apesar de não ter maioria absoluta no Congresso, o francês conseguiu aprovar as partes mais desafiadoras do seu projeto econômico no primeiro ano e meio do seu segundo mandato, e espera que suas próximas propostas, que visam por exemplo eliminar o desemprego, reformar a educação e discutir a eutanásia, por exemplo, sejam mais consensuais.

As mudanças acontecem depois de um 2023 marcado por crises políticas impulsionadas por contestadas reformas da Previdência e de leis de migração. Borne, aliás, esteve na linha de frente da primeira, e chegou a ser ameaçada de deposição no ápice das discussões, em março. Conhecida como a “dama de ferro” da França, ela havia sido nomeada em maio de 2022 e foi a segunda mulher primeira-ministra na história do país.

Sem ter maioria absoluta no Congresso, ela utilizou pelo menos 20 vezes o artigo 49.3 da Constituição —que permite que uma lei seja aprovada sem votação— para conseguir a adoção de textos orçamentais. Com isso, ganhou um segundo apelido, de “senhora 49,3”.

Outro importante momento político de Borne como primeira-ministra foi a nova lei da imigração. Impulsionado por Darmanin, das fileiras da direita, o texto marcou uma aproximação sem precedentes entre o Executivo e a extrema direita na França.

O episódio fraturou o partido de Macron e seu governo. Alguns ministros cogitaram a ideia de renunciar se a lei fosse aprovada, incluindo Clément Beaune (Transportes) e Rima Abdul Malak (Cultura). Ao final, apenas Aurélien Rousseau (Saúde) saiu.

Na sua carta de demissão, publicada pela agência de notícias AFP, Borne considerou que é “mais necessário do que nunca continuar as reformas”. “Embora deva apresentar a demissão do meu governo, queria dizer o quanto tenho sido apaixonada por essa missão, guiada pela preocupação constante, que partilhamos, de alcançar resultados rápidos e tangíveis para os nossos cidadãos”.

O gabinete de Macron informou que um novo primeiro-ministro será nomeado na manhã desta terça-feira (9). Segundo a imprensa francesa, os atuais ministros da Educação, Gabriel Attal, 34, e da Defesa, Sebastien Lecornu, 37, estão entre os cotados para substituir Borne.

Qualquer um desses se tornaria o premiê mais jovem da França. “Com um perfil jovem e dinâmico, o primeiro-ministro seria um ativista, o que mostra que a prioridade de Emmanuel Macron são as eleições e não a aprovação de projetos de lei”, avaliou o analista político Benjamin Morel em comentário a Franceinfo.

A remodelação deverá intensificar ainda a corrida dos aliados de Macron para sucedê-lo nas próximas eleições presidenciais, em 2027. São potenciais candidatos os ministros do Interior, Gérald Darmanin, da Economia, Bruno Le Mair, e o ex-primeiro-ministro Edouard Philippe. Marine Le Pen, do partido de ultradireita Reunião Nacional, corre por fora.

IVAN FINOTTI / Folhapress

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