BELÉM, PA (FOLHAPRESS) – Ainda sofrendo as consequências de uma crise do lixo nos últimos anos e palco em 2025 da COP 30, maior conferência climática do mundo, a capital do Pará tem como principais candidatos a prefeito um representante da família Barbalho, um nome apoiado pelo presidente Lula (PT) e um símbolo do bolsonarismo.
Escolhido em março pelo governador Helder Barbalho (MDB-PA), de quem é primo de segundo grau, o deputado estadual Igor Normando (MDB) desponta como o favorito a liderar o primeiro turno na eleição, neste domingo (6), em Belém.
Segundo a pesquisa Quaest de 21 de setembro, Igor tem 42% das intenções de voto, à frente do delegado Éder Mauro (PL), apoiado por Jair Bolsonaro (PL) e com 21%, e do atual prefeito, Edmilson Rodrigues (PSOL), que busca a reeleição e marca 11%.
Outros seis candidatos disputam a eleição, dos quais só três pontuam: Jefferson Lima (Podemos), com 6%, Thiago Araújo (Republicanos), com 5%, e Delegado Eguchi (PRTB), com 1%.
O governo federal monitora a disputa pela participação de Éder, um ícone do bolsonarismo. Lula e o PT apoiam a reeleição do atual prefeito, Edmilson, 67 anos, que tem como vice na chapa o petista Edilson Moura.
O presidente, porém, manteve-se cauteloso durante a campanha. Gravou vídeo e tirou fotos com Edmilson, em material amplamente explorado pelo candidato do PSOL, mas evitou fazer qualquer outro gesto mais enfático de apoio. Isso porque do outro lado está o nome apoiado por Helder, de quem Lula é aliado, e que teve força suficiente para emplacar Belém como a sede da COP 30.
Com ascendência sobre ao menos 17 deputados na Câmara, Helder tem o irmão Jader Barbalho (MDB) como ministro das Cidades. A expectativa do presidente é que os emedebistas, tanto no âmbito estadual como no municipal, apoiem seu governo e o PT na eleição presidencial de 2026.
O atual prefeito, que governa a cidade pela terceira vez, tem 74% de rejeição, de acordo com a pesquisa Quaest. Helder cogitou apoiar Edmilson, mas recuou em razão da taxa de rejeição do prefeito.
Parte da baixa popularidade tem ligação com problemas na área da saúde e com a crise na coleta e na destinação do lixo, que infestou a cidade de resíduos.
Aliados de Edmilson dizem que ele conseguiu reverter a crise na coleta e tem retomado a popularidade na cidade, mas admitem os desafios para a eleição. O prefeito tem se apresentado como experiente e próximo do povo, em contraponto aos adversários. Sua meta é ao menos chegar ao segundo turno.
Igor tenta ganhar o pleito em primeiro turno, mas seu trunfo o torna o principal alvo de ataques.
A bênção de Helder, governador com 67% de avaliação positiva, segundo a última pesquisa Quaest, garante-lhe o favoritismo.
O vínculo com a família, porém, tem sido explorado pelos adversários para dizer que quem administrará Belém de fato será o governador, e não o deputado estadual.
Edmilson e Éder têm batido na tecla de que os Barbalhos querem dominar todo o Pará, ao comandar o estado e a capital, além de terem outros integrantes da família espalhados por tribunais.
À Folha Igor minimiza as críticas e diz que será bom para Belém e para a organização da COP 30 ter uma parceria entre estado e município. “Não estou aqui por relação de parentesco, mas porque tive entregas”, afirma.
Ele tem usado como vitrine de campanha seu trabalho como secretário de Articulação da Cidadania de Helder, entre fevereiro de 2023 e junho de 2024. Na pasta, ele comandou o projeto Usinas da Paz, de complexos que oferecem uma série de serviços à população, desde cursos profissionalizantes a atendimentos médicos.
Aos 37 anos, Igor foi vereador de 2013 a 2019 e depois eleito deputado estadual. Apontado como pouco experiente, é criticado por ter votado contra um projeto que obrigava os ônibus a terem ar condicionado. Sua justificativa à época foi a de que aprovar o projeto levaria a um aumento nas tarifas de ônibus.
A coligação de Igor tem dez partidos, e o vice dele na chapa é Cássio Andrade (PSB), ex-deputado federal.
O terceiro principal candidato, Éder Mauro (PL), 63 anos, teve a presença de Jair Bolsonaro (PL) durante o lançamento de sua candidatura, em julho. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro também esteve na capital para prestar apoio, assim como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL).
Éder agrega os votos do bolsonarismo na cidade. Tem sido criticado pelos adversários pelo histórico de agressividade e por falas negacionistas sobre mudanças climáticas.
A possibilidade de ele ganhar gera temor no governo, tanto por se tratar de um bolsonarista como por representar eventuais retrocessos na pauta climática num ano em que a comunidade internacional estará de olho em Belém.
Diante disso, a estratégia de Éder foi tentar suavizar a própria imagem, colocando, inclusive, um cachorro caramelo como ícone de sua campanha, como mostrou a Folha. Sua candidata a vice é a própria nora, a médica Tatiane Coelho (PL), escolhida para tentar atrair o voto feminino.
JULIA CHAIB / Folhapress