WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Uma eventual prisão do líder opositor Edmundo González pelo regime de Nicolás Maduro significaria uma escalada da crise venezuelana na visão dos EUA, que já vê com preocupação a repressão a líderes da sociedade civil e jornalistas em curso.
A avaliação é do diplomata Kevin Sullivan, responsável por Brasil, Cone Sul e Andes no Departamento de Estado americano. Em entrevista à reportagem, ele evitou antecipar qual será a reação de Washington caso a detenção de González se confirme.
“Você sabe que temos essa ferramenta disponível”, responde, ao ser questionado sobre a adoção de sanções. “Já a utilizamos no passado para responsabilizar indivíduos que violaram direitos humanos ou realizaram esse tipo de repressão. Não posso dizer neste momento exatamente o que faríamos, mas certamente essa é uma das ferramentas que temos disponíveis.”
Na última quarta (28), o Ministério Público da Venezuela convocou González para prestar depoimento. A audiência está marcada para acontecer na sexta-feira (30), às 10h no horário local (11h no Brasil). Se, como nas duas vezes anteriores em que foi convocado, o opositor decidir não comparecer, ele pode ser alvo de um mandado de prisão.
Sullivan afirma que os EUA estão profundamente perturbados pelo que ele vê como uma onda de detenções de líderes políticos, da sociedade civil e jornalistas na Venezuela um reflexo de uma “completa falta de respeito ao devido processo legal” de indiferença ao Estado de Direito, avalia.
O diplomata afirma que as atas eleitorais disponibilizadas pela oposição (84% do total) permitem concluir que González venceu o pleito com o dobro de votos de Maduro. O regime chavista, no entanto, afirma ser o vencedor e se apoia sobre a chancela de seu Tribunal Superior de Justiça, gerando um impasse.
Brasil e Colômbia têm tentado mediar uma saída para a crise, mas, até agora, sem sucesso. Sullivan, no entanto, não vê os esforços despendidos até aqui como um fracasso.
“Maduro realmente tem resistido a quaisquer esforços para promover transparência, não apenas do Brasil e da Colômbia. Ele ignorou nossos pedidos, os da União Europeia e de outras democracias na região”, afirma. “Este é um assunto muito difícil, e estamos felizes em continuar trabalhando com o Brasil e a Colômbia, bem como outros atores-chave na comunidade internacional, para insistir na responsabilização e transparência nas eleições.”
Sullivan disse que os EUA consideraram positiva a recusa de Lula e de outros integrantes do governo brasileiro de se negarem a reconhecer o resultado das eleições sem a devida transparência e divulgação das atas.
“É um sinal claro da insistência do Brasil nas normas democráticas. Esperamos continuar trabalhando com o governo do presidente Lula, com o governo do presidente [Gustavo] Petro na Colômbia e outros líderes regionais para pressionar nosso caso sobre isso, que achamos de fato muito forte”, afirmou.
Questionado sobre os próximos passos, o diplomata destaca o uso de foros internacionais, como a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Assembleia-Geral da ONU, que acontece no final do próximo mês. Ao mesmo tempo, ele diz que o protagonismo é da oposição venezuelana.
“Muitos observadores tendem a olhar imediatamente para a comunidade internacional como a principal protagonista aqui. Mas na verdade, esta é uma história venezuelana, e houve uma liderança extraordinária da oposição venezuelana nesta situação”, afirma.
Sullivan não confirmou relatos de que os EUA teriam oferecido anistia a Maduro e aliados em troca de uma transição de poder na Venezuela.
“Estamos trabalhando com muitos de nossos parceiros internacionais, incluindo o Brasil, para tentar promover transparência eleitoral, já que temos sérias preocupações sobre os resultados oficiais que foram publicados, e também para promover um retorno às normas democráticas na Venezuela”, respondeu.
FERNANDA PERRIN / Folhapress