Processo criminal contra Trump por papéis secretos cresce com novas acusações

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Cresceu no fim da tarde desta quinta-feira (27) a lista de acusações contra o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Desta vez, no processo criminal que já responde por obstrução de Justiça e violações da lei de espionagem envolvendo documentos secretos do governo que ele guardou após deixar a Casa Branca.

São três as novas queixas, que acusam Trump de pedir a um auxiliar para apagar vídeos de câmera de segurança que mostram o armazenamento e a manutenção inadequada dos documentos, além de manter um arquivo ultrassecreto que detalhava um plano de ataque ao Irã -ele chegou a mostrar esse plano a escritores, sem autorização.

Trump já responde a esse caso desde junho, e a acusação federal é liderada pelo Departamento de Justiça do governo Biden. Por isso, o republicano afirma se tratar de uma caça às bruxas para tirá-lo da corrida eleitoral de 2024–ele é o candidato favorito a representar o Partido Republicano. A Casa Branca afirma, porém, que o processo corre em total independência do governo.

A acusação remonta aos documentos que Trump levou para o resort de Mar-a-Lago, na Flórida, após deixar a Casa Branca, em 2021, mas que deveriam ter ficado nos Arquivos Nacionais, em Washington. São milhares de papéis, muitos secretos e ultrassecretos, que eram armazenados nos locais mais improváveis e desprotegidos, como em um salão de festas e num banheiro da residência.

Trump já havia sido denunciado em 37 acusações.

Dessas, 31 por “retenção intencional de informação de defesa nacional”, crime previsto pela lei de espionagem com pena máxima de 10 anos. Houve ainda conspiração para obstrução de Justiça, com pena máxima de 20 anos; retenção de documentos ou registros, 20 anos; ocultação corrupta de documento ou registro, 20 anos; ocultação de documento em investigação federal, 20 anos; esquema para ocultação 5 anos; e falso testemunho, 5 anos.

Um de seus assessores, Walt Nauta, veterano da Marinha, também foi indiciado. Ele apareceu em registros movendo caixas com os arquivos secretos em diferentes ocasiões, a mando de Trump, diz a denúncia.

Nesta quinta-feira, uma terceira pessoa se tornou réu: Carlos de Oliveira, responsável pela manutenção do resort de Mar-a-Lago, arrolado também por obstrução de Justiça por ter ajudado a esconder documentos, segundo os procuradores. Ele é acusado ainda de falso testemunho por mentir aos agentes do FBI.

“Isso nada mais é do que uma tentativa desesperada e contínua da Família do Crime Biden e seu Departamento de Justiça de assediar o presidente Trump e aqueles ao seu redor”, disse o ex-presidente em comunicado após a acusação, referindo-se aos processos que o filho do presidente, Hunter Biden, também responde.

“O enlouquecido Jack Smith [procurador responsável pelo caso] sabe que eles não têm nenhum caso e está procurando uma maneira de salvar sua caça às bruxas ilegal e conseguir que alguém que não seja Donald Trump concorra contra Joe Biden.”

Este é o segundo processo criminal ao qual Trump responde, e as novas acusações chegam enquanto os americanos esperam um terceiro indiciamento, em caso que apura a invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, quando uma multidão de apoiadores tentou impedir à força a confirmação da vitória de Joe Biden nas eleições de 2020.

Trump já foi notificado formalmente de que é investigado no caso e uma acusação formal pode vir a qualquer momento.

Em 4 de abril, ele já havia se apresentado à Justiça de Nova York e se tornou o primeiro ex-presidente da história dos EUA réu por uma acusação criminal, em caso que envolve suposta fraude na compra de silêncio de uma atriz pornô.

Esses processos andam enquanto o ex-presidente disputa as primárias republicanas, junto ainda de outros casos civis. Ele responderá em outubro a acusações civis de fraude na Justiça nova-iorquina junto à sua família por supostamente inflar o valor de suas empresas em busca de benefícios financeiros, num processo tocado pela procuradora Letitia James. Em janeiro, deve responder a outro processo civil, por difamar a escritora E. Jean Carroll, que o acusa de estupro.

Em março, começa o julgamento de sua primeira acusação criminal, a de falsificar registros comerciais para esconder o esquema da compra de silêncio de uma atriz pornô na campanha de 2016. Em 20 de maio começam as audiências do caso dos documentos secretos.

Até aqui, porém, os processos não afetaram sua pretensão de voltar à Casa Branca. A mais de um ano das eleições, ele aparece na maior parte das pesquisas empatado com Biden no cenário em que os dois disputam a eleição.

Entenda o caso dos documentos secretos

Trump virou réu devido ao caso dos papéis sigilosos que ele levou para seu resort na Flórida após deixar a Casa Branca, em 2021, mas que deveriam ter ficado nos Arquivos Nacionais em Washington.

Poucas semanas após a posse de Biden, o governo já havia contatado Trump para tratar dos documentos. Em janeiro de 2022, o republicano entregou 15 caixas aos Arquivos Nacionais, com 197 papéis sigilosos, 30 dos quais ultrassecretos. Segundo o FBI, um acesso não autorizado a esse material poderia “resultar em dano à segurança nacional”, com documentos apontando “fontes clandestinas” que poderiam descrever operações e técnicas de agentes de inteligência no exterior.

Assim, autoridades pediram uma investigação formal sobre o manuseio dos documentos. Em agosto de 2022, uma operação do FBI em Mar-a-Lago apreendeu cerca de 13 mil documentos que não haviam sido entregues, e cem deles estavam marcados como confidenciais. Trump nega quaisquer irregularidades e afirma ter retirado o sigilo dos documentos ao deixar o governo, mas não há registro disso.

Trump abriu os documentos secretos a pessoas sem credenciais de segurança em pelo menos duas ocasiões. Em julho de 2021, no Trump National Golf Club, em Nova Jersey, deu entrevista a um escritor, um editor e dois funcionários em que mostrou e detalhou um plano de ataque ao Irã que disse ter sido preparado pela Defesa americana.

Na conversa, ele reconhece que as informações eram confidenciais. “Como presidente, eu poderia ter retirado a classificação, mas agora não posso mais, mas isso ainda é um segredo”, diz ele.

Em outra conversa, que a denúncia diz ter ocorrido em agosto ou setembro de 2021 no mesmo clube, ele mostrou a um apoiador político um mapa confidencial de uma operação militar e disse que não deveria compartilhar aquela informação.

Segundo a denúncia, os documentos estavam guardados de forma descuidada em diferentes locais, de um escritório, um depósito e o quarto do republicano até um salão de festas e um banheiro. Entre janeiro de 2021 e agosto de 2022, quando ocorreu a operação, houve mais de 150 eventos em Mar-a-Lago, incluindo casamentos, estreias de filmes e encontros de arrecadação de fundos, com milhares de pessoas que poderiam ter tido acesso aos documentos, segundo os promotores.

A denúncia por violação da lei de espionagem não quer dizer que Trump era um espião, mas essa legislação inclui, na seção 793, a “coleta, transmissão a uma pessoa não autorizada ou perda de informações pertencentes à defesa nacional e a conspirações”.

A investigação partiu do Departamento de Justiça, mas o rosto mais conhecido acabou sendo o de Jack Smith, 54, procurador nomeado em novembro do ano passado –quando a apuração já estava em curso– para supervisionar os processos envolvendo Trump na esfera federal.

Smith fez carreira no Departamento de Justiça e, até voltar como conselheiro especial em novembro, atuava como procurador-chefe do Tribunal de Haia, investigando crimes de guerra no Kosovo.

THIAGO AMÂNCIO / Folhapress

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