RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O novo presidente da Vale, Gustavo Pimenta, disse a analistas de mercado que sua gestão terá como focos o aumento da produção de cobre, mineral necessário para a transição energética, e uma melhor relação com o governo, para eliminar pendências de gestões anteriores, segundo relatório do Itaú BBA.
O executivo assumiu a Vale no início deste mês, após conturbado processo de sucessão que ganhou contornos políticos com a pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para indicar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.
Ele ocupava a vice-presidência financeira da mineradora e foi escolhido após análise de uma lista de 15 nomes entregue pela consultoria internacional Russell Reynolds, contratada pela Vale para auxiliar no processo de sucessão.
A solução interna era defendida pela Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, e pelo representante dos trabalhadores no conselho da companhia, André Viana, como uma alternativa para atender a anseios de acionistas e do governo.
Em relatório sobre encontro de Pimenta com analistas, o Itaú BBA diz que o presidente da Vale afirmou estar pessoalmente envolvido em uma agenda institucional para melhorar o relacionamento com públicos de interesse da empresa, principalmente o governo.
Para o banco, a disposição é fundamental para reduzir pendências de curto prazo da empresa, como a renegociação das concessões ferroviárias e o acordo para reparação dos danos da tragédia de Mariana (MG), em 2015.
No primeiro caso, o governo espera receita maior do que o acordo fechado sob o governo Jair Bolsonaro (PL). O segundo é um dos principais pontos de atrito da companhia com o governo, que reclama da demora na conclusão das negociações.
Nos últimos meses, a empresa foi alvo recorrente tanto do presidente Lula quanto do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que chegou a reclamar das dificuldades de negociar com uma empresa “acéfala”.
O antecessor de Pimenta, Eduardo Bartolomeo, era criticado até internamente pela dificuldade de relacionamento com governo e outros agentes envolvidos nas duas pendências. A solução desses temas pode levar a empresa a rever suas metas de endividamento.
Do ponto de vista operacional, relata o Itaú BBA, Pimenta disse a analistas que uma das prioridades é reduzir riscos ao crescimento da produção de minério de ferro. Nesse sentido, o plano é ampliar a produção e não despejar no mercado volumes superiores à capacidade de consumo.
No segmento de minerais da transição energética, um dos focos de crescimento da companhia para os próximos anos, a prioridade seria ampliar a produção de cobre. A meta, diz o banco, é chegar a 500 mil toneladas por ano em 2028. Em 2023, foram 326 mil toneladas.
O crescimento tanto no minério quanto no cobre pode se dar por meio de parcerias e aquisições, disse Pimenta, segundo o relato do Itaú BBA.
Outro foco seria a redução de custos, segundo os analistas do banco. Pimenta disse que a meta é reduzir o custo de produção do minério para abaixo de US$ 20 por tonelada, contra US$ 25 por tonelada registrados no terceiro trimestre de 2024.
O executivo já havia sinalizado a conselheiros a disposição de enxugar a estrutura da companhia. Esta semana, promoveu sua primeira mudança no alto escalão da mineradora, com a dispensa do vice-presidente de Soluções de Minério de Ferro, Marcelo Spinelli.
Rogério Nogueira, atual diretor de Desenvolvimento de Produtos e Negócios da Companhia, assumiu o cargo interinamente.
NICOLA PAMPLONA / Folhapress