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Professora de MC Cabelinho exalta relevância do conhecimento racial

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – MC Cabelinho já tinha fama, sucesso na música e na televisão, joias brilhantes no pescoço e milhões de fãs nas redes. Mas, nos últimos anos, decidiu buscar algo que não havia encontrado nos palcos nem nos estúdios: a própria história. Para isso, recorreu à professora e filósofa Katiúscia Ribeiro, 44, doutora em filosofia africana, com quem iniciou uma jornada de aprendizado e consciência racial.

O que começou como um contrato de seis meses, com aulas de uma hora por semana, virou uma parceria duradoura e transformadora. “Hoje temos duas aulas por semana, quase o dia inteiro”, conta Katiúscia à Folha de S.Paulo. “E já não é só aula. É uma relação que envolve escuta, troca e construção conjunta. O conhecimento não vem só de mim.”

Victor Hugo Oliveira, conhecido como MC Cabelinho, contou em entrevista ao “Conversa com Bial” que largou os estudos ainda jovem. Criado no morro Pavão-Pavãozinho, na zona sul do Rio, ele se viu obrigado a trabalhar desde cedo para ajudar em casa. Escolheu viver, e mais tarde se encontrou na música. Mas sempre sentiu que algo estava em falta.

Com a ascensão na carreira artística, veio também a possibilidade de olhar para trás. Foi então que procurou Katiúscia, já reconhecida por sua atuação acadêmica no Brasil e no exterior. Ela aceitou o convite e, desde então, vem ajudando o cantor a compreender as camadas da história negra que não aparecem nos livros escolares tradicionais.

“História é poder. E o reconhecimento possibilita às pessoas construírem poder para si, para suas narrativas”, afirma ela. “A história da população negra não começa no século XV com a chegada da colonização. Ela começa em tempos imemoriais, como eu falo nas aulas de filosofia.”

Na casa do artista, as aulas ganharam um espaço físico: ele montou uma sala com quadro, carteira, apostilas, mesa. Dali nasceu o projeto “Intelecria”, um termo criado por Katiúscia para nomear o tipo de saber que vem da periferia. “Contei que ele possuía o intelecto dos crias, algo genuíno de quem veio de baixo e que está buscando reconstruir sua própria história.”

Esse resgate pessoal mexeu com o artista —e com quem o cerca. Segundo Katiúscia, o cantor convidou sua equipe e familiares a também participarem das aulas. “Ele começou a entender também por que teve que parar de estudar muito cedo para trabalhar. Ele entende como as estruturas de violência e de negação por muitas vezes afetaram o seu passado”, reflete.

Para ela, compreender a realidade social é um passo essencial para todos os famosos. “É importante que as pessoas compreendam a dimensão de violência que foi produzida —e é produzida diariamente— no país. Estudar sobre racialidade é extremamente importante para todas as pessoas, sobretudo para as pretas, porque elas conseguem ver como estão no contexto brasileiro.”

Depois da entrevista de Cabelinho a Bial, em que menciona o impacto da professora em sua vida, outras pessoas se interessaram em estudar com Katiúscia. “Essas pessoas que estão na mídia têm um impacto, uma ampliação de pautas que são importantes e relevantes para o contexto da realidade atual.”

Além de Cabelinho, Katiúscia já deu aulas ou participou de diálogos formativos com nomes como Lázaro Ramos, Djonga, Lellê, Santana, Vitão e Mano Brown —com quem gravou o podcast Mano a Mano. Emicida, que a considera uma das vozes mais potentes da intelectualidade negra contemporânea, também já mencionou publicamente sua importância.

Ela finaliza afirmando que a vida não lhe deu filhos biológicos, mas que sua relação com Cabelinho (a quem chama pelo nome de batismo, Victor) é de mãe e filho. “Já disse que ele pode me contar tudo, ser o mais transparente possível, para que eu o conheça”.

Hoje, não o vê apenas como um ex-aluno, mas como um verdadeiro multiplicador. Para ela, Victor representa esperança. Vê-lo seguro e consciente da própria trajetória e reforça a crença de que é possível mudar narrativas e reescrever o que foi silenciado.

ADRIELLY SOUZA / Folhapress

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