Uma professora de 25 anos foi demitida da rede municipal de ensino de Praia Grande, litoral de São Paulo, após contar para uma aluna, por mensagens de WhatsApp, que havia beijado um estudante de 14 anos.
Em conversas enviadas ao celular de uma colega do jovem, a professora narra com detalhes as circunstâncias de seu envolvimento com o aluno. Nos textos, ela diz que o havia beijado e que queria “transar com ele”.
“Amiga, preciso te contar um grande segredo. Não vou contar para ninguém, só para você, porque confio muito. Peguei o [nome do adolescente]”, escreve a professora em uma conversa com a aluna. “Mas agora vem a pior parte. Quero transar com ele. Só o beijo não deu conta”, comenta em outra mensagem.
O beijo, conta a professora nas mensagens, não ocorreu na unidade de ensino, mas na casa dela, após ter encontrado com o adolescente e um amigo no mercado.
A menina, surpresa com o comportamento da professora, decidiu contar à diretoria da escola o que estava acontecendo, e mostrou as mensagens, o que ocorreu em setembro.
Passados alguns dias, a diretoria da escola chamou a aluna e a colocou diante da professora, para confirmar, na frente dela, as acusações. A partir daí, tanto a menina quanto o outro aluno, seu melhor amigo, passaram a sofrer ameaças de estudantes da escola, amigos do adolescente envolvido com a professora.
Sem intervenção da diretoria da unidade, as ameaças foram adiante e se concretizaram em agressões contra o amigo da aluna denunciante, ocorridas no dia 14 de novembro.
Três estudantes, incluindo o jovem envolvido com a professora, bateram no garoto, que permanece internado em um hospital da cidade após ser ferido na região genital.
A professora lecionava artes na escola municipal Vereador Felipe Avelino Moraes, no bairro Vila Caiçara, e estudante de 14 anos, cursa o 9° ano do Ensino Fundamental.
DENÚNCIA E ACAREAÇÃO
Ao UOL, o advogado Thiago Rodrigues afirmou que a mãe do garoto, Helena Cristina Andria, 51, o procurou para pedir auxílio jurídico. E entregou os prints das conversas entre a professora e a aluna que a delatou para a direção da escola.
“A menina nos contou que a professora a tinha como uma ‘amiga’, a quem confessava segredos”, explica Rodrigues. “A partir do momento em que ela decidiu delatar o comportamento da professora à diretoria, sendo acareada com ela, o que é um absurdo, os estudantes passaram a oprimir a jovem e o meu cliente começou a defendê-la, o que gerou ainda mais atrito”, contou.
Segundo o advogado, a primeira agressão ocorreu em setembro, os pais foram à escola, pediram uma atitude da diretoria, mas nada foi feito. Rodrigues declara que a obrigação da unidade seria acionar o Conselho Tutelar e o Ministério Público.
“A professora foi desligada, mas o caso não foi adiante. Daí as agressões continuaram e culminaram com a agressão ocorrida no dia 14, à qual meu cliente ainda se recupera no hospital”, afirma o advogado.
Um boletim de ocorrência foi aberto pela mãe do adolescente, por ameaça e lesão corporal, por conta das agressões, e a polícia abriu inquérito para apurar as circunstâncias e a motivação.
Rodrigues afirma que ingressará com uma denúncia no Ministério Público (MP) para apuração da conduta da professora e da diretoria da unidade de ensino.
A prefeitura de Praia Grande foi procurada para se pronunciar o caso, mas até o momento não havia respondido aos questionamentos.
“Estou muito revoltada, abalada com tudo o que aconteceu. Não foi meu filho que denunciou a professora, foi a amiga dele. Meu filho está com medo, não quer voltar à escola, não quer fazer as provas de final de ano. Quero justiça. Que cada um pague pelo que fez, seja pela omissão, pela agressão. Eu temo pela vida do meu filho. Um dos agressores disse que eu estava chegando na porta da delegacia, mas que o certo era eu chegar na porta do cemitério. Isso é ameaça de morte”, disse Helena Cristina Andria, mãe do adolescente agredido.
MAURÍCIO BUSINARI / Folhapress