Professores dos EUA pedem revisão de reportagem sobre violência sexual do Hamas

BOA VISTA, RR (FOLHAPRESS) – Cerca de 60 professores de jornalismo e mídia de universidades dos Estados Unidos pediram em carta ao publisher do The New York Times, A.G. Sulzberger, que o jornal reúna um grupo de especialistas independentes para revisar o processo de produção e publicação de uma reportagem do veículo sobre violência sexual cometida pelo Hamas no 7 de Outubro.

Um porta-voz do New York Times afirmou, em comunicado, que o jornal revisou o trabalho e que o texto cumpriu os padrões editoriais da empresa.

A reportagem, publicada em 28 de dezembro do ano passado, tem relatos detalhados de estupros, abusos e assassinatos feitos por testemunhas, integrantes do Exército israelense, criminalistas e participantes das primeiras equipes de emergência que recolheram corpos. O Hamas nega as acusações de que seus integrantes cometeram atos do tipo.

Assinam a carta professores da Universidade Nova York, Universidade do Texas em Austin, Universidade do Sul da Califórnia, Universidade da Pensilvânia e da Universidade George Washington, entre outras.

“À luz da eliminação da função de editor público [ombudsman] em 2017, recomendamos que o New York Times estabeleça imediatamente um grupo de especialistas em jornalismo para conduzir uma completa e minuciosa revisão dos processos de reportagem, edição e publicação dessa história”, diz o texto.

A carta, à qual o jornal The Washington Post teve acesso, questiona principalmente o papel preponderante na produção do texto de dois dos repórteres, Anat Schwartz e Adam Sella, que seriam, segundo reportagem do site The Intercept mencionada pelos professores, freelancers inexperientes e com relações familiares entre si. O site diz ainda que Schwartz teria trabalhado, no passado, no setor de inteligência da Força Aérea israelense.

Entre os repórteres, apenas Jeffrey Gettleman é um funcionário fixo do jornal –experiente na cobertura de conflitos e direitos humanos e vencedor de prêmio Pulitzer, segundo seu perfil no site. A reportagem do New York Times é assinada pelos três profissionais.

Ainda citando o texto do Intercept, a carta afirma que Schwartz e Sella teriam feito a maior parte do trabalho de campo, ficando em larga medida sob Gettleman a responsabilidade de escrever a reportagem.

Os professores afirmam ainda que é importante que o jornal esclareça os processos pelos quais os jornalistas freelancers foram avaliados e contratados e como o trabalho deles chegou à capa do jornal.

“Parece que uma confiança extraordinária foi concedida a essas pessoas, e o Times se beneficiaria de explicar publicamente as circunstâncias que justificaram confiança tão incomum em freelancers para uma história tão importante”, diz a missiva.

Outro ponto levantado pelos docentes é uma conversa de Gettleman com Sheryl Sandberg, uma ex-diretora da Meta, empresa dona do Facebook, em um evento ao vivo, no qual ele teria afirmado que “não queria nem usar a palavra evidência” para se referir a detalhes da história, “porque evidência é quase como um termo legal que sugere que você está tentando provar uma acusação ou um caso em um tribunal”.

“O jornal pode ‘estabelecer’ fatos se seu próprio repórter não considera as informações ‘evidências’?”, diz a carta dos professores, que aponta ainda para a adição de uma atualização no texto ponderando um dos relatos apresentados e afirmando que evidências em vídeo contestam o que havia sido afirmado.

Não houve, no entanto, retratação formal desse episódio específico, segundo os docentes. O jornal publicou uma reportagem, no mesmo dia da atualização, em que registra a nova evidência e contestação. No texto original, um parágrafo entre colchetes foi adicionado com um resumo do caso.

A carta relembra ainda momentos em que o jornal passou por escrutínio semelhante e adotou medidas específicas de transparência sobre seus processos de trabalho e eventuais erros. Em 2004, por exemplo, na sequência da Guerra do Iraque, o New York Times reconheceu que dependeu em excesso de “pessoas cujas credibilidades foram objeto crescente de discussão no debate público”.

“O impacto de possíveis erros, na profissão e no mundo, às vezes parece tão enorme ou profundo que os líderes na Redação devem considerar uma resposta extraordinária”, diz a carta. “Com base nos relatos que têm circulado sobre a história recente, acreditamos que esta é uma ocasião para isso.”

Redação / Folhapress

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