Proibição de glitter na Europa produz pouco avanço na prática

LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) – Em vigor desde o fim do ano passado, as restrições da União Europeia ao glitter e aos microplásticos nos cosméticos ainda são pouco perceptíveis no dia a dia dos cidadãos. Como as novas regras preveem um período de adaptação para fabricantes e lojistas, na prática, as mudanças ainda são sutis.

O regulamento da Comissão Europeia mira partículas de plásticos e o tipo mais comum de glitter, feito com PET (polietileno tereftalato). A comercialização do material em pó solto foi banida em 18 de outubro, mas os produtos que já haviam sido adquiridos pelas empresas “podem continuar a ser vendidos até o fim dos estoques”.

Os cosméticos enxaguáveis têm até outubro de 2027 para se adaptarem às novas regras. Para os sem enxágue, o prazo é até 2029.

No universo da maquiagem e de cosméticos para lábios e unhas, o prazo é até outubro de 2035. No entanto, a partir de 2031, para que eles continuem sendo vendidos, será obrigatório informar no rótulo que os produtos têm microplásticos.

Graças a esse período de transição e adaptação, as mudanças ainda são pouco sentidas pela população.

Em Portugal, onde também existem celebrações de Carnaval –embora em escala bastante inferior à do Brasil–, os foliões não têm dificuldades para encontrar purpurinas, incluindo a versão em pó solto.

As novas regras da União Europeia miram apenas os microplásticos. O glitter feito com materiais como vidro e metal, ou com ingredientes naturais ou biodegradáveis, não estão abrangidos na proibição.

Embora continue a haver outras opções disponíveis, o temor de desabastecimento fez com que algumas pessoas comprassem quantidades maiores de purpurinas e de seus produtos brilhosos favoritos.

Na Alemanha, as vendas de glitter aumentaram antes da mudança na regulação. Nas redes sociais, celebridades, sobretudo influenciadores digitais e personalidades ligadas ao universo de reality shows, chegaram a anunciar que estavam “estocando” os pozinhos coloridos.

Em entrevista ao jornal Bild, Sam Dylan, ex-participante do Big Brother local, revelou que, ao saber da proibição, correu para comprar o maior quantidade possível do produto. Em apenas uma loja, ele diz ter comprado 82 frascos de purpurina.

Dylan criticou o posicionamento da União Europeia, enquanto outros países, como os Estados Unidos, seguem utilizando livremente o material. “A Europa não pode salvar o mundo sozinha. O resto do mundo está rindo de nós e fazendo exatamente o oposto.”

Ainda que as mudanças possam diminuir o brilho de algumas produções, a poluição por microplásticos, que contamina ecossistemas terrestres e marinhos, é considerada um problema grave por especialistas.

Todos os anos, cerca de 42 mil toneladas de microplásticos intencionalmente adicionados são liberados na União Europeia. Com o novo regulamento, a expectativa é de impedir que cerca de meio milhão de toneladas dessas substâncias cheguem ao ambiente.

Para atingir esse objetivo, os reguladores europeus foram além da purpurina, banindo o uso de microplásticos de vários tipos. A definição de microplásticos utilizada foi ampla, abrangendo todas as partículas de polímero sintético com menos de 5 mm insolúveis e resistentes à biodegradação.

Nos cosméticos, o banimento vai muito além dos itens brilhosos.

“Os microplásticos são utilizados na cosmética para múltiplas finalidades, como esfoliação ou obtenção de uma textura, fragrância ou cor específica. A proibição aplica-se imediatamente a cosméticos que contenham microesferas, ou seja, pequenas esferas de plástico utilizadas para esfoliação”, explica a comissão.

Para os demais produtos, há prazos de 4 a 12 anos “dependendo da complexidade, da necessidade de reformulação e da disponibilidade de alternativas adequadas”.

As mudanças afetam ainda o setor esportivo, que também terá um prazo para adaptações às regras.

Maior fonte de liberação para o ambiente de microplásticos adicionados, o enchimento granular usado nas superfícies esportivas artificiais será banido.

“A proibição aplica-se após oito anos, para dar aos proprietários e gestores dos campos o tempo para mudarem para outras alternativas e para permitir que a maioria dos campos desportivos existentes cheguem ao fim da sua vida útil.”

Ainda que muitos cientistas defendam o banimento do glitter, há uma parte da academia que considera que o potencial benéfico da mudança é pequeno, sendo necessárias muitas outras medidas adicionais para conter o avanço da poluição com partículas de plástico.

Em entrevista ao New York Times, o professor do Instituto de Ciências Marinhas da Virgínia Rober Hale afirmou que o glitter representa “muito menos de 1% dos microplásticos que poluem o meio ambiente”, destacando que a proibição do produto pode ter algum impacto, mas que “realmente não resolve o problema”.

GIULIANA MIRANDA / Folhapress

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