RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O Ministério Público de Goiás instaurou procedimento para apurar um vídeo em que policiais militares aparecem cantando uma música que incita violência.
Na gravação, um grupo de policiais do COD (Comando de Operações de Divisas) em treinamento aparece marchando sem sair do lugar enquanto canta em coro. A letra fala de assassinato e caça à testemunha.
“Matar o bandido, acende uma vela, bota ele na mala, eu vou para estrada velha. Eu tenho uma notícia e um corpo baleado. E a testemunha, aponta o caçador. Eu quero a testemunha na sexta-feira à tarde. Eu ‘tô’ de viatura, caçando esse covarde. Se eu pego, eu atiro sem dó nem compaixão. Minha emoção é zero, o verdadeiro inferno”, diz trecho da canção.
A gravação foi divulgada nesta sexta-feira (21) pelo site Metrópoles. Procurada pela Folha, a Polícia Militar não se manifestou até esta publicação.
Também procurado pela reportagem, o governo de Goiás disse, em nota, que “respalda o trabalho das tropas de segurança no estado com investimentos para que as forças de segurança prestem um serviço de excelência e com a devida atenção para eventuais excessos que sejam identificados e corrigidos”.
O executivo afirmou ainda que Goiás registrou queda em todos os indicadores criminais, nos três primeiros meses de 2024, em relação ao mesmo período do ano passado. “Segundo o Observatório de Segurança Pública, a queda nos índices de homicídio, por exemplo, foi de 24%”, destacou.
A apuração do Ministério Público será conduzida pela Área Criminal do Centro de Apoio Operacional da Promotoria e pelo Gaesp (Grupo de Atuação Especial do Controle Externo da Atividade Policial).
“Foi instaurada uma notícia de fato para apuração e acompanhamento da situação à qual se refere a citada reportagem”, disse a Promotoria, em nota, informando ainda que notificou a auditoria militar.
O órgão também ressaltou que recentemente foi firmado um termo de cooperação com as forças de segurança para melhorar os cursos de formação dos militares. Isso foi feito, segundo a nota, para garantir a participação da Promotoria nos cursos das polícias e também que elas participem dos cursos de formação do Ministério Público, com horas mínimas.
Segundo o Metrópoles, o vídeo teria sido feito durante um Curso de Operações de Divisas, quando o comandante do batalhão era o tenente-coronel Edson Melo, conhecido como Edson Raiado.
O militar ganhou notoriedade após participar das operações de busca pelo serial killer Lázaro Barbosa, em Brasília, em 2021. O oficial se declara assassino de Barbosa e chegou a escrever um livro sobre seu envolvimento nas ações.
Em julho do ano passado, recebeu a Medalha da Ordem do Mérito Tiradentes no grau Grande-Oficial, concedida pelo governador de Goiás Ronaldo Caiado (União Brasil), de quem é ex-chefe de segurança.
Procurado pela Folha, Caiado não comentou a proximidade com o tenente-coronel Edson Melo nem o conteúdo do vídeo.
Recentemente, o policial militar decidiu se afastar de suas atividades para assumir a segurança particular do pré-candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PRTB, Pablo Marçal.
Após a repercussão do vídeo nesta sexta, o político usou as redes sociais em defesa de Melo. “Decidiram atacar esse policial honrado (Edson Melo) só porque ele parou a vida dele para proteger a minha vida e a minha família”, escreveu em uma publicação, pedindo para que seus seguidores também demonstrem apoio ao policial.
O tenente-coronel da PM também se manifestou nas redes sociais com vídeos em que aparece recebendo a honraria do governador. “Não ligo de ter inimigos grandes, pois esses se opõe [sic] somente a guerreiros extremamente fortes!”, escreveu.
Além de sua atuação como policial e segurança, Melo concorreu como candidato a deputado federal de Goiás pelo Avante, em 2022. O oficial, no entanto, teve 19.811 votos e não conseguiu se eleger.
Durante a campanha eleitoral, se envolveu em situações polêmicas, como quando publicou um vídeo usando uma máscara de caveira e segurando um facão. Na gravação, ele simula uma decapitação e faz alusão a ações violentas. O material foi considerado propaganda eleitoral irregular e o agente teve que tirar o vídeo do ar após determinação judicial.
ALÉXIA SOUSA / Folhapress