PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – Cinco pessoas foram presas nesta quarta-feira (11) no Rio Grande do Sul e em São Paulo em uma operação contra a adulteração de leite em uma indústria de laticínios Dielat em Taquara (RS), na região metropolitana de Porto Alegre.
De acordo com o MP-RS (Ministério Público do Rio Grande do Sul), o esquema de adulteração incluía o uso de soda cáustica, água oxigenada e outros produtos químicos. Segundo a investigação, também havia embalagens com sujeira no lado de dentro e com pelos.
Dentre os detidos está o químico Sérgio Alberto Seewald, que já havia sido alvo, em 2014, da quinta fase da operação, acusado de envolvimento com a adição dos mesmos produtos químicos em uma indústria de laticínios na cidade de Imigrante (RS). A Justiça ainda não confirmou o nome de todos os suspeitos presos.
De acordo com a investigação, Seewald é conhecido como mago do leite e alquimista. Segundo a Promotoria, ele está impedido pela Justiça de trabalhar no setor de laticínios, mas foi contratado pela empresa para assessorar a produção de leite UHT e derivados.
Em nota, o escritório do advogado Nicholas Horn, que faz a defesa de Seewald, disse que o químico não tem relação formal ou informal com a empresa Dielat. “Trata-se, pois, de uma criação de fatos por parte do Ministério Público, que não enseja a verdade. Todas as medidas necessárias para a sua soltura estão sendo tomadas, desde já”, diz o texto.
O órgão disse que Seewald foi alvo de uma medida cautelar da Justiça de Teutônia, no vale do Taquari, e aguarda há dois anos por uma tornozeleira eletrônica.
“Era para ele estar usando tornozeleira eletrônica, era para sair a condenação dele da Leite 5”, disse o promotor de Justiça Mauro Rockenbach, da Promotoria de Justiça Especializada Criminal de Porto Alegre, em comunicado divulgado pela promotoria.
“Mas, enquanto essas questões básicas não ocorrem, o que ele faz? Adultera leite e pior, aprimora seus mecanismos de ação, já que tem a fórmula exata da quantidade de soda cáustica para uma quantidade exata de litros de leite, fazendo com que os ajustes não sejam detectados nos exames”, afirmou o comunicado.
A soda cáustica é utilizada em esquemas de fraude para adulterar o PH do leite e diminuir sua acidez. A água oxigenada é utilizada para impedir a proliferação de bactérias e micro-organismos, aumentando a vida útil do produto.
Também foram detidos o diretor-administrativo da empresa, um supervisor e um sócio-proprietário da indústria, preso em sua casa em São José do Rio Preto (SP). Além dos quatro alvos, uma funcionária foi presa em flagrante por enviar mensagens a outros colegas pedindo que escondessem celulares.
Também foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão em Taquara, Parobé, Três Coroas, Imbé e na capital paulista.
Segundo a Promotoria, os produtos da Dielat são distribuídos para o comércio nacional e também na Venezuela. A promotoria diz que aguarda mais exames para determinar quais lotes de produtos estão contaminados.
A reportagem tentou contato com a Dielat, mas não obteve resposta até a publicação desse texto. A empresa desativou os perfis nas redes sociais logo após a operação.
O Sindilat (Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados) afirmou, em nota, que repudia qualquer tipo de adição indevida ao leite. “O leite gaúcho hoje é o mais fiscalizado do Brasil, procedimentos regrados por legislações federal e estadual em diferentes instâncias e órgãos de controle, a exemplo do Ministério da Agricultura, Anvisa, Secretaria da Agricultura, entre outros. Todas as cargas que chegam às empresas passam por testes físico-químicos em diferentes etapas do processo produtivo e os resultados estão constantemente à disposição das autoridades.”
Esta é a 13ª fase da operação Leite Compen$ado, que começou em 2013 após a revelação de um esquema que envolvia a mistura de água, soda cáustica e ureia com formol.
Naquele ano, fiscais do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) queimaram 6,2 toneladas de leite em pó adulterado encontradas em uma outra empresa de laticínios também sediada em Taquara.
A última fase da operação havia ocorrido em 2017. A Promotoria informou que, desde então, houve apenas duas denúncias de adulteração de leite no estado, e em uma quantidade muito baixa para viabilizar uma nova etapa.
Agora, 11 anos após sua deflagração, a operação resultou na condenação de mais de 20 pessoas à prisão, levou a uma maior fiscalização da cadeia produtiva de leite no Rio Grande do Sul e precedeu uma série de outras investigações do tipo.
Em 2014, um esquema de adulteração foi descoberto no oeste de Santa Catarina, na região de Chapecó. O grupo adicionava soda cáustica, água oxigenada e citrato de sódio ao leite para mascarar sua qualidade e aumentar a durabilidade. Em 2022, 17 pessoas foram condenadas pelo caso.
Também em 2022, um grupo criminoso foi desarticulado em Uberaba (MG). Na ocasião, foram apreendidos 500 litros de leite adulterado, soda cáustica, diesel e sulfato de amônia.
CARLOS VILLELA / Folhapress