Propaganda na TV, bolsonarismo e voto útil explicam segundo turno em BH

BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – O resultado das eleições em Belo Horizonte, que levou ao segundo turno o deputado estadual Bruno Engler (PL) e o atual prefeito, Fuad Noman (PSD), deu uma mostra da força da direita na capital mineira e da importância das inserções de rádio e TV na disputa.

Não à toa, os dois que lideraram o pleito no primeiro turno foram aqueles que concentraram os maiores tempos durante o bloco de propaganda eleitoral e também os que tiveram mais inserções publicitárias. O fator é considerado como essencial no processo de reversão do desconhecimento deles junto à população.

A primeira pesquisa Datafolha sobre a corrida eleitoral em BH, publicada em 5 de julho, mostrava que Fuad, apesar de ser prefeito há dois anos, era desconhecido por 48% da população. Já Engler, que foi o deputado estadual mais votado em Minas em 2022, apresentava desconhecimento junto a 65% do eleitorado.

As semelhanças entre eles, porém, param por aí. Bruno Engler, 27, foi o candidato mais jovem a concorrer à prefeitura e apresentou os maiores índices de engajamento nas redes sociais.

Ele aproveitou da força nesse campo de expoentes da direita no estado, como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) e o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos). Com domicílio eleitoral em Divinópolis, Cleitinho é filiado ao partido de Mauro Tramonte (Republicanos), mas desde a pré-campanha apoia o nome do PL.

Ajudou também a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em um comício de Engler em setembro, além de atos a favor do impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que reuniu outros quadros da direita pelo país. A última agenda antes do primeiro turno, no sábado (5), contou com a presença do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

Em discurso ainda quando restava cerca de um terço das urnas a serem apuradas, Engler agradeceu o apoio de Bolsonaro e concentrou suas críticas no atual prefeito. Também deixou as portas abertas para receber o apoio do governador Romeu Zema (Novo), que apoiou Tramonte, do próprio candidato do Republicanos e também de Gabriel (MDB), que ficou em quarto na disputa.

“A gente está disposto a conversar com todo mundo que não seja de esquerda. Vamos continuar apontando as falhas da atual administração”, afirmou, no domingo (6).

Já Fuad, 77, o mais velho entre os candidatos, teve como principal trunfo as propagandas na TV e rádio, que foram bem-sucedidas ao ligá-lo às obras em andamento na cidade.

Ausente da maioria dos debates, o prefeito também aproveitou as inserções para rebater as críticas dos opositores. Foram comuns propagandas com as defesas de que “falar, até papagaio fala” e de que os ataques não eram direcionadas a ele, mas sim à cidade.

Na reta final, o nome do PSD se aproveitou de um movimento de voto útil motivado pelo baixo desempenho das candidaturas de esquerda nas pesquisas de intenção de voto.

Nos programas de TV nas últimas semanas, a campanha de Fuad colocou Engler e Tramonte como candidatos de direita e que não teriam diálogo com o presidente Lula (PT). O mandatário esteve ausente na campanha na cidade, apesar de ter aparecido em programas eleitorais de Rogério Correia (PT).

Em discurso após a confirmação de que iria ao segundo turno, Fuad agradeceu o apoio dos cinco partidos -além do seu PSD- que o garantiram a vice-liderança no tempo de TV.

“Estou muito feliz, muito alegre, com muita responsabilidade nas costas, porque agora são dois. Antes era 6 a 1, agora é só 1 contra 1”, disse.

Na terceira posição, Tramonte apareceu na liderança das pesquisas eleitorais na maior parte da campanha, mas perdeu força na reta final -movimento também captado pelos levantamentos.

Aliados do apresentador de TV ligam o resultado aos ataques dos adversários contra o então líder das pesquisas e à “polarização”, ao lembrar que o candidato do Republicanos não quis relacionar sua imagem nem a Bolsonaro nem a Lula.

“Essa desconstrução [dos adversários] no fundo embaralhou a mente do próprio eleitor. Ele dizia ‘vem cá, o Mauro é de direita ou de esquerda’? Sempre deixamos claro que o Mauro foi uma pessoa de centro, uma pessoa de diálogo”, disse Gilberto Abramo, deputado federal e presidente municipal do Republicanos após o resultado no último domingo.

Pessoas do entorno de Tramonte e aliados de Zema, porém, também atribuem a derrota ao apoio e presença constante do ex-prefeito Alexandre Kalil (sem partido) na campanha.

Eles afirmam que o apoio de Kalil a Lula em 2022 e a gestão dele durante a pandemia atraíram uma forte rejeição do ex-prefeito junto ao eleitorado de direita, que poderia optar por Tramonte mas pode ter preferido Engler.

ARTUR BÚRIGO / Folhapress

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