Proposta de aliança com ultradireita na França fratura conservadores; esquerda tenta se unir

BOA VISTA, RR (FOLHAPRESS) – A sugestão de uma aliança entre o partido conservador Republicanos e o ultradireitista Reunião Nacional (RN) na França abriu uma crise na legenda fundada pelo ex-presidente Nicolas Sarkozy e embola as negociações no campo da direita.

O atual líder da sigla, Eric Ciotti, afirmou que um acordo com os radicais era necessário para evitar que a esquerda conquiste maioria na Assembleia Nacional. A composição atual da Casa foi dissolvida pelo presidente do país, Emmanuel Macron, no domingo (9), após vitória avassaladora do RN na eleição ao Parlamento Europeu.

“Uma aliança com o RN, com seus candidatos. Uma aliança à direita, com todos que têm ideias e valores de direita”, disse Ciotti em uma entrevista ao canal TF1. “O Republicanos é muito frágil para se opor aos dois blocos mais perigosos”, disse ele ainda, em referência à esquerda e ao bloco governista.

Nas horas seguintes, uma avalanche de críticas de seu próprio partido mostrou que a estratégia não terá caminho fácil na curta campanha ao pleito, cujo primeiro turno está previsto para o próximo dia 30, e pode custar a liderança da legenda a Ciotti.

Valérie Pécresse, candidata do partido à Presidência em 2022, disse que o eventual acordo com o RN significa “vender a alma”. O presidente do Senado, Gérard Larcher, e a vice-presidente dos Republicanos, Florence Portelli, afirmaram que Ciotti deve renunciar ao cargo de presidente da legenda após a sugestão de aliança com o RN.

O presidente do RN, Jordan Bardella, diz que sua legenda apoiará deputados dos Republicanos nas eleições legislativas, sem entrar em detalhes sobre as negociações. Uma reunião dos Republicanos está prevista para a tarde desta quarta (12), no horário local.

Enquanto isso, o próprio RN se equilibra entre seus valores radicalmente à direita e a tentativa de moderar sua imagem.

“Para construir uma aliança e uma maioria, é preciso confiança. Considero, no entanto, que as posições de Eric Zemmour ao longo da campanha europeia, os insultos que dirigiu à Reunião Nacional e as posições por vezes muito excessivas que ele pode adotar impedem as condições para um acordo”, afirmou Bardella, em referência ao líder do Reconquista.

O partido é ainda mais radical em suas posições à direita, e teve Marion Maréchal, sobrinha de Marine Le Pen, como nome principal no pleito europeu. Maréchal havia dito mais cedo que o RN “mudou de posição e recusou um princípio de acordo”, após ela se reunir com Le Pen e Bardella.

Do outro lado do espectro político, a esquerda anunciou a formação de uma “frente popular” pouco depois de conhecer os resultados do escrutínio europeu. O Partido Socialista, a França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon, o Partido Comunista e os ecologistas decidiram que vão unificar o apoio em um único candidato por distrito eleitoral.

O nome da aliança pode parecer genérico no campo gauche, mas remete à Frente Popular dos anos 1930, coalizão de agremiações de esquerda que conseguiu eleger a maioria do Parlamento em oposição ao crescimento do fascismo na França e no continente.

Não há ainda, no entanto, qualquer definição sobre as negociações internas à nova coligação, que concorreu fragmentada nas eleições europeias justamente em razão da falta de concordância em temas tão divergentes quanto a reforma da previdência e o posicionamento ante a guerra Israel-Hamas.

Diante do cenário caótico, alguns ministros do governo vindos da centro-direita se opõem ao irresistível movimento aos polos extremos do espectro político na tentativa de criar uma “frente republicana”, ao centro, caracterizando a coalizão de esquerda como liderada pela França Insubmissa, vista como mais radical em relação aos socialistas.

“Mais do que nunca, acreditamos que entre a frente popular da França Insubmissa e a Frente Nacional da extrema direita, existe um caminho por uma frente republicana”, escreveram seis ministros do atual governo, entre eles Gérald Darmanin (Interior), Bruno Le Maire (Economia) e Sébastien Lecornu (Forças Armadas), todos do partido do presidente Emmanuel Macron.

Macron, por sua vez, descarta renunciar qualquer que seja o resultado das eleições legislativas. Uma vitória ampla de qualquer uma das coligações à direita ou à esquerda pode significar um restante de mandato em coabitação, termo usado na política francesa para quando um presidente precisa governar ao lado de um premiê opositor.

“As instituições são claras e o lugar do presidente é claro, seja qual for o resultado”, disse Macron em entrevista publicada pela Figaro Magazine nesta terça. Nesta quarta, ao meio-dia, o presidente deve conceder uma entrevista coletiva.

GUILHERME BOTACINI / Folhapress

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