SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O PRTB, que lançou o coach Pablo Marçal para a Prefeitura de São Paulo, convidou a médica bolsonarista Nise Yamaguchi (União Brasil) para ser a vice na chapa. A composição, porém, depende do aval da União Brasil, que deve apoiar o prefeito Ricardo Nunes (MDB).
A informação foi confirmada à Folha pelo presidente do PRTB, Leonardo Avalanche, e por aliados de Nise.
Marçal marcou 7% na pesquisa Datafolha publicada nesta quarta-feira (29).
Ele, que é formado em direito e se apresenta nas redes sociais como investidor e escritor, tem atraído o voto da direita bolsonarista, apesar de o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ter declarado apoio a Nunes.
O convite a Nise, médica que ficou conhecida por sua defesa de medicamentos sem eficácia contra a Covid-19, reforça o aceno à direita bolsonarista. Nise chegou a ser indiciada pela CPI da Covid.
Filiada à União Brasil, caso não possa ser vice de Marçal, ela vai disputar uma vaga na Câmara Municipal.
Segundo aliados da médica, ela tem vontade de ser vice na chapa e já levou o convite para avaliação do líder local da União Brasil, Milton Leite, presidente da Câmara Municipal. Milton, porém, tem dito estar comprometido com a reeleição de Nunes.
“Isso está no âmbito de uma decisão partidária. A União Brasil está discutindo nesse momento, então a situação é bem incipiente. Fui suplente do Pablo Marçal para deputado federal. Somos pessoas próximas, que sempre querem o bem dos outros”, afirmou Nise à Folha.
“A questão ainda precisa ser muito ponderada, já que o União Brasil está na base de apoio do Ricardo Nunes. É uma discussão muito mais ampla das conjunturas todas, que envolve um conjunto de pessoas e de posicionamentos”, completa a médica.
Entusiastas da médica afirmam que a chapa Marçal-Nise teria muito potencial na eleição.
Segundo Leonardo Avalanche, o PRTB também conversa com outros partidos e tem outras opções de vice. Ele afirma que Nise é “uma amiga”, mas que não há nada definido.
Em 2022, Nise concorreu ao cargo de deputada federal por São Paulo pelo Pros, mas não foi eleita. Ela recebeu 36.690 votos e tornou-se a primeira suplente de sua sigla.
A pesquisa Datafolha mostra o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) com 24%, enquanto Nunes marca 23%.
Há um grande empate no segundo pelotão. Nele estão o apresentador José Luiz Datena (PSDB) com 8%, a deputada federal Tabata Amaral (PSB, 8%) e Marçal (7%). Em um patamar numérico pouco abaixo vêm Marina Helena (Novo) e Kim Kataguiri (União Brasil), ambos com 4%.
Sem Datena e Kim, Marçal chega a 9%, empatado com Tabata.
O levantamento foi realizado na segunda (27) e na terça (28) com 1.092 eleitores. A margem de erro é de três pontos para mais ou menos. O trabalho foi contratado pela Folha e está registrado na Justiça Eleitoral sob o número SP-08145/2024.
Conhecido por ser palestrante motivacional e coach, Marçal tem mais de 10 milhões de seguidores no Instagram.
O coach se notabilizou em janeiro de 2022 por ter liderado uma expedição por uma área montanhosa em São Paulo, a 2.420 metros acima do mar, como parte de seu programa de coaching motivacional.
Depois de enfrentarem chuvas e ventos fortes, sob risco de morte por hipotermia, elas tiveram que ser resgatadas pelo Corpo de Bombeiros.
Essa não é a primeira vez que ele tenta entrar na política. Em maio de 2022, Marçal se lançou pré-candidato à Presidência da República pelo Pros, bancado pela antiga direção do partido que, como mostrou a Folha em reportagens, esteve sob suspeita de ter tentado comprar decisões judiciais favoráveis.
Ao ver inviabilizada sua candidatura à Presidência, Marçal passou a apoiar Bolsonaro e se lançou a deputado federal, tendo obtido 243 mil votos. A direção do partido acabou sendo afastada e o Pros, sob novo comando, aderiu formalmente à campanha de Lula (PT).
Em 30 de outubro de 2022, o então ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Ricardo Lewandowski indeferiu o registro de candidatura do coach para a Câmara dos Deputados.
Em 2010, Marçal foi condenado por participar de uma quadrilha que desviou dinheiro de bancos em meados de 2005, quando tinha 18 anos.
O grupo criava sites falsos de instituições financeiras como a Caixa e o Banco do Brasil, disparava emails acusando vítimas falsamente de inadimplência e roubava informações infectando computadores com programas conhecidos como cavalos de Troia.
Marçal admitiu que colaborou com o grupo, mas disse que não tinha conhecimento dos atos ilícitos. Sua pena foi extinta em 2018 por prescrição retroativa.
CAROLINA LINHARES E GUILHERME SETO / Folhapress