SALVADOR, BA, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Partido que comandou o estado de São Paulo por 28 anos, o PSDB registrou uma queda de 84% no número de candidatos a prefeito no estado em sua primeira eleição fora do Palácio dos Bandeirantes após quase três décadas.
Dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) apontam que o PSDB terá 64 candidatos a prefeito no estado de São Paulo nas eleições deste ano. Em 2020, quando o partido tinha o então governador João Doria, foram 407 candidatos a prefeito nos 645 municípios do estado.
Também houve queda no número de candidatos a vice-prefeito, que saiu de 278 para 100 no estado, e de candidatos a vereador, que caiu de 7.989 há quatro anos para os atuais 3.192
A queda vertiginosa nas candidaturas em São Paulo coincide com a crise enfrentada pelo partido, que perdeu o posto de protagonista da oposição aos governos do PT após a ascensão do bolsonarismo.
Nacionalmente, o PSDB teve a maior queda no número de candidaturas a prefeito, em números absolutos, dentre os partidos brasileiros – eram 1.332 candidatos a prefeito em 2020 e são 710 neste ano, uma redução de 47%.
Na avaliação do presidente nacional do PSDB, o ex-governador de Goiás Marconi Perillo, a derrota em São Paulo foi determinante para a queda brusca no número de postulantes a prefeituras.
“Quando você tem o governador, é sempre muito mais fácil [ter candidatos] porque os prefeitos querem ficar à sombra do poder estadual”, avalia Perillo.
Ele destaca que o PSDB cresceu em número de candidatos a prefeito no Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Pernambuco, os três estados comandados por governadores do partido.
O estado com maior número absoluto de candidatos a prefeito do PSDB será Minas Gerais, onde o partido é controlado pelo ex-presidenciável e deputado federal Aécio Neves -são candidaturas em 134 cidades. Na sequência, vem o Rio Grande do Sul, do governador Eduardo Leite (PSDB), com 80 candidaturas.
Proporcionalmente, o estado com mais candidatos tucanos é Mato Grosso do Sul, comandado pelo governador Eduardo Riedel. Serão 64 candidatos a prefeito em 79 municípios.
Em São Paulo, o cenário foi de revoada de prefeitos desde a eleição do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em 2022. O resultado colocou fim à mais longa sequência, desde a redemocratização, de um mesmo partido no comando de um estado -o PSDB estava no poder em São Paulo desde a eleição de Mário Covas, em 1994.
Na eleição de 2020, o partido elegeu 172 prefeitos em São Paulo. Depois inflou para 238 até 2022, sob o comando de Doria e Rodrigo Garcia, e teve uma queda vertiginosa a partir de 2023 -atualmente, tem apenas 28 prefeituras no estado.
A saída dos prefeitos se deu, principalmente em direção ao PSD, partido comandado por Gilberto Kassab, secretário estadual de Governo e principal articulador político de Tarcísio. Com as migrações partidárias, o PSD se tornou a legenda com maior número de prefeitos do Brasil.
Outro fator determinante para a perda de espaço nos municípios foi a redução da bancada na Câmara dos Deputados. Em 2022, o PSDB saiu das urnas com apenas 13 deputados federais, desempenho que resultou em uma perda de recursos do fundo eleitoral e do tempo de propaganda na televisão.
Diante desde cenário, avalia Marconi Perillo, o número de candidatos a prefeito em 2024 é considerado relativamente expressivo: “Eu diria que fomos heróis porque, com 13 deputados, você não tem nem deputado para ajudar os prefeitos. Quando você tem deputado, eles cuidam das bases deles e viabilizam candidatos”.
Ele afirma que o PSDB está confiante em uma retomada a partir das eleições de 2026, quando a meta é ao menos dobrar a bancada de deputados federais. Antes disso, diz Perillo, o partido precisa se ancorar em seu nome e sua história para atravessar o período mais crítico.
“Eleição de prefeito é importante, é necessária, mas é um meio para que a gente possa voltar a crescer e nos transformar em um partido forte e competitivo novamente”, avalia ele.
O partido também pretende atrair outros partidos para sua federação, que hoje inclui apenas o PSDB e o Cidadania.
O cenário para a retomada não deve ser fácil. Este ano, o PSDB terá apenas sete candidatos a prefeito nas capitais, número reduzido em comparação com a eleição passada, quando foram 12 candidaturas, com 3 prefeitos eleitos -Palmas, Natal e Porto Velho.
O PSDB vai para a disputa ancorado em alianças amplas em Campo Grande, Vitória, Palmas e Florianópolis. Mas enfrenta um cenário de isolamento em São Paulo, Macapá e Goiânia.
Na capital paulista, a escolha do apresentador José Luiz Datena como candidato a prefeito dividiu o partido, que ficou isolado e enfrenta dissidências de apoiadores do prefeito Ricardo Nunes (MDB). Em Goiânia, o partido lançou uma chapa pura liderada pelo jornalista Matheus Ribeiro.
JOÃO PEDRO PITOMBO E MARINA PINHONI / Folhapress