PT aposta em tirar do PL prefeitura de cidade com maior queda de população no Brasil

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O PT vai usar a gestão de Maricá como atrativo para conquistar o eleitorado dos municípios vizinhos na região leste do Rio de Janeiro. O partido aposta alto em São Gonçalo, cidade que mais perdeu população no país em termos percentuais, e Itaboraí, sede do antigo Comperj.

Pré-candidatos querem emplacar a ideia de que as cidades podem ser ‘novas Maricás’.

Um obstáculo é a discrepância econômica, já que Maricá recebe boa fatia de royalties do petróleo e tem orçamento bem maior.

A atual distribuição dos royalties do petróleo rendeu a Maricá R$ 1,3 bilhão em 2023. São Gonçalo e Itaboraí receberam R$ 27 milhões cada uma. Em compensação, São Gonçalo, a partir de 2021, recebeu R$ 904 milhões pela privatização da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos), bem mais do que as outras duas.

Outro desafio a ser enfrentado pelos petistas é a tendência à direita da região. Prefeitos do PL administram São Gonçalo (Capitão Nelson) e Itaboraí (Marcelo Delaroli), cidades em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) venceu no segundo turno das eleições de 2022. Bolsonaro também venceu em Maricá.

PT e PL estão certos de que o debate nas cidades será nacionalizado.

O PT fluminense escolheu como pré-candidatos quadros considerados fortes internamente. O deputado federal Dimas Gadelha (PT-RJ) vai tentar novamente a cadeira em São Gonçalo. Ele foi o mais votado no primeiro turno de 2020, mas perdeu no segundo para Capitão Nelson (PL), policial militar reformado.

Em Itaboraí, a pré-candidata é a deputada estadual Zeidan (PT), que tem base política em Maricá.

Quaquá (PT-RJ) completa o trio de apostas petistas na região. Ele comandou Maricá por dois mandatos, de 2009 a 2017, foi sucedido pelo aliado Fabiano Horta (PT) e é pré-candidato a prefeito novamente.

A ideia das pré-campanhas petistas é dizer que, a despeito da diferença orçamentária, as cidades podem implementar projetos que funcionaram em Maricá, como a moeda social e o transporte rodoviário municipal gratuito.

“São Gonçalo perdeu uma janela de oportunidade com os recursos da venda da Cedae, os royalties do petróleo e recursos do orçamento federal. O investimento feito hoje na cidade é asfalto sem preocupação com drenagem, políticas que não mudam a vida das pessoas a médio e longo prazo”, afirma o deputado federal Dimas Gadelha (PT-RJ), pré-candidato em São Gonçalo.

Já o PL fluminense avalia que a base conservadora do eleitorado é capaz de sustentar as reeleições. O partido quer comunicar durante a campanha o impacto da diferença de orçamento entre os municípios.

“Nosso argumento é o trabalho que fizemos em quatro anos com 10% do orçamento de Maricá. Eles se passam por mentirosos. Maricá tem R$ 7 bilhões de orçamento, nós temos R$ 700 milhões”, afirma o prefeito de Itaboraí, Marcelo Delaroli (PL).

Delaroli tentou a prefeitura de Maricá em 2008, 2012 e 2016, mas foi derrotado.

Em números absolutos, São Gonçalo é a terceira cidade do Brasil que mais perdeu população na comparação entre o Censo de 2010 e o de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), atrás de Salvador e Rio de Janeiro. Quando o recorte é a queda percentual, São Gonçalo fica no topo da lista.

São Gonçalo tem 896.744 habitantes pelo Censo de 2022, 10,3% a menos do que em 2010.

Em contrapartida, a vizinha Maricá é a nona cidade do país com o maior aumento percentual de população, considerando municípios com pelo menos 100 mil habitantes. Parte da população de São Gonçalo se mudou para Maricá.

São Gonçalo tenta uma fatia maior na divisão dos royalties do petróleo. O município pleiteia a inclusão na zona de produção petrolífera sob a alegação de que recebe os impactos ambientais da exploração dos campos de petróleo tanto quanto os municípios limítrofes (Rio de Janeiro, Niterói e Maricá). Magé e Guapimirim também querem ser incluídos.

O trio de cidades chegou a conseguir redistribuição em 2022, mas, em outubro de 2023, sofreu revés em decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça), sob o argumento de que haveria perdas financeiras relevantes nos orçamentos de Rio, Niterói e Maricá.

Já Itaboraí vive a frustração com a paralisação das obras no antigo Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), em 2015. O projeto do complexo petroquímico, agora chamado de Polo GasLub, foi alvo da Operação Lava Jato e havia sido desidratado pelas gestões anteriores.

Em maio, a Petrobras anunciou processo de licitação para obras de construção e conclusão de unidades do Polo GasLub. A estimativa é que até 10 mil postos de trabalho sejam abertos, diretos e indiretos, ao longo das obras.

Itaboraí tentou emplacar a circulação dos ‘laranjinhas’, ônibus municipais gratuitos inspirados nos ‘vermelhinhos’ que circulam gratuitamente em Maricá. A Justiça do Rio, no entanto, proibiu a circulação após pedido de uma empresa rodoviária do município. Itaboraí tenta reverter.

“Fizemos moeda social, ônibus de graça. Trouxe o que deu certo [de Maricá] e o que é possível. Vim para Itaboraí com essa mentalidade e não escondi de ninguém: sou Marcelo Delaroli de Maricá”, afirma o prefeito de Itaboraí.

YURI EIRAS / Folhapress

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