SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – Após meses de negociações para unificar a base do governador Jerônimo Rodrigues (PT) nos principais municípios baianos, o PT desistiu de apresentar candidato próprio em Salvador e vai apoiar o vice-governador Geraldo Júnior (MDB) na disputa pela prefeitura em 2024.
A decisão foi anunciada nesta quinta-feira (21) após reunião do conselho político formado por líderes dos oito partidos da base do governador.
“Salvador, este lugar de povo trabalhador, merece o melhor. Os soteropolitanos precisam de um projeto que cuida de gente, que entende que a cidade é para todos, turistas e moradores. E meu amigo e companheiro de trabalho Geraldo Júnior é o representante ideal desse projeto”, afirmou Jerônimo.
Os deputados estaduais Robinson Almeida (PT) e Olívia Santana (PC do B), que haviam sido lançados pré-candidatos pelos seus respectivos partidos, declinaram da disputa em prol da união da base.
Geraldo Júnior deve polarizar a disputa com o prefeito Bruno Reis (União Brasil), que disputa a reeleição para tentar solidificar nas urnas uma hegemonia de dez anos do grupo liderado pelo ex-prefeito ACM Neto na capital.
Nesse cenário, a tendência é de uma disputa polarizada entre os dois principais grupos políticos do estado. O PSOL também terá candidato próprio: na semana passada, confirmou a candidatura do policial civil e sindicalista Kleber Rosa e vai tentar atrair o eleitorado de esquerda.
Com 54 anos, Geraldo Júnior é advogado e radialista e foi vereador em Salvador por quatro mandatos e presidente da Câmara. Ingressou na política seguindo os passos do pai, que também foi vereador na capital baiana.
Foi aliado de Bruno Reis e ACM Neto, de quem chegou a ser secretário municipal. Em 2022, chegou a anunciar apoio ao ex-prefeito na eleição para governador da Bahia, mas rompeu com o aliado para compor a chapa com Jerônimo, então secretário estadual de Educação.
Sua adesão ao grupo governista e ascensão ao posto de vice foi articulada em 2022 pelo senador Jaques Wagner com irmãos Geddel e Lúcio Vieira Lima, ex-deputados que controlam o MDB da Bahia.
Em uma plenária do PT no último domingo (17), Wagner declarou em entrevista à imprensa sua predileção pelo emedebista, mas disse que a escolha não seria imposta e demandaria negociação com os demais partidos.
“É pública a minha simpatia pelo nome de Geraldo Júnior. […] Ele foi presidente da Câmara de Vereadores, tem intimidade com os problemas da cidade de Salvador, é um cara bom de campanha. Acho ele um bom nome”, afirmou
A escolha de Geraldo Júnior também representa uma vitória de Jaques Wagner na disputa interna com o ministro da Casa Civil, Rui Costa. Ao longo do ano, Costa sinalizou a aliados sua preferência pela pré-candidatura de José Trindade (PSB), presidente da estatal Conder.
Em setembro, contudo, Trindade desistiu da candidatura após o PT reafirmar o nome de Robinson Almeida. Ele alegou problemas de saúde, mas aliados confirmam que o movimento do PT foi determinante para que ele saísse da disputa. Desde então, Rui se afastou das articulações em Salvador.
Nos últimos meses, a disputa havia afunilado entre Robinson Almeida e Geraldo Júnior. Pesou na decisão do PT em abdicar da disputa em Salvador o fato de ter candidaturas consideradas mais competitivas em cidades do interior como Feira de Santana, Vitória da Conquista, Camaçari e Juazeiro.
A desistência em Salvador foi descrita como um sinal de que o partido não terá uma postura hegemônica e que valoriza os partidos aliados. Para isso, contudo, foi necessário contornar insatisfações internas, sobretudo dos candidatos a vereador do PT, que defendiam candidatura própria.
O desafio, a partir de agora, será construir uma candidatura competitiva para enfrentar Bruno Reis, que é considerado favorito para a disputa e terá aliança ampla, com partidos como PDT e Republicanos.
O prefeito negocia a adesão do PL de Jair Bolsonaro. O partido lançou a pré-candidatura do ex-ministro João Roma, mas a tendência é de aliança com Reis e prioridade na eleição de vereadores.
Com uma gestão sem sobressaltos, mas sem grandes marcas, Reis trabalha para consolidar sua liderança até a eleição. Seu principal trunfo é um grupo político azeitado e com capilaridade na cidade. O histórico joga a seu favor: desde 2000, todos os prefeitos de Salvador foram reeleitos.
Adversários, por outro lado, preveem uma disputa dura, com chances reais para a oposição. Avaliam que a gestão tem problemas em áreas como saúde, urbanismo e transporte público urbano.
A participação do presidente Lula (PT) no palanque de Geraldo Júnior ainda é dúvida. Nacionalmente a União Brasil faz parte da base aliada e indicou três ministros, mas o presidente tem um histórico de rusgas com ACM Neto. Em maio, em evento em Salvador, chamou o adversário pelo apelido pejorativo “grampinho”.
Com a desistência em Salvador, o PT consolida a estratégia de priorizar os colégios eleitorais em que tem mais chances em 2024. Depois de não ter eleito nenhum prefeito em 2020, o partido vai apoiar aliados em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Belém.
Por outro lado, deve centrar forças nas capitais onde tem candidaturas competitivas, casos de Fortaleza, Porto Alegre, Teresina e Natal.
JOÃO PEDRO PITOMBO / Folhapress