Pularam de lancha para escapar de navio em Santos

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Marinheiros que resgataram duas mulheres que pularam de uma lancha à deriva no canal de navegação do Porto de Santos contam como foi a operação.

Mãe e filha, de 81 e 51 anos, estavam na embarcação em uma área de risco no canal de navegação do porto da cidade. A filha pilotava a lancha no momento em que o motor parou, na tarde de sábado (7).

A pequena embarcação estava no trajeto de um navio de grande porte que se preparava para sair do porto. O navio-tanque de produtos químicos/petróleo construído em 2018, o NM Bow Precision, com quase 180 metros de comprimento, estava sendo manobrado naquele momento e seguia bem na direção da lancha. A aproximação do navio causou pânico nas tripulantes da lancha. Apavoradas, as mulheres se atiraram na água. A lancha ficou no meio do canal, uma área crítica onde o desvio de grandes embarcações é limitado. A cena foi gravada com celulares e viralizou nas redes sociais.

Profissionais da praticagem foram acionados e iniciaram o resgate em menos de dois minutos. Liderada pelo prático Vinicius de Mello Batalha, a operação contou com o apoio de marinheiros experientes e motonautas, além de funcionários do serviço de balsas. Os práticos são pilotos de navios, “manobristas” extremamente especializados, que assumem o comando dos navios na entrada e saída do porto.

A filha foi resgatada por uma embarcação próxima e a mãe foi levada em segurança para uma balsa que faz a travessia Santos-Guarujá. Com o tanque totalmente sem combustível, a lancha foi levada para uma marina no Guarujá.

Ao UOL, Batalha contou que percebeu o risco iminente durante a manobra. Ele solicitou ao navio que emitisse apitos para alertar a lancha, mas a embarcação continuou imóvel. Ele teve de guiar o navio ao máximo dentro das limitações do canal.

“Quando vi o barco mudando de proa, achei que estava saindo, mas, conforme o navio avançava, percebi que o barco não se movia e os apitos soaram novamente. Ao perceber que a lancha não se movia, guinei ao máximo o navio -águas rasas nas laterais do canal dificultam manobras mais amplas- para evitar o abalroamento [colisão]”, disse Vinícius de Mello Batalha.

O desvio foi suficiente, segundo o prático, mas a situação poderia ter sido pior. Ele diz que o resultado poderia ter sido desastroso caso se tratasse de um dos grandes navios de contêineres frequentes no Porto de Santos.

“Colegas verificaram que não havia combustível [na lancha], então rebocaram até o posto de combustível da Marina Astúrias. Elas disseram que pularam na água mesmo sem coletes salva-vidas, porque se apavoraram ao ver navio se aproximando”, disse Vinícius de Mello Batalha.

SEQUÊNCIA DE FALHAS

Batalha apontou falhas cometidas pela mulher de 50 anos, que pilotava a lancha. Ele diz ter estranhado a falta de comunicação pelo rádio após a lancha “perder motor”. Ela tampouco realizou os gestos específicos que sinalizam socorro em comunicação náutica e também não gritou por socorro para os passageiros da balsa que passava por perto.

Os práticos alertam que nem sempre as embarcações pequenas seguem a regra de tráfego. Perto da balsa e até a saída do canal, próximo à Fortaleza da Barra, ficam muitas embarcações que deveriam navegar pela margem, deixando o canal livre para quem precisa de profundidade. “Felizmente, nada de mais grave ocorreu e mais uma vez a praticagem pôde auxiliar no salvamento de pessoas no mar”, comentou o presidente da praticagem, Fabio Mello Fontes.

PULANDO NA ÁGUA

José Carlos de Lima, 58, marítimo há 17 anos, conta que estava na lancha da praticagem quando foi acionado via rádio para a emergência. A mensagem foi enviada por Batalha, que manobrava o navio no momento do incidente. “A filha, que pilotava a lancha, relatou que iria sair da Marina Astúrias para abastecer no Iate Club, mas no meio do percurso a lancha parou de funcionar”, contou. O procedimento foi tirar a embarcação do meio do canal, puxando a lancha delas com a corda amarrada na da praticagem.

Lima disse que estranhou que elas tivessem pulado no mar, ainda mais sem coletes salva-vidas. A recomendação é nunca pular na água em uma emergência, a não ser em último caso. “Elas deveriam ter ficado na lancha. E, em último caso, pular. Mas com o salva-vidas, sempre”, disse.

“Poderia ter acontecido uma tragédia. Por exemplo, se uma delas tivesse cãibras nas pernas dentro d’água, a outra ia tentar salvar e poderia ter acontecido o pior”, disse José Carlos de Lima.

A praticagem alerta para a necessidade de manutenção e treinamento. Durante o verão, o movimento de pequenas embarcações aumenta, muitas vezes com tripulantes inexperientes e embarcações com pouca manutenção. “É crucial seguir as regras de tráfego e estar preparado para emergências”, diz Fontes.

Em nota, a Marinha do Brasil, por meio da Capitania dos Portos de São Paulo, informou que uma equipe da Capitania foi enviada ao local para coletar informações e iniciar as apurações sobre o ocorrido. “Um inquérito administrativo foi instaurado para investigar as causas do incidente e possíveis responsabilidades.”

A Capitania reforça a importância da manutenção preventiva das embarcações e do cumprimento das normas de segurança náutica, como o uso de coletes salva-vidas. A população pode reportar emergências náuticas e informações relevantes por meio do telefone 185.

A Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística confirmou o incidente. Em nota, afirmou que, por volta das 14h de sábado (7), equipes operacionais do Departamento Hidroviário resgataram as duas passageiras “que pularam da lancha envolvida na ocorrência com um navio de grande porte. Após o resgate, a dupla foi conduzida até uma embarcação particular”.

O UOL tentou contato com as mulheres resgatadas do mar, mas elas não quiseram conceder entrevista. A Marina Astúrias também foi procurada, mas não enviou seu posicionamento.

Redação / Folhapress

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