PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – Em entrevista por escrito à agência chinesa Xinhua, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse apoiar o que chamou de esforços de Pequim pelo fim da guerra na Ucrânia. Putin chegará nesta quinta (16) a Pequim para encontrar o líder chinês, Xi Jinping.
Afirmou, segundo o relato, que a China “entende claramente as razões da crise da Ucrânia e seu impacto geopolítico global” desde o início e que isso se reflete nos quatro princípios levantados por Xi há um mês, para buscar uma solução do conflito.
“As medidas [propostas por Xi] se baseiam na ideia de que precisamos renunciar à ‘mentalidade de Guerra Fria’ e garantir a segurança indivisível e o respeito ao direito internacional e à Carta das Nações Unidas em sua totalidade”, escreveu Putin.
“Nunca nos recusamos a negociar. (…) Estamos buscando uma solução abrangente, sustentável e justa por meios pacíficos para esse conflito. Estamos abertos a um diálogo sobre a Ucrânia, mas essas negociações devem levar em conta os interesses de todos os países envolvidos no conflito, incluindo o nosso.”
Os quatro princípios foram anunciados por Xi ao receber em Pequim o chanceler (primeiro-ministro) da Alemanha, Olaf Scholz. “Em primeiro lugar, devemos priorizar a manutenção da paz e da estabilidade e nos abster de buscar ganhos egoístas”, falou o líder chinês.
“Segundo, devemos arrefecer a situação e não colocar lenha na fogueira. Terceiro, temos de criar condições para o restabelecimento da paz e de nos abster de exacerbar ainda mais as tensões. Quarto, devemos reduzir o impacto negativo na economia mundial e nos abster de comprometer a estabilidade das cadeias industriais e de abastecimento globais.”
Na semana passada, o enviado de Pequim para buscar saídas para a crise ucraniana, Li Hui, visitou Turquia, Arábia Saudita e Egito, entre outros, visando costurar apoio às propostas chinesas. Também manteve contato, com o mesmo propósito, com os governos de Brasil, Indonésia, Cazaquistão e África do Sul.
Entre as medidas que teriam alcançado “acordo amplo” entre os consultados estão o esforço de convencer Rússia e Ucrânia a não ampliar os confrontos para mais regiões e a buscar condições para o diálogo direto. Também teria havido concordância na “oposição ao uso de armas nucleares e aos ataques a instalações nucleares pacíficas”.
Por outro lado, também na semana passada, Putin anunciou exercícios com armas nucleares no momento em que Xi iniciava uma visita à França, em que um dos temas foi exatamente a discussão de saídas para a guerra. O presidente francês, Emmanuel Macron, vem ameaçando enviar soldados à Ucrânia.
Na entrevista à Xinhua, o líder russo saudou “o nível sem precedentes da parceria estratégica” com a China e citou especificamente a “cooperação estratégica em desenvolvimento no setor de energia, trabalhando em novos projetos de grande escala”. Foi uma referência ao gasoduto Power of Siberia 2, que levaria para a China o gás hoje voltado à Europa.
Descrevendo as duas economias como complementares, Putin acrescentou que o fornecimento de produtos agrícolas russos ao mercado chinês “está mostrando dinâmica positiva”, as iniciativas de investimento e produção estão sendo implementadas e os corredores de transporte estão operando sem problemas “e crescendo”.
Sobre o líder chinês, afirmou que, desde que se encontraram pela primeira vez, em 2010, conversa regularmente com Xi, que “mantém um estilo de comunicação respeitoso, amigável, aberto e, ao mesmo tempo, empresarial”.
Sobre sua relação com a China, escreveu: “Sei um pouco sobre suas artes marciais, incluindo Wushu, que é muito popular em nosso país. Também tenho respeito pela filosofia chinesa. Meus familiares também estão interessados na China, e alguns deles estão aprendendo chinês”.
NELSON DE SÁ / Folhapress