SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em meio ao temor de uma nova disparada no preço dos alimentos como consequência da Guerra da Ucrânia, o presidente russo, Vladimir Putin, prometeu nesta quinta-feira (27) abastecer países da África com milhares de toneladas de grãos. A Rússia, disse o líder, ainda arcará com o custo do transporte.
Putin anunciou as doações na abertura de uma cúpula em São Petersburgo com a participação de líderes africanos. Trata-se de um esforço do presidente para demonstrar ao mundo que tem aliados, apesar do isolamento como consequência à ofensiva no país vizinho, em curso há mais de 500 dias, e a escalada de tensão após o fim do acordo de exportação de grãos pelo mar Negro, que impacta principalmente a África.
O pacto, em parceria com a ONU e a Turquia, assegurava o trânsito das exportações ucranianas. Mas a Rússia deixou o acordo no último dia 17 sob a justificativa de que a contrapartida ao arranjo não era respeitada o Kremlin exige a facilitação para a exportação de grãos e fertilizantes russos apesar dos embargos internacionais que afastaram grandes seguradoras de navios com produtos de Moscou.
O acordo possibilitou em um ano o transporte de quase 33 milhões de toneladas de cereais dos portos ucranianos, o que ajudou a estabilizar os custos dos alimentos e evitar o risco de desabastecimento. Com o fim do pacto, o preço global dos produtos deve subir de 10% a 15%, segundo projeção do FMI (Fundo Monetário Internacional). Países da África são os que mais dependem da importação de grãos da Ucrânia.
“Nos próximos meses podemos garantir embarques gratuitos de 25 mil a 50 mil toneladas de grãos para Burkina Faso, Zimbábue, Mali, Somália, República Centro-Africana e Eritreia”, disse Putin em discurso transmitido na televisão russa, sem entrar em detalhes.
Putin é acusado por países do Ocidente de usar os alimentos como arma no conflito do Leste Europeu. As críticas foram reiteradas pelo secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, nesta quinta. Ele disse que os líderes africanos devem exigir respostas à crise dos grãos que impacta sobretudo os países mais pobres.
“Eles sabem exatamente quem é o responsável pela situação atual. Espero que a Rússia ouça claramente a mensagem de seus parceiros africanos”, disse Blinken durante visita à Nova Zelândia.
Segundo o Kremlin, 49 países africanos confirmaram participação na cúpula em São Petersburgo. O governo russo disse que os líderes vão divulgar uma declaração final que “estabelecerá abordagens coordenadas para o desenvolvimento da cooperação russo-africana”.
“Hoje, a aliança construtiva, confiante e voltada para o futuro entre a Rússia e a África é particularmente significativa e importante”, disse Putin em artigo publicado, na segunda-feira, no site do Kremlin.
Putin já se reuniu nesta quarta (26) com o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, e com seu egípcio egípcio, Abdel Fatah al Sisi. O russo destacou os projetos comuns na área da energia.
Nos últimos anos, o presidente russo tentou estreitar os laços diplomáticos com a África com a presença do grupo paramilitar Wagner. Mas a rebelião fracassada da organização liderada por Ievguêni Prigojin no final de junho colocou em dúvida o futuro de suas operações no continente.
A crise dos grãos também foi abordada pelo presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, em entrevista veiculada na noite desta quarta na GloboNews. O líder voltou a criticar a decisão de Moscou de romper com o acordo e disse que um “caos social” pode surgir em função da falta de alimentos.
Zelenski também afirmou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode atuar para ajudar a Ucrânia e outros países afetados pela situação em especial os da África. Ele voltou a pedir o apoio do petista e propôs uma reunião no Brasil com líderes da América Latina para discutir a guerra no Leste Europeu.
Redação / Folhapress