Putin surpreende e derruba aliado do Ministério da Defesa

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Cinco dias pós assumir seu quinto mandato como presidente da Rússia, Vladimir Putin tomou uma das mais surpreendentes decisões desde que decidiu invadir a Ucrânia em 2022: demitiu o ministro da Defesa, seu antigo aliado Serguei Choigu, e o poderoso secretário do Conselho de Segurança do país, Nikolai Patruchev.

O movimento ocorre em um momento em que as forças russas estão com a iniciativa na invasão do país vizinho, esburacando defesas no leste ucraniano e em pleno início de uma ofensiva numa nova frente ao norte.

Na quinta (9), Putin esteve com Choigu durante o desfile do Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial, em que o presidente desenhou o risco de um terceiro conflito global, agora com o Ocidente.

Segundo comunicado do Kremlin, Putin escolheu o economista Andrei Belousov para a função de Choigu, que tem 68 anos e estava no cargo havia 11 anos e 6 meses, sendo o mais longevo titular da Defesa russa desde o fim da União Soviética, em 1991.

Ele é um dos mais próximos aliados de Putin, tendo ficado famosas fotos de ambos em férias na Sibéria há alguns anos. Ele não foi para o ostracismo: o Kremlin informou que Choigu irá para o lugar de Patruchev no Conselho de Segurança, órgão consultivo liderado por Putin.

Ainda segundo o governo, o general Valeri Gerasimov permanecerá à frente do Estado-Maior das Forças Armadas. Ele, Choigu e Putin formam a tríade que comanda a defesa da maior potência nuclear do planeta ao lado dos Estados Unidos, tendo todos acesso aos códigos de lançamento de armas atômicas.

Choigu e Gerasimov eram próximos, e sofreram duras críticas devido à condução da invasão do vizinho em 2022, quando a soberba russa foi recompensada com uma humilhante retirada do entorno de Kiev, que mesmo o Ocidente previa que seria tomada em poucos dias.

Um dos maiores críticos da dupla era o líder mercenário Ievguêni Prigojin, que tentou derrubá-la em um golpe armado no ano passado e acabou derrotado, morrendo pouco depois em um atentado contra seu avião.

Como sempre na Rússia de Putin, mudanças bruscas ocorrem sem aviso prévio e o real sentido delas deve ser conhecido apenas nos próximos dias. Patruchev, particularmente, era um aliado com grande influência sobre o modo de operar da Presidência de Putin.

Aos 72 anos, é da mesma geração do presidente de 71 anos e com a mesma origem, os serviços secretos, sendo chamado por muitos de “um Raspútin”, em referência ao monge que fazia a cabeça da corte imperial na virada do século 20.

Mas nem tudo é óbvio: o filho do conselheiro, Dmitri Patruchev, 46, deixou o Ministério da Agricultura para assumir a função de vice-premiê para a área, uma promoção, na virada atual do governo —cujo gabinete segue sob o comando do discreto primeiro-ministro Mikhail Michustin, 58.

A escolha de Belousov é mais intrigante. O economista foi conselheiro do Kremlin, ministro do Desenvolvimento e vice-premiê para a área econômica, cargo que ocupa desde 2020. Não tem laços com o establishment de Defesa ou com as Forças Armadas —um padrão, dado que Choigu, apesar de ter ganho o ranking máximo de general de exército, nunca foi militar, sendo egresso do Ministério das Emergências russo.

A permanência de Gerasimov, sempre visto como o cérebro tático por trás de Choigu, pode sugerir que talvez não haja reviravoltas na condução militar da guerra.

Mas a ida de Belousov, 65, sugere a ideia de uma militarização da economia russa, já em curso com a esperada escalada no gasto com defesa do país para até 7% do PIB neste ano, subindo dos já altos 4% atuais.

Nos dois últimos anos, Putin converteu parte da economia para o ritmo de guerra. A indústria bélica dobrou sua produção em alguns setores, quadruplicando em outros. Hoje a Rússia produz duas vezes mais munição para artilharia do que os EUA e a Europa juntos, e há nacionalizações em curso.

Como burocrata de números, pode ser que Belousov seja incumbido dos preparativos para uma guerra ainda mais duradoura. Putin tem deixado claro em seus discursos que seu combate na Ucrânia é contra, antes de tudo, o Ocidente, que percebe como um inimigo. Para tanto, o planejamento de longo prazo pode demandar alguém que entenda de contas.

Seja como for, a mudança cai como uma bomba no mundo político russo. Analistas e observadores do Kremlin ainda digeriam a notícia, que chegou a eles pouco antes das 22h locais (16h em Brasília).

Antes da chacoalhada russa, a Ucrânia passou por mexidas semelhantes e ainda mais radicais, com o ministro da Defesa e o chefe das Forças Armadas sendo substituídos em meio a crises no campo de batalha.

IGOR GIELOW / Folhapress

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