SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com a presença do presidente Vladimir Putin no centro de comando militar no Kremlin, a Rússia lançou nesta terça (10) seu maior exercício naval pós-Guerra Fria. A China, principal aliada de Moscou, participará da etapa inicial das manobras, no Pacífico.
O objetivo central do Oceano-24, como a operação é chamada, é lustrar a reputação da Marinha russa, muito arranhada devido a seu desempenho na Guerra da Ucrânia. “Serão testadas diversas armas modernas”, disse Putin. “Vamos continuar a reforçar nossa Marinha, inclusive na sua parte nuclear.”
“Os EUA estão tentando ter uma vantagem militar tangível”, disse o presidente, sobre o cenário de segurança mundial, acusando novamente os americanos de provocar uma corrida armamentista. Vídeos mostraram navios em formação e disparos de mísseis diversos, inclusive de submarinos.
O exercício é descomunal: envolverá, segundo o Ministério da Defesa, 400 embarcações, 120 aviões e 90 mil marinheiros nos teatros do Pacífico, Ártico, Báltico, Cáspio e Mediterrâneo, até o dia 16.
O inventário mais recente do londrino Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês) estimava 441 navios, submarinos e barcos diversos sob o comando russo, além de 208 aviões. Por óbvio, há imprecisões de lado a lado, mas fica clara a escala da manobra.
Ela envolverá adversários dos Estados Unidos e aliados, a começar pelos chineses, que deslocaram quatro navios de guerra e um de apoio para o golfo de Pedro, o Grande, perto de Vladivostok, a sede da Frota do Pacífico russa.
Será a quinta patrulha conjunta sino-russa naquele oceano desde que Putin e Xi Jinping celebraram em 2022 sua “amizade sem limites” e, se não assinaram um pacto militar, aprofundaram a cooperação na área de defesa desde então.
Bombardeiros com capacidade nuclear chineses e russos também deverão participar de simulações no Ártico, visando o Alasca e oferecendo oportunidades de fotografias ameaçadoras ao longo dos próximos dias.
A mobilização naval é a segunda do ano em junho, nada menos que 300 embarcações haviam sido envolvidas num exercício.
A Marinha russa teve seus dias de glória na Guerra Fria e ainda hoje comanda capacidades respeitáveis, como seus 12 submarinos lançadores de mísseis nucleares ou o emprego inédito de modelos hipersônicos na fragata Almirante Gorchkov. Na prática, está atrás de chineses e americanos.
Antes, Putin já havia enviado duas missões com flotilhas de ataque para a região do Caribe, visitando Cuba e Venezuela, em uma demonstração pequena de que pode operar no quintal estratégico dos EUA.
Tudo isso reflete os problemas da Frota do Mar Negro, que dominava aquelas águas que circundam a Ucrânia e o sul da Rússia. Logo no começo da invasão de 2022, a nau capitânia da unidade, o cruzador pesado Moskva, foi afundado por mísseis costeiros ucranianos.
A frota teve papel importante nas primeiras fases da guerra, lançando mísseis de cruzeiro Kalibr de suas corvetas e também de submarinos. Mas começou a sofrer baixas crescentes com a chegada de armas de precisão ocidentais a Kiev.
Sebastopol, sua sede, passou a ser alvo de bombardeios com drones e mísseis de cruzeiro, o que levou Putin a deslocar parte da frota para o mais protegido mar de Azov, um braço do mar Negro mais a leste, e para a costa russa de Krasnodar.
Ninguém sabe exatamente a dimensão das perdas russas, mas foram várias. A frota era estimada pelo IISS em 68 embarcações antes da guerra. O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, disse na semana passada que 32 delas foram destruídas ou danificadas. Para o site de monitoramento de perdas a partir de dados abertos Oryx, foram 28.
Seja como for, o estrago foi feito por um país sem Marinha de fato: os ucranianos tiveram sua frota regular, que já não era exatamente poderosa, obliterada na guerra. Assim, investiram pesado em drones marítimos, que causaram vários danos mesmo a portos na costa russa, e seguiram com capacidades de defesa costeira apoiadas pelo Ocidente
Moscou não comenta a situação, mas Putin derrubou tanto o chefe da Frota do Mar Negro quanto o da Marinha, em abril. O novo comandante geral, Alexander Moseiev, veio da prestigiosa Frota do Norte, base da maioria dos poderosos submarinos lançadores de mísseis nucleares.
IGOR GIELOW / Folhapress