SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A SpaceX está quase pronta para lançar pela quarta vez um voo integrado do veículo Starship. A missão de teste, que deve partir da base da companhia em Boca Chica, no Texas, deve acontecer nesta quinta-feira (6), após receber autorização da FAA (agência que regula aviação civil e lançamentos comerciais de foguetes nos EUA). A janela para o voo se abre às 9h (de Brasília).
Seguindo em sua estratégia de ampliar um pouco o horizonte de objetivos aprendendo com cada teste, a empresa espera desta vez realizar um pouso suave do primeiro estágio (mas ainda no oceano, sem recuperação posterior) e pela primeira vez ver o segundo estágio (a espaçonave em si) resistir ao menos à fase mais intensa da reentrada na atmosfera terrestre.
Passaram-se pouco mais de 13 meses desde o primeiro lançamento integrado deste que é, com alguma folga, o maior e mais potente foguete já criado. Se por um lado chamam a atenção as falhas iniciais de cada um dos voos, é inegável que há progressos a cada novo teste, aproximando cada vez mais o lançador da operacionalidade comercial.
Em abril de 2023, o objetivo mínimo da empresa de Elon Musk era que o Starship deixasse sua plataforma de lançamento sem destruí-la completamente. Ele foi atingido, mas o voo foi marcado por uma série de falhas nos motores, que impediram até mesmo a separação dos estágios. O voo foi encerrado a 39 km de altitude, com a destruição do foguete então descontrolado.
Modificações foram feitas ao foguete, procedimentos foram aperfeiçoados e a estrutura da plataforma ganhou um sistema de dilúvio para reduzir ondas de choque e impedir o espalhamento de detritos por ocasião da decolagem.
Em novembro do ano passado, o segundo voo viu mais sucesso, e pela primeira vez tivemos a separação dos estágios e o segundo deles chegou ao espaço, porém acabou perdido pouco antes do desligamento dos motores. O primeiro estágio, apesar da separação bem-sucedida, acabou também explodindo logo em seguida.
O terceiro voo, realizado em março deste ano, pela primeira vez concluiu a queima dos motores do segundo estágio, colocando a espaçonave numa “quase órbita” (um percurso suborbital que quase deu uma volta completa ao redor da Terra), para uma reentrada no oceano Índico.
Alguns testes foram realizados durante o voo de cruzeiro, como a transferência de propelente de um tanque para outro (tecnologia essencial para o futuro uso do veículo em viagens à Lua), e a abertura da porta da área de carga.
Outro teste planejado, de reacendimento dos motores no espaço, acabou abandonado, depois que o Starship entrou em uma rotação descontrolada, algo que também impediu que ele sobrevivesse à reentrada atmosférica, feita a uma velocidade de cerca de 27 mil km/h.
Quanto ao primeiro estágio, chamado pela companhia de Super Heavy, após a separação, ele conseguiu realizar o reacendimento dos motores para a freada necessária ao retorno à atmosfera, bem como durante a fase final para o pouso suave, mas com algumas falhas de motor, que levaram à perda do veículo segundos antes da chegada ao oceano.
É a partir desse ponto que o quarto teste começa: além de replicar os sucessos obtidos no terceiro, a SpaceX espera conseguir concluir com sucesso a descida do primeiro estágio e ver o segundo (o Starship propriamente dito) sobreviver à reentrada, ainda que não realize um pouso suave no oceano Índico.
Esse é o maior desafio de toda a arquitetura de voo do projeto, que pretende ser o primeiro lançador no mundo a permitir reutilização completa e rápida. A essa altura, a SpaceX já domina a recuperação do primeiro estágio com seus foguetes da família Falcon, mas nunca na história da exploração espacial um estágio superior foi recuperado para reuso.
Para focar esse objetivo, o quarto voo não terá os testes em órbita que o terceiro teve. Da mesma maneira, a SpaceX optou por ainda não usar o veículo para lançamento de satélites, embora, tecnicamente, com a queima bem-sucedida de primeiro e segundo estágios, realizadas no terceiro voo, isso já se tornasse possível.
A expectativa é que em algum momento deste ano o Starship já passe a ser usado pela empresa para lançar ao espaço versões mais parrudas de seus satélites Starlink, que fornecem serviço de internet com banda larga e baixa latência em escala global. E com esses lançamentos virão a cadência e os testes necessários para aprimorar todas as tecnologias que ainda precisarão ser demonstradas para que a espaçonave possa ser usada como módulo de pouso para as missões Artemis, da Nasa, a partir de 2026.
O prazo é obviamente exíguo. Além de realizar dezenas de voos bem-sucedidos e dominar a recuperação pelo menos do primeiro estágio, será preciso demonstrar a capacidade de reabastecer o veículo em órbita, o que exigirá uma sequência de 10 a 20 lançamentos, em rápida sucessão.
Depois disso, será preciso demonstrar sem tripulação um pouso e uma decolagem bem-sucedidos na Lua. Só aí ele poderá ser incorporado à missão Artemis 3.
Poucos acreditam que tudo possa acontecer até o fim de 2026, o que já faz a agência espacial pensar em mais um adiamento ou talvez até mudar o perfil da terceira missão Artemis, eliminando um pouso lunar.
SALVADOR NOGUEIRA / Folhapress