RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Em 2023, 89,1% das indústrias de médio e grande porte possuíam pelo menos uma iniciativa ou prática ambiental em seus processos produtivos no Brasil, apontam dados divulgados nesta quarta-feira (18) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O percentual equivale a uma parcela de 8.758 empresas de um total de 9.827 -quase 9 em cada 10. Não há uma série histórica comparável para avaliar se o indicador cresceu ou não, diz o instituto.
O resultado integra a Pintec (Pesquisa de Inovação Semestral) 2023, considerada uma fonte experimental de estatísticas -ainda sujeita a ajustes metodológicos.
Conforme o levantamento, o fator que mais contribuiu para a adoção das práticas pelas indústrias foi o atendimento a normas ambientais brasileiras (88,6%).
Estratégia autônoma da empresa (87,7%), influência de fornecedores e/ou clientes (63,9%), influência da opinião pública/sociedade civil (44,9%) e atendimento a normas ambientais de mercados externos (44,1%) vieram na sequência.
Influência da concorrência (28,4%), atratividade de programas públicos ou privados de apoio (22,2%) e outros motivos (1,3%) completam a lista divulgada pelo IBGE.
As práticas ambientais podem ser tanto projetos incipientes quanto ações já consolidadas e rotineiras nas fábricas, segundo a metodologia da pesquisa.
“As empresas industriais, ao longo das últimas décadas, vêm sendo estimuladas, ainda que de forma impositiva, por normas e legislações e pela opinião pública para se engajarem em alguma prática ambiental”, disse Flávio Peixoto, gerente de pesquisas temáticas do IBGE.
“A gente percebe a preocupação com a imagem e a obrigação de atender a normas que existem tanto internamente quanto fora”, acrescentou.
A Pintec foca em seis temas que envolvem iniciativas ambientais. São eles: recursos hídricos, resíduos sólidos, eficiência energética, reciclagem e reúso, uso do solo e emissões atmosféricas.
A área de resíduos sólidos teve o maior percentual de indústrias com ações implementadas: 79,6%. Reciclagem e reúso (75,1%), eficiência energética (61,5%) e recursos hídricos (57,1%) vieram na sequência. Emissões atmosféricas (46,3%) e uso do solo (23,9%) ficaram para trás.
Nos seis temas investigados, as empresas de maior porte, com 500 pessoas ocupadas ou mais, registraram os percentuais mais elevados de adoção de práticas ambientais.
De acordo com o IBGE, o alto custo foi apontado como a principal dificuldade para a implementação de soluções. Essa opção foi citada por 71,8% das indústrias que possuíam iniciativas ambientais.
A mesma justificativa também liderou o ranking das dificuldades citadas pelas empresas que ainda não tinham práticas do tipo (45,4%).
“As empresas maiores, com mais recursos, mais estruturadas e que têm de seguir a legislação de uma forma mais rigorosa, relativamente, estão mais prontas. É natural que se engajem mais”, afirmou Peixoto.
A Pintec é desenvolvida pelo IBGE em parceria com a ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), financiadora do projeto, e a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que presta apoio técnico.
Médias e grandes indústrias, focos da análise, são aquelas com cem ou mais pessoas ocupadas, diz o instituto.
Considerando 24 atividades, o IBGE indica que os maiores percentuais de empresas com pelo menos uma prática ambiental foram identificados nos seguintes ramos: fabricação de bebidas (100%), refino e derivados de petróleo, coque e biocombustíveis (99,4%), artigos de borracha e plástico (95,9%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (95,8%).
Por outro lado, os menores patamares foram verificados em manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (56,4%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (75,1%) e fabricação de produtos de madeira (81%).
A apresentação da pesquisa diz que “setores mais regulados apresentam maior proporção de empresas atuando para diminuir impactos negativos no meio ambiente a partir de seus processos industriais”.
O IBGE também afirma que, em 2023, 10,2% das empresas industriais utilizaram biotecnologia em seus processos. No caso desse indicador, o instituto divulgou uma comparação possível com 2017, quando a porcentagem havia sido menor, de 6,8%.
Ainda de acordo com o órgão, 17,1% das indústrias publicaram relatórios de sustentabilidade em 2023. O percentual foi superior ao de 2017 (11,2%).
LEONARDO VIECELI / Folhapress