Quatro adolescentes detidos por militares são achados mortos no Equador

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Ministério Público do Equador informou nesta terça-feira (31) que os corpos carbonizados encontrados próximos a uma base militar foram identificados como os quatro adolescentes que desapareceram depois de serem detidos por soldados há três semanas.

A Justiça ordenou a prisão preventiva de 16 militares envolvidos com o caso, que aconteceu na região de Guayaquil, no sudoeste do país, e procuradores os acusam de desaparecimento forçado. Os adolescentes tinham entre 11 e 15 anos de idade.

Saúl Arboleda, Steven Medina e os irmãos Josué Arroyo e Ismael Arroyo saíram de casa para jogar bola quando foram detidos por uma patrulha de soldados no bairro de Las Malvinas no dia 8 de dezembro depois de serem acusados de roubo.

A região de Guayaquil é uma das mais afetadas pelo narcotráfico, contra o qual o governo do presidente Daniel Noboa vem prometendo atuar duramente, inclusive utilizando as Forças Armadas.

Os quatro corpos carbonizados foram encontrados no último dia 24 em uma área de mangue próxima a uma base da Força Aérea do Equador na cidade de Taura —a mesma de onde saiu a patrulha de 16 soldados que deteve os adolescentes. A Justiça determinou que houve um desaparecimento forçado ao ordenar a prisão dos militares.

Depois de semanas sem se pronunciar oficialmente sobre o caso, o governo Noboa disse por meio de nota do Ministério da Defesa que lamenta profundamente a confirmação de que os cadáveres são de Arboleda, Medina e dos irmãos Arroyo. “Esse fato deixa todo o país de luto”, diz a nota.

“Reafirmamos o nosso compromisso com a verdade, para que este caso seja conduzido com total transparência até que sejam encontrados os responsáveis por este assassinato.”

Segundo o órgão de direitos humanos de Guayaquil, os corpos estavam completamente destruídos e só puderam ser identificados por meio de exames de DNA.

A Justiça informou que os soldados devem ficar detidos em uma cadeia comum, e não no quartel. Se condenados, eles enfrentam penas de até 26 anos de prisão.

Os militares negam ter matado os adolescentes. Segundo a versão deles, os quatro foram detidos por roubo e levados até a base da Força Aérea, mas liberados logo em seguida. O comandante da aeronáutica, Celiano Cevallos, disse que os soldados agiram “diante de um crime flagrante”.

Dezenas de familiares, vizinhos e ativistas realizaram um protesto nesta terça em frente ao tribunal que decretou a prisão dos militares. Os manifestantes queimaram um boneco de papelão representando Noboa com as mãos sujas de sangue e ergueram cartazes chamando o presidente de assassino.

Um protesto a favor dos militares também foi registrado em Guayaquil, com manifestantes carregando uma faixa com os dizeres “eu apoio os 16”, em referência aos soldados presos.

Cerca de 40 entidades acusam Noboa, eleito com a promessa de ampliar a guerra contra o crime organizado, de uma série de “graves violações aos direitos humanos” em 2024. O presidente chegou a declarar conflito armado interno em janeiro de 2024, com a mobilização de militares nas ruas.

A decisão aconteceu depois da fuga da prisão de um dos principais líderes do crime organizado do país. O incidente fez irromper uma crise de violência, com explosões de carros-bomba em atos coordenados e sequestro de policiais, além da invasão de uma emissora de TV em Guayaquil por homens encapuzados.

Na semana passada, em uma entrevista a uma rádio local, Noboa pediu que as buscas pelos adolescentes fossem intensificadas e disse que vai declarar os quatro “heróis nacionais”. O Congresso, de maioria opositora, declarou três dias de luto oficial e pediu que o governo e a Justiça apliquem “todo o peso da lei” contra os culpados no caso.

Redação / Folhapress

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