SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Quatro pessoas foram presas na segunda-feira (24) sob suspeita de integrarem uma organização criminosa que explorava sexualmente mulheres nas cidades de Auriflama, Catanduva e Pereira Barreto, no interior de São Paulo, e em Aparecida do Taboado (MS). Dez vítimas já foram identificadas pela polícia.
Entre os crimes investigados estão organização criminosa, favorecimento da prostituição, cárcere privado, estupro e homicídio. Uma pessoa segue foragida.
As investigações apontam que as mulheres, com idades entre 18 e 25, todas em situação de vulnerabilidade social, foram atraídas por falsas promessas de trabalho em quatro boates do mesmo proprietário, sendo uma em cada cidade.
Os detidos eram donos e gerentes dos estabelecimentos. O advogado Fábio Rodrigues Trindade, que representa os quatro presos, não atendeu as ligações da reportagem.
Inicialmente, a proposta seria para que essas mulheres se prostituíssem na boate, podendo residir nos quartos existentes nos locais.
Após aceitarem o convite, elas seriam submetidas a controle psicológico e físico e proibidas de sair dos estabelecimentos, além de ficarem sem alimentos e sem acesso à comunicação.
Mandados de busca e apreensão foram cumpridos nas boates, na segunda. Nos locais, foram apreendidas drogas, armas, celulares e cadernos de contabilidade que mostram a dívida entre as mulheres e os administradores dos locais. Os estabelecimentos foram fechados e lacrados por determinação judicial.
“A promessa era de que o trabalho seria apenas à noite. Porém, quando elas entravam no local, os portões eram trancados e, quando tentavam sair pulando o muro para fugir ou até mesmo comprar alimentos, eram perseguidas, agredidas e levadas de volta para o local”, disse a delegada Caroline Baltes, responsável pela investigação.
As mulheres também seriam induzidas e muitas vezes forçadas a consumir drogas vendidas pelos administradores das boates e contraíam dívidas. Algumas relataram à polícia terem sido estupradas sob ameaças ou como forma de quitação dessas dívidas.
“Essas mulheres eram muito vulneráveis. Algumas usavam drogas porque queriam, mas outras relataram que eram induzidas. Nos depoimentos, elas contaram que os administradores falavam para elas fazerem o uso de entorpecentes para melhorarem o desempenho e eles mesmo tinham as drogas ofertadas”, acrescenta a delegada.
Ainda segundo a Polícia Civil, drogas também eram vendidas para os clientes e usuários em geral.
As investigações começaram no mês passado após uma mulher de 19 anos morrer em uma boate de Auriflama.
A vítima foi encontrada enforcada e, inicialmente, o caso foi tratado como suicídio. No decorrer da investigação, essa perspectiva mudou, e a polícia passou a investigar o caso como homicídio ou induzimento ao suicídio.
“Percebemos que havia algo de errado quando as versões dos depoimentos dos envolvidos e das outras mulheres que trabalham na boate começaram a ser conflitantes. Além disso, a avó da vítima relatou que dias antes de a jovem morrer ela teria ligado pedindo socorro”, afirmou Baltes.
SIMONE MACHADO / Folhapress