RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Após um final de semana marcado pelo caos causado pela fumaça e pela fuligem dos incêndios em matas e canaviais no interior de São Paulo, as unidades de saúde de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo) iniciaram a semana com suas salas de medicação e inalação e nebulização lotadas.
Na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) 13 de Maio, já passava do meio dia desta segunda-feira (26) quando o operador de hortifruti Fernando Antônio de Oliveira buscou atendimento devido à tosse com as queimadas.
Olveira iria perder o dia de trabalho. “No sábado trabalhei até às 22h, com a fumaça entrando por todos os lados. Desde ontem estou com muita tosse e com a sensação de que tem alguma coisa parada na minha garganta. Sem falar na dificuldade em respirar, porque tenho rinite”.
Já a doméstica Nilda Ribeiro Bispo, que após as férias retornaria nesta segunda ao trabalho, precisou passar pelo médico após sentir que seu resfriado havia avançado para um quadro sinusite, mesmo após ter evitado respirar a fumaça que dominava toda a cidade. “Quando me levanto, caminho, sinto a cabeça pesada. Não tem como trabalhar doente”.
Do lado de fora da UPA, o atendente de telemarketing Pedro Luiz Freitas aguardava a esposa Marina passar por uma sessão de inalação.
Ele conta que no sábado (24) ela teve falta de ar, mas que no domingo (25) acordou bem. Porém, com a faxina na casa para retirar a fuligem das queimadas, ele acredita que a esposa tenha tido uma crise por conta da poeira. “Agora é aguardar para que a medicação faça efeito e ela se recupere”.
Os incêndios não afetaram apenas a rotina e a saúde de trabalhadores. A Prefeitura de Ribeirão Preto anunciou a suspensão das aulas em todas as escolas municipais nesta segunda por causa das queimadas.
Houve até estudante que perdeu o exame do vestibular. A estudante Sofia Batistel, 18, precisou ser hospitalizada e, por isso, não compareceu ao exame de vestibular da UFU (Universidade Federal de Uberlândia) aplicado em Ribeirão no último domingo (25).
“Moramos em Bonfim Paulista, próximo ao Alphaville e a nossa casa ficou com um cheiro horrível de fumaça. No sábado, Sofia começou a ter dificuldades de respirar, ficou bem congestionada”, conta a mãe Erika Batistel. “No domingo que era o dia da prova, ela acordou muito indisposta, com dor de cabeça e ânsia de vômito. Então a levamos até o hospital, e ela ficou internada para tomar soro e coletar exames”.
Clima seco persiste
Os ribeirão-pretanos enfrentaram no último final de semana o pior cenário possível para a saúde respiratória, decorrente da combinação de ar seco e ar poluído.
“A poluição excessiva do ar combinada com o ar seco propicia um cenário muito dramático, principalmente para quem já sofre de problemas respiratórios. Nossa mucosa respiratória exerce duas funções que são primordiais para nossa respiração, que é umedecer e filtrar todo ar que entra”, diz o pneumologista Renato Alves, do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão.
Segundo o médico, a intensa fumaça que predominou na cidade no último semana foi um agravante para quem já sofre de doenças respiratórias. “Quando a pessoa é submetida a um ar muito seco, com baixa umidade relativa, associado a uma grande quantidade de poluentes ambientais, a mucosa perde muito líquido, desidrata, e daí surgirão sintomas como nariz seco, garganta irritada e tosse, entre outros”.
Com o clima seco persistindo nos próximos dias, o especialista reforça a necessidade de que todos sigam algumas recomendações básicas.
“O ideal nessa época, principalmente com o retorno do calor nos próximos dias, é adotar um método de umidificação de ambiente, como o umidificador de ar ou aquelas medidas caseiras habituais, como colocar um balde com água no ambiente, pendurar uma toalha molhada. E lembrar de sempre lavar o nariz com soro fisiológico”, afirmou.
MARIA BEATRIZ CAMARGO / Folhapress