Quem é Diane Warren, eterna derrotada que já levou Lady Gaga ao Oscar

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Não há perdedor mais notável no Oscar hoje do que Diane Warren. A compositora foi indicada sete vezes à categoria de melhor canção na última década, aparecendo nas últimas cinco edições, e perdeu em todas. O recordista geral de indicações em anos consecutivos da premiação, Walt Disney, foi lembrado por nove anos seguidos —e venceu em três ocasiões distintas.

Warren já acumula 14 tentativas frustradas de levar a estatueta. Mas o mais intrigante são os filmes que a levaram à cerimônia. Exemplo disso é o mais recente, “Elas por Elas”, que chega aos cinemas brasileiros depois de se tornar a maior surpresa das indicações do último Oscar.

O longa-metragem é uma antologia feita para destacar o empoderamento feminino, com mulheres à frente e atrás das câmeras. São sete curtas que beiram ao surreal na variedade —há desde histórias reais até uma animação alegórica sobre chamas em uma prisão. Entre as diretoras, há nomes como Catherine Hardwicke, de “Crepúsculo”, e a atriz Taraji P. Henson.

As protagonistas também possuem as mais diferentes origens. O filme começa com a jornada de uma detenta com transtorno de dupla personalidade, vivida pela cantora Jennifer Hudson. Pouco depois, a modelo Cara Delevingne aparece como uma moradora de rua que se recusa a tomar banho no auge da pandemia de Covid.

Esse leque imenso de histórias seduziu Warren a aceitar o convite da produtora Chiara Tilesi para escrever a canção “Applause”. A compositora afirma, por telefone, que a proposta a intrigou e —mais importante— a inspirou.

“Eu queria escrever uma canção que coubesse em todas aquelas histórias, e sabia que elas envolviam o empoderamento. Então resolvi escrever uma música que permitisse às mulheres aplaudir umas às outras por tudo o que elas passam no dia a dia.”

A proposta deu tão certo que tomou o filme para si. Cantada por Sofia Carson, “Applause” está em três momentos de “Elas por Elas”, incluindo nos créditos, onde Warren aparece em um videoclipe. A melodia embalada no violão da cantora e no piano da compositora transforma o empoderamento feminino em notas bastante emocionadas.

No Oscar, a canção brigou pelo prêmio com gigantes como “Top Gun: Maverick” e “Pantera Negra: Wakanda Para Sempre” —todos derrotados pelo fenômeno indiano “Naatu Naatu”, de “RRR”. A indicação também marcou a estreia de Warren no palco da premiação, onde tocou “Applause” ao lado de Carson.

Ela afirma que ficou muito nervosa por ser ao vivo, mesmo depois de um teste em 2021, quando se apresentou no pré-show com “Io Sí (Seen)”. A compositora diz que sempre gostou de trabalhar fora dos palcos, escrevendo canções ao invés de interpretá-las. “Se eu estragasse a apresentação, não havia como refazer, porque era ao vivo. Mas deu certo, e foi uma ótima experiência.”

Esta trajetória é só uma das várias que a compositora protagonizou na premiação. As últimas cinco indicações, por exemplo, foram por produções tão díspares entre si quanto as histórias contadas em “Elas por Elas”.

Na lista, há filmes de gêneros clássicos da cerimônia, como a cinebiografia “Marshall”, de 2017, e o documentário “RBG”, sobre a juíza Ruth Bader Ginsburg, de 2018. Mas ela também foi indicada em 2019 pelo drama cristão “Superação: O Milagre da Fé”, sobre um garoto que sai do coma graças à fé de sua família.

Todas as músicas de Warren que foram parar no Oscar nos anos 2010 e 2020 também têm em comum o fato de serem cantadas por mulheres. Ao ser questionada sobre a coincidência, ela nega a preferência, mas diz que sempre trabalha da mesma forma em todos os projetos. “Sempre quero escrever a melhor canção. Ela tem que funcionar para mim, e por isso o filme precisa me inspirar.”

Os trabalhos de Warren se encaixam também como canções “power ballad”, gênero do pop que exige vozes dramáticas. O estilo, popular nos anos 1980 e 1990, coincide com a ascensão da compositora, que ficou famosa por escrever esse tipo de canção no cinema.

Um dos maiores sucessos da artista é “I Don’t Want to Miss a Thing”, cantado pelo Aerosmith para o filme “Armageddon”, de 1998. A música marcou sua quarta vez na disputa pelo Oscar, mas o prêmio foi para “When You Believe”, da animação “O Príncipe do Egito”.

Outra indicação famosa de Warren ao prêmio foi a de 2016, quando ela levou ninguém menos que Lady Gaga à cerimônia. A cantora, então estreante no Oscar, emocionou o público com “Til It Happens to You”, feita para um documentário sobre assédio nas universidades americanas. As duas perderam na categoria, pouco depois, para “Writing’s on the Wall”, faixa dramática de “007 Contra Spectre”.

Gaga acabou vencendo a estatueta dois anos depois, mas a compositora segue de mãos vazias. No prêmio de canção, as 14 indicações de Warren só são inferiores às de outros quatro compositores. Ela empata ainda com Alan Menken e Jimmy Van Heusen, que levaram a estatueta em quatro ocasiões.

Apesar dos fracassos, a Academia gosta da artista. Em novembro do ano passado, ela ganhou um Oscar honorário, prêmio especial da entidade que destaca a carreira de membros específicos. Warren se tornou a primeira compositora de canções a receber a honraria.

Mesmo assim, ela ainda quer um Oscar tradicional. “Eu pareço que vou desacelerar? Estou só começando!”, ela diz, com seu conhecido jeito franco e direto ao ponto.

Warren já tem uma canção inscrita na corrida do próximo Oscar: “The Fire Inside”, criada para “Flamin’ Hot”. A cinebiografia tem direção de Eva Longoria, atriz que participa de “Elas por Elas”, e foi exibida na Casa Branca em junho.

“Estou muito animada. Ela é cantada por Becky G, e o filme foi um sucesso. Quem sabe a música encontra o caminho até a indicação”, suspira a compositora, em sua eterna esperança.

ELAS POR ELAS

– Onde Nos cinemas

– Classificação 12 anos

– Elenco Cara Delevingne, Marcia Gay Harden, Jennifer Hudson

– Produção Estados Unidos, Itália, 2022

– Direção Lucia Bulgheroni, Silvia Carobbio, Catherine Hardwicke, Taraji P. Henson, Mipo Oh, Lucía Puenzo, Maria Sole Tognazzi e Leena Yadav

PEDRO STRAZZA / Folhapress

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