SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Fardado como um policial militar, o influencer americano Gen Kimura grava uma ação contra suspeitos na zona norte de São Paulo. Ele está na viatura e ri junto aos verdadeiros agentes. Nas imagens, uma PM afirma ao criador de conteúdo que mortes de criminosos são comemoradas com “charutos e cervejas” pela corporação.
Aos 27 anos, Kimura possui mais de 380 mil inscritos no YouTube, 73 mil seguidores no TikTok e 31,7 mil no Instagram, além de também produzir um podcast. Ele se apresenta como um observador de questões sociais e já produziu conteúdos sobre descriminalização de drogas e a vida dos sem-teto nos Estados Unidos, por exemplo.
As cenas na viatura foram postadas há três semanas no canal de Kimura no Youtube como “Patrulhando FAVELAS com o Batalhão Tático da PM (24 hrs na vida de um Policial)”. O caso é investigado pela SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo.
Kimura nasceu em Portland, no Oregon, e estudou finanças na Southern Cross University, na Austrália, antes de começar a produzir conteúdos para as redes sociais, em 2020. Seu método consiste em abordar pessoas nas ruas e pedirr opiniões sobre os temas discutidos em seus vídeos.
“Changing the way our society approaches issues” (Mudando a maneira como nossa sociedade aborda questões, em português), assim o americano descreve o conceito de seus vídeos.
Ele anuncia ter apoio de empresas como a rede de cafeterias Starbucks para seu trabalho. Além de influencer, seu perfil no LinkedIn mostra um cargo de engenheiro de soluções numa empresa americana.
A escolha do Brasil para gravação de conteúdo ao lado de policiais pode ter ligação com a namorada de Kimura, a brasileira Sofia Garicochea. Ela, criadora de conteúdos sobre maquiagem e turismo, tem quase 60 mil seguidores no Instagram.
Para o conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e policial federal Roberto Uchôa, o vídeo reforça a imagem que certas parcelas da população têm sobre a PM.
“Eles dão declarações de que comemoram a morte de criminosos em confrontos e também de que não há racismo na atuação dos policiais. É preciso entender que a população que normalmente é abordada tem uma visão exatamente oposta a esta”, afirma.
O vídeo que mostra onde são guardados armamentos e o youtuber posando com uma arma fragiliza a segurança do local, segundo Uchoa.
Sobre a perseguição, o especialista afirma que o criador de conteúdo correu riscos e poderia ter colocado os demais em perigo por não ter treinamento adequado, “ainda mais por ter acesso a armamento que estava imediatamente à sua frente enquanto estava no veículo.”
Procurado pela reportagem, Kimura inicialmente respondeu às perguntas por email. Mas, em um segundo momento, comunicou que havida mudado de ideia e solicitou que suas respostas não fossem publicadas.
A reportagem não conseguiu localizar os PMs que aparecem no vídeo.
Redação / Folhapress