SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Matt Shakman vive um momento e tanto em Hollywood. Nos últimos cinco anos, o diretor esteve envolvido nas séries mais ambiciosas e alardeadas da TV americana. Ele prepara agora o novo filme do Quarteto Fantástico, principal aposta do Marvel Studios para o futuro em meio à turbulência nas bilheterias.
O elenco não foi divulgado, mas nomes grandes como os de Pedro Pascal e Vanessa Kirby circulam o projeto. Nada mal para um cineasta que, perto dos 50 anos, está no segundo longa-metragem da carreira.
Nada mal, também, para alguém que se estabeleceu no meio com “Its Always Sunny in Philadelphia”, série de comédia nada ortodoxa em que dirigiu 43 episódios.
Aos olhos de Shakman, porém, a escala é o de menos. Em uma conversa por vídeo, o diretor diz que vê desafios parecidos no seu trabalho em séries com o que realiza agora em “Quarteto Fantástico”. Ele afirma reconhecer as diferenças entre os meios, mas que sua função parte do mesmo princípio.
“Quando você cria um piloto para uma série, você está ajudando os atores a dar vida a esses personagens pela primeira vez”, diz o cineasta. “Você também constrói um mundo e um estilo que espera que existam por muitos anos. Quando você está fazendo um filme, é o mesmo processo. Todo projeto exige a mesma dedicação, precisão, irreverência e imaginação. Os formatos mudam, mas a abordagem se mantém igual.”
A relação do diretor com os televisores vem desde antes de suas primeiras aventuras na função. Ele trabalhou como ator ainda na infância, em uma carreira curta que envolveu um lugar no elenco titular de “Just the Ten of Us”. A série de comédia, derivada do hit “Tudo em Família”, chegou a três temporadas e 47 episódios entre 1988 e 1990 tempo suficiente para um garoto entender como a indústria funciona.
Duas décadas depois, Shakman viu de perto o meio mudar diante dos maiores investimentos feitos pelos canais e os serviços de streaming. Como diretor, em menos de dez anos ele foi de seriados contidos como “House”, “Mad Men” e “The Good Wife” para produções megalomaníacas do porte de “Game of Thrones”, “The Boys” e “Succession”.
Sua passagem em “Game of Thrones” foi emblemática do novo momento. Um dos dois episódios que dirigiu na sétima temporada, “The Spoils of War”, foi bastante alardeado pela cena do ataque de um dragão a um exército de soldados. Uma sequência de escala até então impensável para a TV, mas que a HBO e Shakman ajudou a tornar recorrente no meio.
“Há muita ambição e escala na TV de hoje, mas o que a diferencia dos filmes é que ela te faz acompanhar os personagens uma vez por semana”, diz o diretor. “Ela tem um ritmo próprio, que te induz a querer que os personagens se tornem parte da sua vida. Isso sempre será um diferencial, e a boa TV abraça isso.”
A carreira de Matt Shakman mudou de vez com “WandaVision”, o seu primeiro trabalho para o Marvel Studios. Na direção de todos os episódios da minissérie, ele pode exercer os dois lados de sua carreira em uma mesma história. O programa leva tanto à dimensão épica, típica dos filmes de herói do estúdio, quanto à estrutura das sitcoms, homenageadas na estética.
O sucesso descomunal do seriado, bem no meio da pandemia, levou o diretor a duas de suas três indicações ao Emmy e ao convite para “Quarteto Fantástico”. Entre a minissérie e o filme, que só estreia em 2025, ele mantém o ritmo de um a dois episódios por ano, em projetos que o ajudam a se preparar para a dimensão cósmica do seu próximo longa.
Um desses trabalhos pontuais foram os primeiros episódios da série “Monarch”, ambientada no universo dos filmes americanos do Godzilla. Shakman foi atraído pelo desafio de estabelecer a trama, situada em duas épocas diferentes, e de trabalhar com monstros de escala gigantesca na telinha da TV.
“A gente queria que o seriado visse aquelas criaturas do ponto de vista dos humanos. Eu adoro o filme Godzilla vs. Kong mas, por mais divertido que seja ver os dois monstros brigando na estratosfera, acho mais interessante saber como é ver esses eventos da nossa perspectiva. A sensação é de assistir ao mundo mudar para sempre.”
Nesse sentido, Matt Shakman e os protagonistas de “Monarch” passam por processos parecidos a única diferença é que os personagens precisam fugir dos monstros.
PEDRO STRAZZA / Folhapress