PARATY, RJ (FOLHAPRESS) – O ano de 2024 tem sido generoso com o cantor e compositor Jota.pê. Aos 31 anos, o paulista de Osasco viu seu LP “Se Meu Peito Fosse Mundo” se tornar um dos representantes do Brasil entre os indicados do Grammy Latino, que premia seus vencedores nesta quinta-feira (14).
Na corrida em três categorias com destaque para melhor álbum de música popular brasileira e melhor canção em língua portuguesa, por “Ouro Marrom”, o artista também está no páreo do álbum do ano no prêmio Multishow.
“Se Meu Peito Fosse Mundo” é o segundo LP de Jota.pê, após “Crônicas de um Sonhador”, lançado em 2015. Mas o artista diz que esse LP mais recente reflete sua música e estilo com mais clareza do que o disco de estreia.
“No primeiro disco eu não fazia ideia de nada”, diz. “É legal, mas eu era muito novo e resolvi não opinar em nada, o disco aconteceu e foi uma experiência boa, mas acho que Se Meu Peito Fosse Mundo é um trabalho mais elaborado.”
Além do trabalho solo, Jota.pê é vocalista, compositor e violonista no duo Àvuà, com Bruna Black. Essa parceria rendeu a ambos uma indicação ao Grammy Latino em 2021 pelo álbum “Onze”, que reuniu grandes intérpretes como Elza Soares e Zeca Baleiro cantando músicas inéditas de Adoniran Barbosa.
Como artista solo, Jota.pê ficou célebre no The Voice Brasil, da Globo, sendo considerado por Lulu Santos uma das melhores vozes de todas as temporadas do programa.
De fato, quem ouve seu trabalho pela primeira vez fica impressionado pela beleza e força de sua voz, que por vezes lembra Djavan. “Isso é maior elogio que eu poderia receber”, diz o cantor, que, além de Djavan, cita como grandes influências Lenine e Cássia Eller.
“Se Meu Peito Fosse Mundo” tem produção musical de Felipe Vassão, Rodrigo Lemos e Marcus Preto, e é um disco musicalmente eclético soul music com pegada étnica que mistura baladas, toques de bossa nova, funk e até forró. Mas a faixa “Ouro Marrom” destoa do disco por abrir mão de percussão e focar apenas na voz de Jota.pê.
“Foi ideia dos produtores deixar a música só com violão e minha voz”, diz o cantor. “A gente tinha feito um arranjo lindo, com outros instrumentos, mas eles me convenceram de que a música, até pelo tema, pedia um arranjo que priorizasse a letra”.
Segundo Jota.pê, é a primeira canção em que ele aborda o tema do racismo. “Pela primeira vez eu me senti à vontade para falar sobre a minha visão de homem negro, falar de coisas que eu queria que mudassem. Falo de um lugar de esperança.”
Ele diz que passou cerca de três anos pesquisando referências para o novo disco, ouvindo novos artistas brasileiros e a música de países africanos que falam português, como Cabo Verde.
“Nós brasileiros temos uma tendência a ouvir pouco a música africana e latina, mas eu piro em artistas cabo-verdianas como Mayra Andrade e a pioneira Cesária Évora, e também gosto do nigeriano Keziah Jones, que tem um estilo muito particular de tocar guitarra, uma coisa meio suja.”
Entre os novos artistas brasileiros que o inspiram, Jota.pê cita Luedji Luna, Liniker, Melly, Os Garotin, Theodoro Nagô, Bruna Black e Emicida. “A música brasileira vai muito bem, obrigado”, diz. “É emocionante ver essa galera vendendo tantos ingressos e sendo ouvida por tanta gente.”
O contrato com a gravadora Som Livre ajudou na pesquisa para “Se Meu Peito Fosse Mundo”, que resultou num processo com tempo para escolher o repertório e os arranjos. O LP foi gravado no estúdio Gargolândia, em Alambari, no interior de São Paulo, um refúgio em que os músicos ficam hospedados no local e em contato com a natureza.
O grupo de instrumentistas que gravou o disco inclui o guitarrista Chibatinha, da banda baiana Àttooxxá, Silvanny Sivuca, que trabalha com Emicida, na percussão, Weslei Rodrigo e Fi Maróstica no baixo, Samuel Silva no piano, Kabé Pinheiro na bateria, Marcelo Mariano no baixo e Will Bone nos metais. Já Jota.pê tocou todos os violões.
Nesta quinta-feira (14), Jota.pê estará nos Estados Unidos para a festa do Grammy Latino e volta depois para um show em São Paulo, no Teatro das Artes, em 29 de novembro.
SE MEU PEITO FOSSE MUNDO
– Onde Nas plataformas digitais
– Autoria Jota.pê
– Produção Felipe Vassão, Rodrigo Lemos e Marcus Preto
– Gravadora Som Livre
ANDRÉ BARCINSKI / Folhapress