Quem é Raye, que desafiou gravadora e bateu recorde no ‘Grammy britânico’

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A cantora Raye viveu uma noite de noite de glória em março. Com o aclamado disco “My 21st Century Blues”, ela venceu seis estatuetas no último Brit Awards, considerado o Grammy britânico, batendo o recorde de Adele e Harry Styles, que venceram quatro troféus de uma vez nas edições do ano passado e retrasado.

É sob essa onda de prestígio que Raye faz show pela primeira vez no Brasil, com uma passagem no festival C6 Fest, em São Paulo, e outra no clube Blue Note, no Rio de Janeiro.

Mas o período de bonança só veio após anos de angústia. Em 2014, Raye assinou contrato com a gravadora Polydor Records para lançar quatro discos. O problema é que a empresa nunca a considerou boa o suficiente para gravar álbuns completos, o que deixou a artista presa ao acordo.

A gravadora via nela potencial apenas para músicas lançadas de forma pontual, muito comerciais, quase genéricas. Mas Raye queria mais. “Era complicado. Não estávamos na mesma página há muito tempo. Me diziam que ninguém se importaria [com um disco], e que lançá-lo seria um desperdício de recursos”, diz ela à reportagem.

Dois dos seus maiores sucessos foram “You Don’t Know Me”, de 2016, e “Secrets”, de 2020, ao lado do DJ Regard. São faixas que flertam com o eletrônico, feitas para as pistas, e que em nada se assemelham com o tipo de som que ela faz hoje em dia.

Raye sempre foi considerada uma letrista competente pelos engravatados da indústria. Mas isso não significa que ela aproveitava suas composições –era orientada a enviá-las para outros artistas, caso de Beyoncé, John Legend e Charli XCX, por exemplo.

Em 2021, Raye fez um apelo no X, o antigo Twitter, dizendo que seus discos estavam empoeirando no computador. “São músicas que estou tendo que dar para artistas renomados porque ainda estou esperando me confirmarem que sou boa o suficiente para lançar um álbum”, publicou ela em junho daquele ano.

“Já fiz tudo que me pediram, mudei de gênero musical, trabalhei sete dias por semana. Cansei de ser uma diva pop educada. Quero fazer meu álbum agora, por favor, é tudo que eu quero”, escreveu ela, junto de fotos às lágrimas. Os tuítes viralizaram, houve comoção na internet, e Raye foi finalmente liberada pela gravadora.

De forma independente ela lançou “Escapism.”, que virou hit no TikTok e alcançou o 22º lugar na lista Hot 100 da Billboard, marcando sua estreia na principal parada musical dos Estados Unidos.

“Eu não diria que me senti vingada, mas validada. Sinto que fui levada a sério. Por anos eu só queria ser vista como uma verdadeira artista da música”, afirma.

Lançado em fevereiro do ano passado, o disco “My 21st Century Blues” percorre angústias da cantora de 26 anos, com letras sobre traumas pessoais e outras que tentam prever o que de ruim pode acometer a sociedade.

Na faixa “Environmental Anxiety.”, Raye faz um discurso inflamado sobre a destruição do planeta. O refrão melódico surge em meio a versos rápidos em tom de urgência. “Os governantes foderam nossos futuros/ e eles acham que não notamos/ florestas queimando, derramamentos de óleo”, ela canta.

“Muitos de nós, especialmente os mais jovens, estamos ansiosos sobre o estado do planeta”, diz a britânica. “Quem é um cidadão comum não tem poder o suficiente para fazer mudanças impactantes. Cria-se uma sensação de falta de controle. Isso me deixa preocupada.”

Nessa mesma faixa, Raye canta que os robôs roubarão todos os nossos empregos. Seu álbum foi lançado em meio à fervura do debate sobre como ferramentas de inteligência artificial impactam a indústria e os direitos autorais de músicos.

No começo deste mês, Stevie Wonder, Billie Eilish, Katy Perry e outros artistas assinaram uma carta aberta pedindo proteção contra o que chamaram de uso predatório da inteligência artificial.

Raye soa menos drástica que sua música ao ser questionada. “Acho que nós teremos que respeitar a inteligência artificial. Parece louco, eu sei. Mas estão criando robôs com sentimentos, as coisas estão ficando profundas”, diz. “Há tipos de músicas que a IA vai fazer muito bem, essas que são agradáveis ao ouvido. Mas [as ferramentas] não vão saber contar histórias sobre a experiência humana.”

É sobre isso que ela gosta de escrever. Na faixa “Mary Jane.”, por exemplo, Raye faz uma ode aos efeitos que a maconha lhe causa. Em “Ice Cream Man.”, ela narra a ocasião em que foi assediada sexualmente por um produtor musical num estúdio de gravação.

Depois, em “Body Dismorphia.”, Raye diz odiar o próprio corpo e que vomita após comer para emagrecer. “Tenho dias bons e ruins. Se você se sente bem consigo mesmo todos os dias, parabéns, não é como funciona comigo”, afirma.

Em breve Raye faz as malas para se apresentar pela primeira vez em território brasileiro, mas ela já tem certa proximidade com o país. Fã declarada de bossa nova, a britânica é uma das compositoras de “Girl From Rio”, música de Anitta, que ela diz ser uma mulher brilhante e gostosa. Elogia também João Gilberto, criador do gênero.

Ainda que escreva músicas para muita gente, Raye volta os olhos para si mesma. “Minhas composições vêm de histórias que quero muito contar. As melhores surgem quando estou me sentindo sobrecarregada”, diz. Ela foi a primeira mulher a ganhar o prêmio de compositora do ano no Brit Awards após 44 edições da premiação.

O C6 Fest, que recebe Raye, vai acontecer no parque Ibirapuera, entre os dias 17 e 19 de maio. Outros destaques da programação são o cantor Daniel Ceasar, a dupla Black Pumas e a banda de rock alternativo Pavement.

RAYE NO C6 FEST

Quando: 18/5

Onde: Parque Ibirapuera – av. Pedro Álvares Cabral, Vila Mariana, região sul

Preço: A partir de R$ 660

Link: https://byinti.com/

GUILHERME LUIS / Folhapress

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