Quem são os argentinos por trás das séries ‘O Faz Nada’ e ‘Meu Querido Zelador’

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – É difícil assistir “O Faz Nada”, série disponível na Star+, e não sentir saudades de Buenos Aires. Não precisa conhecer a cidade. Mesmo quem nunca esteve na capital argentina vai contemplar o clima de nostalgia no ar — além de um contentamento de ver a comida, a bebida, a fauna humana e a luz nas ruas

O protagonista é Manuel Prats, um dândi e crítico gastronômico que é tão casmurro quanto adorável, com suas pequenas manias e implicâncias. No papel dele, um ícone do cinema do país, Luis Brandoni. Robert De Niro interpreta um amigo de Nova York.

O sucesso internacional do cinema argentino já é conhecido. Mas dois nomes têm ajudado a levar também séries como essa para o mercado internacional, os criadores Gastón Duprat e Mariano Cohn.

Não que eles não tenham uma carreira consolidada na telona. Pelo contrário. São deles filmes que foram sucesso de crítica e público, como “Concorrência Oficial”, com Penélope Cruz, de 2021.

Mas o sucesso mais recente são três séries disponíveis no Star+, que vêm conquistando o público no Brasil e na América Latina. Além de “O Faz Nada”, são criações da dupla “O Museu”, sobre o diretor de uma instituição cultural, e “Meu Querido Zelador”, sobre um homem responsável por um prédio que usa o posto para manipular e se meter na vida dos moradores.

Esta última, aliás, é o maior sucesso do streaming da história da Argentina. Um detalhe –ao mesmo tempo em que florescem fora do país, duas dessas últimas produções deles deitam raízes na cultura e no imaginário portenhos.

“Antes, falavam que as séries tinham de ser neutras para poder circular em vários países”, diz Gastón Duprat, em visita com o parceiro ao Rio de Janeiro para o Rio2C, evento da indústria criativa na capital fluminense. “Ainda bem que isso mudou. As coisas hiperlocais viajam mais. Melhor do que aquelas feitas para todo mundo, que acabam não sendo para ninguém.”

Os dois contam, por exemplo, como os zeladores são personagens emblemáticos do imaginário portenho. São profissionais que inspiram respeito e temor. “Eles têm muita informação e a podem usar contra você”, diz Duprat, rindo.

A mesma ideia aparece em “O Faz Nada”. Em vez da Buenos Aires dos pontos turísticos mais óbvios, a dupla buscou outras locações. “Muitas vezes se comete um erro que é pensar em fazer um filme sobre uma cidade como Buenos Aires e, para isso, mandam chamar um Woody Allen, entregam um dinheiro na mão dele, para que ele nos conte como é Buenos Aires”, afirma Mariano Cohn.

“Queríamos uma série que retratasse uma cidade diferente do que faz o cinema, sofisticada em sua arquitetura, comida e intelectuais.”

Ele conta que essa preocupação se estendeu mesmo à paisagem sonora da série.

“Não usamos tango”, conta Cohn. “E, olha, o ator Luis Brandoni, que faz o personagem principal e é um ícone, ama a cidade, nos pedia toda hora para pôr um tango. Resistimos à tentação. Buscamos mais um rock dos anos 1980, Charly Garcia, Fito Páez, algo também muito portenho.” Outra marca da dupla é um senso de humor muito particular. Mas eles dizem não seguir uma fórmula de gênero.

O jornalista viajou a convite do Rio2C.

MAURÍCIO MEIRELES / Folhapress

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