SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os números apresentados no Censo 2022 não representam a totalidade de quilombolas no Brasil, na visão de um dos maiores especialistas nessas comunidades, Flávio Gomes, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
O historiador, que é autor de diversos livros sobre o tema, aponta que a pesquisa do IBGE não captou todas as dimensões dessa parcela da população, apesar do recorte inédito apresentado no mais recente levantamento.
“Falo de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Outras áreas têm muito mais quilombos, como Espírito Santo e Pernambuco. Como não ter quilombolas no Acre e Roraima?”, questiona.
Ainda segundo Gomes, a dificuldade de retratar com mais proximidade as comunidades quilombolas não decorre de uma falha do Censo, mas existe porque essa parcela da população está invisibilizada, assim como parte substantiva do campesinato negro e da luta pela terra no Brasil.
“Tem uma face camponesa negra, fundamentalmente a terceira geração do pós-emancipação [abolição da escravatura], que tem vinculação com quilombos”, afirma, argumentando que esse grupo não está mensurado.
O Censo 2022 divulgado nesta quinta-feira (27) aponta que o Brasil tem 1,3 milhão de quilombolas.
O contingente equivale a 0,65% do total de habitantes no país (203,1 milhões). A divulgação tem caráter histórico porque é a primeira vez que uma edição do Censo identifica os quilombolas e as suas características no Brasil, incluindo quantos são e onde vivem.
O levantamento mostrou que 68,2% dessa população mora no Nordeste, o que equivale a 905,4 mil pessoas.
Segundo o recenseamento, a Bahia é a unidade da federação com o maior número de quilombolas: quase 397,1 mil. O contingente equivale a 29,9% do grupo no país.
O segundo lugar no ranking é o Maranhão, com quase 269,1 mil (ou 20,3% do total). Juntos, os dois estados respondem por metade da população quilombola no Brasil.
Minas Gerais (135,3 mil), Pará (135 mil) e Pernambuco (78,8 mil) vêm na sequência da lista dos estados. Roraima e Acre, por outro lado, foram as únicas unidades da federação onde o IBGE não encontrou quilombolas.
O Censo também traz um detalhamento por municípios. Dos 5.570 existentes do Brasil, 1.696 (cerca de 30%) têm moradores quilombolas.
Senhor do Bonfim (a 384 km de Salvador), na Bahia, é o município com o maior número de quilombolas no país: quase 16 mil.
TAYGUARA RIBEIRO / Folhapress