Rainha de bateria perde voo após revista, e PF nega discriminação

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A rainha de bateria da Acadêmicos de Realengo, Cíntia Barboza, precisou ser submetida a uma tomografia para comprovar que não levava drogas dentro do estômago em um esquema de tráfico internacional e perdeu o voo que faria para o Benin, na África.

O voo sairia na madrugada de quinta-feira (4). A abordagem ocorreu por volta das 23h da última quarta-feira (3), no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo.

Cíntia relatou o ocorrido nas redes sociais. A passista explicou que saiu do Rio de Janeiro na quarta, com escala em Guarulhos. Ela viajaria ao Benin a trabalho, mas foi impedida de embarcar pelos agentes. Segundo contou, sua mala foi revistada duas vezes e ela precisou até mesmo tirar a lace que usava no cabelo durante a revista pessoal.

“Entrei na salinha, já que ela [a policial] solicitou. Ela colocou a luva, a moça da esteira também entrou para me revistar. Até aí, beleza. Eu tirei meu tênis, a minha roupa, a minha lace. A mochila ela apalpou, cheirou. E eu disse: ‘Vocês estão procurando uma coisa que estão perdendo tempo'”, disse a rainha.

Após a revista no aeroporto, Cíntia explicou que ela e outras cinco pessoas, também suspeitas de tráfico, foram levadas a um hospital em Guarulhos e tiveram que ser submetidos a uma tomografia. Após ficar comprovado que não transportava drogas, a passista foi liberada, mas já havia perdido o voo e, consequentemente, o trabalho que faria o Benin.

A mulher ressaltou que se sentiu lesada pela ação da PF. Cíntia disse que o caso atrapalha seu trabalho como professora na rede municipal de Realengo. Ela também alegou que usaria o dinheiro para fazer sua fantasia para o Carnaval deste ano, mas agora não tem mais a verba.

“Sou professora da prefeitura, dou aula para crianças e idosos. Para mim, é complicado. Porque, no meu grupo de crianças, as mães estão recebendo mensagens. Para mim, é uma situação horrível. Mas eu não vou parar”, falou.

Em nota, a escola de samba afirmou que sua rainha foi vítima de racismo. “A Acadêmicos de Realengo vem por meio desta repudiar a ação e o racismo sofrido por nossa rainha de bateria no Aeroporto de Guarulhos por parte da Polícia Federal. Nossa escola não tolera e jamais apoiará qualquer tipo de preconceito, racismo, homofobia e qualquer intolerância contra o ser humano”.

POSSÍVEIS ABUSOS SERÃO APURADOS, DIZ PF

A corporação informou que a mulher e outras cinco pessoas foram abordadas pela Polícia Federal no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na última quarta-feira (3), por suspeita de tráfico internacional de drogas, e que a ação faz parte da rotina de fiscalização do órgão.

De acordo com a PF, das seis pessoas abordadas, três transportavam drogas no estômago. Como Cíntia não levava entorpecentes, foi liberada. A corporação também negou discriminação e afirmou que possíveis abusos serão investigados.

A reportagem tenta contato com a rainha de bateria para pedir um posicionamento e saber se pretende tomar alguma medida legal, mas não obteve retorno. Em caso de resposta, esta matéria será atualizada.

VEJA A ÍNTEGRA DA NOTA DA PF

“A Polícia Federal informa que no dia 04.01.23, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, militares que atuam na Garantia da Lei e da Ordem (GLO) nos portos e aeroportos do Rio de Janeiro e de São Paulo, apresentaram na Delegacia da PF, seis passageiros do voo ET507 com destino à Etiópia, suspeitos de transportarem entorpecentes dentro do próprio corpo. Entre os passageiros estava a cidadã brasileira Cintia Francisco Barboza.

A PF, atuando como polícia aeroportuária, a fim de combater o tráfico internacional de entorpecentes, conduziu tais pessoas ao Hospital Geral em Guarulhos para inspeção corporal através do aparelho body scan.

Três desses passageiros efetivamente possuíam cápsulas com drogas acondicionadas no sistema digestivo e foram presos em flagrante. Após a realização da inspeção, Cintia Francisco Barboza foi liberada.

A PF repudia e combate todo tipo de tratamento discriminatório, referente à etnia, raça, gênero, idade, nacionalidade, orientação sexual, condição social ou religião.

Eventuais abusos ou falhas na condução do procedimento serão apurados.”

Redação / Folhapress

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