RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O deputado federal e pré-candidato a prefeito do Rio de Janeiro Alexandre Ramagem (PL) negou ter ordenado monitoramentos ilegais a adversários políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e jornalistas enquanto foi diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
Em sabatina realizada nesta quarta-feira (7) pela Folha e UOL, Ramagem afirmou que soube de monitoramentos por meio da imprensa e criticou a investigação da Polícia Federal.
O deputado aliado de Bolsonaro disse que a PF vazou informações de seu depoimento à imprensa e acessou dados pessoais do seu computador. Afirmou que arquivos apontados pela PF como emails eram documentos que não foram enviados para ninguém. Em julho, Ramagem prestou depoimento de quase sete horas à PF.
“O que a PF faz hoje em dia é muito triste. Ela elege determinada pessoas como alvo e começa a querer destrinchar e inventar algumas coisas”, disse. “Na minha gestão não teve nenhum monitoramento dessas pessoas [adversários políticos, jornalistas e ministros do STF]. O nome delas passam por processos de informação, é natural. Mas [monitoramento] pedido por mim, nenhum.”
Ramagem também minimizou a reunião ocorrida em agosto de 2020, sobre as investigações de “rachadinha” contra o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). O áudio da reunião foi “possivelmente gravado” por Ramagem, segundo investigação.
A conversa, de agosto de 2020, mostra que o então presidente se prontificou a conversar com os chefes da Receita Federal e do Serpro a empresa estatal que detém os dados do Fisco no contexto de discussão sobre anular as investigações.
“Nessa reunião, as advogadas do senador Flávio estavam trazendo uma possibilidade de petição para o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) aprofundar possíveis irregularidades que poderiam estar acontecendo em apurações do senador Flávio. Nossa posição é que o GSI não tinha atribuição para aquilo.”
Em um dos documentos pessoais encontrados no computador de Ramagem, segundo a PF, o ex-diretor da Abin teria escrito que as eleições de 2018 haviam sido fraudadas.
Questionado sobre a confiança nas eleições brasileiras, pré-candidato a prefeito do Rio reconheceu o sistema eleitoral como válido. “Eu estou concorrendo e vou reconhecer o resultado das urnas”, afirmou.
“A gente não pode deixar de ter opinião e evoluir nosso sistema sempre. É um equívoco tachar as pessoas de deixar de fazer críticas. Acredito que tenha que ter um escrutínio.”
Na sabatina, Ramagem desconversou sobre o apoio que recebeu do ex-deputado federal Eduardo Cunha (Republicanos). O pré-candidato foi delegado da PF durante a Operação Lava Jato, na qual Cunha chegou a ser condenado por corrupção decisão anulada pelo STF em 2023.
O Republicanos tentou indicar a deputada estadual Tia Ju para vice na chapa de Ramagem, mas a igreja Universal barrou a indicação, e a chapa “puro-sangue” será formada com a deputada estadual Índia Armelau (PL).
“Nós temos que ter coligações. Entramos na campanha com intuito vencedor, não estou vindo para marcar posição. Temos que chegar no cidadão”, disse Ramagem. “Nossas coligações são com os partidos sólidos, fortes, que entenderam nossa vontade.”
Na segunda-feira (5), Ramagem esteve em evento do Republicanos, que declarou apoio ao pré-candidato do PL. Eduardo Cunha esteve presente e usou o microfone para apoiar Ramagem. O ex-deputado ficou preso em regime fechado de outubro de 2016 até abril de 2021.
O pré-candidato do PL defendeu a gestão do correligionário Cláudio Castro (PL), governador fluminense. Ele afirmou que, caso eleito, vai pedir a Castro parcerias entre município e estado na gestão da segurança pública.
“Os números do governo do estado acerca da violência estão cada vez melhores”, disse Ramagem. “Eu acredito que nós, pela prefeitura, sem lavar as mãos e dizer que o assunto é apenas do governo, vamos pedir ao Cláudio Castro que esteja à frente e trabalhando em conjunto no planejamento da segurança e da ordem pública do Rio de Janeiro.”
Questionado sobre a instalação de câmeras nos uniformes dos policiais e guardas municipais, Ramagem disse ser a favor, mas não imediatamente. “Sou favorável, mas temos prioridades anteriores a elas [as câmeras], tanto nas prisões quanto nas pessoas que estão cumprindo semiaberto e aberto e nas localidades.”
Ramagem fez críticas a Eduardo Paes (PSD) e disse que a gestão do atual prefeito pensa o Rio “isolado do mundo, do estado e da metrópole”. O pré-candidato do PL afirmou que pretende substituir gradualmente a frota de BRT por VLTs (veículos sobre trilhos). A substituição também é um plano da gestão de Paes, que prevê 15 anos para a troca.
Para a educação, Ramagem defendeu a entrada da direção privada nas escolas públicas municipais. “Se nós conseguirmos fazer modelos de gestão privada e demonstrarmos o sucesso, elas vão começar a se expandir.”
Diego Sarza conduziu a sabatina, com participação dos jornalistas Ruben Berta, do UOL, e Italo Nogueira, correspondente da Folha na capital fluminense.
Alexandre Ramagem é formado em direito e foi delegado da Polícia Federal desde 2005. Coordenou a segurança de eventos, como as Olimpíadas do Rio, em 2016, e trabalhou na Lava Jato. Foi o diretor-geral da Abin sob Jair Bolsonaro e depois foi eleito deputado. Atualmente é investigado no caso da “Abin paralela”, que teria espionado desafetos do ex-presidente.
Além dele, outros dois postulantes foram convidados. Na terça-feira (6), foi a vez do deputado federal Tarcísio Motta (PSOL) ser entrevistado. O prefeito Eduardo Paes também foi convidado, chegou a confirmar a entrevista, mas cancelou alegando problemas na agenda.
O ciclo de sabatinas promovido por Folha e UOL foi iniciado em junho e já contemplou pré-candidatos de Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre, Recife, Curitiba, São Paulo, Fortaleza e Maceió. Também haverá sabatinas em outras nove cidades.
Além disso, Folha e UOL promoverão debate com os principais candidatos à Prefeitura de São Paulo. O encontro no primeiro turno será em 30 de setembro, às 10h. Caso haja segundo turno, haverá outro em 21 de outubro, também às 10h.
YURI EIRAS / Folhapress