Ranani Glazer, brasileiro morto pelo Hamas em Israel, sonhava em ser DJ

Hanani Glazer nasceu no Brasil e morava em Israel | Foto: Reprodução/Instagram

Um cara alegre, desprendido, cujo sonho era alcançar a fama como DJ. É dessa forma que amigos descrevem Ranani Glazer, um dos dois brasileiros mortos durante um ataque do Hamas a uma festa de música eletrônica em Israel neste sábado (7) –dias antes de completar 24 anos.

Glazer foi uma das cerca de 260 pessoas encontradas mortas pelas autoridades israelenses no rescaldo da invasão terrorista a uma rave no deserto de Negev, a menos de seis quilômetros da Faixa de Gaza, naquele que já é o maior ataque sofrido por Israel em 50 anos. O brasileiro estava no evento, uma edição local da festa brasileira Universo Paralello, com a namorada, Rafaela Treistman, e o amigo Rafael Zimerman.

Zimerman relatou à reportagem o que aconteceu no momento da ofensiva. Segundo ele, a invasão teve início ao amanhecer, quando a festa foi interrompida pelo barulho de mísseis e seus organizadores pediram que o público fosse à procura de refúgio. No caso do trio de amigos, o destino foi um bunker à beira da estrada.

Pegaram carona para chegar até o local, situado em um ponto de ônibus, e observaram o bunker ficar cada vez mais cheio, a ponto de abrigar cerca de 50 pessoas. Glazer chegou a publicar um vídeo de dentro do abrigo em que compara a situação a uma “cena de filme”.

Foi então que, nas palavras de Zimerman, “veio o inferno”. Terroristas começaram a atacar o bunker com granadas e tiros e, ao vencerem a resistência de policiais, jogaram gás no abrigo e começaram a atirar.

Zimerman e Treistman sobreviveram. Glazer, não.

A morte do jovem foi confirmada por sua tia a este jornal na segunda-feira (9). Segundo ela, o Exército de Israel foi até a casa do pai de Glazer, que também mora em Israel, para anunciar que seu corpo havia sido localizado, segundo ela sem dar detalhes sobre as condições em que isso se deu.

Glazer nasceu em Porto Alegre e mudou-se para o país no Oriente Médio há cerca de sete anos. Depois de concluir os estudos em uma escola israelense, prestou o serviço militar obrigatório e, depois, passou a trabalhar como entregador na capital, Tel Aviv. Segundo a imprensa gaúcha, sua mãe ainda mora no Rio Grande do Sul e ele tem pelo menos um irmão, Rudy Glazer.

De acordo com depoimentos de pessoas próximas, sua grande vocação era a música. Sua namorada, Rafaela Treistman, escreveu que Glazer queria ser um DJ famoso no Brasil e ter suas composições reconhecidas. Acrescentando que os dois chegaram a escrever uma canção juntos, ela diz ter ficado marcado pelas vezes em que a apresentaram a novos ouvintes. A amiga Jade Kolker também lembrou o sonho do gaúcho de ser “um DJ famoso na cena trance brasileira e também pelo mundo”.

Beny Hauben, 33, conta que era comum que Glazer organizasse saraus em sua casa em Tel Aviv, chamando conhecidos para tocar. Outro amigo, Rafael Fiori, 24, relata que ele era habilidoso com o “dapo”, espécie de malabares formado por dois tecidos sobrepostos que resultam em uma figura de 16 lados, que sempre levava para as festas de música eletrônica.

Os dois descrevem Glazer como um “cara do bem”. Hauben, que trabalha como guia turístico e também é morador da capital israelense, conta que conheceu o gaúcho há cerca de cinco meses e logo se identificou com ele, nas suas palavras uma pessoa “doce, do bem, aberta, com o coração enorme”. Ele afirma que os dois se cruzavam com frequência, uma vez que a comunidade judaica brasileira em Tel Aviv é bastante próxima.

Já Fiori conheceu o gaúcho em Amsterdã no final do ano passado e logo formou com ele e outros recém-conhecidos uma turma para viajar pela Holanda. Um vídeo publicado por Glazer no Instagram mostra os jovens se aventurando pelo país. “Era um cara alegre, divertido, soltão. Era desenrolado”, diz Fiori.

Além de Glazer, a outra brasileira morta na Universo Paralello foi Bruna Valeanu, 24. Embora só sua mãe e uma de suas irmãs morassem no país, seu funeral na cidade de Petah Tikva, nos arredores de Tel Aviv nesta terça-feira (10) atraiu milhares de pessoas. Brasileiros e israelenses se solidarizaram com um chamado feito nas redes sociais e ecoado em canais de televisão para comparecerem ao enterro da estudante universitária, que não tinha mais parentes no territórios.

CLARA BALBI / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS