RECIFE, PE (FOLHAPRESS) – A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), intensificou acenos e elogios ao presidente Lula (PT) nas últimas semanas, em movimentação que tem chamado a atenção do PT e de aliados da tucana.
Raquel foi eleita em 2022 no segundo turno, quando não declarou voto na disputa presidencial. Um ano depois do pleito, a gestora tem feito gestos visíveis a Lula.
Os acenos ocorrem em meio a dificuldades da governadora com o Legislativo no estado. O governo de Raquel tem relação instável com os deputados estaduais, que falam em complicações no diálogo sobre projetos e em pleitos junto a secretários.
Em outubro, Raquel sofreu a mais dura derrota na Assembleia Legislativa, que decidiu, por 30 votos a 10, derrubar vetos dela à Lei de Diretrizes Orçamentárias.
A governadora tem ido a Brasília todos os meses para conversas com ministros em busca de investimentos e recursos para o estado.
Nas redes sociais, Raquel chegou a evitar citar o nome de Lula em algumas ocasiões, como no lançamento do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), em agosto, em evento no Rio, quando agradeceu ao governo federal.
Exatamente um mês depois, ela mudou o tom em cerimônia de lançamento do PAC em Pernambuco. “Temos a sorte de ter na Presidência o nosso embaixador sentado na cadeira do Palácio do Planalto como presidente da República”, afirmou, em discurso ao lado de ministros de Lula. O petista é pernambucano.
Nas semanas seguintes, em ao menos três ocasiões, Raquel publicou fotos com Lula nas redes sociais. Em uma delas, desejou feliz aniversário ao presidente pelos seus 78 anos, completados no dia 27 de outubro.
O senador Humberto Costa (PT-PE) diz acreditar, “por todos esses sinais”, que há uma aproximação política dela com o governo Lula, mas não vê uma aliança imediata.
“No curto prazo, é pouco provável, até porque a composição política do governo Raquel tem um peso significativo de setores mais à direita e a gestão tem alguns problemas ainda, mas sem dúvidas abre um canal de diálogo mais amplo, embora a gente nunca tenha deixado de tê-lo”, diz ele.
Nos eventos no interior de Pernambuco, a governadora tem citado espontaneamente o presidente Lula e agradecido a postura de ministros perante as demandas do estado.
Os posicionamentos pró-Lula da governadora não têm surpreendido integrantes do PT em Pernambuco. Os petistas afirmam que o passado político de Raquel e sua família é ligado à esquerda.
Isso porque o pai dela, João Lyra Neto, era filiado ao MDB durante a ditadura e já teve passagens por PSB, PT e PDT. Foi vice de Eduardo Campos por mais de sete anos e assumiu o governo de abril e dezembro de 2014. Fernando Lyra (1938-2013), tio de Raquel, foi candidato a vice-presidente na chapa de Leonel Brizola (1922-2004), do PDT, em 1989.
Raquel já disse que votou em Lula nas eleições de 2002 e 2006. Ela foi filiada ao PSB até 2016.
Líder do governo na Assembleia Legislativa, Izaías Régis (PSDB) vê possibilidade de uma aliança política com o presidente. “Eles se tratam muito bem. Por que não uma aliança política com o presidente Lula?”, diz ele, que aponta chances do PT, com três deputados, fazer parte da base aliada de Raquel na Assembleia.
Atualmente, os petistas são de oposição, mas têm votado em diversas votações alinhados ao governo.
Izaías acrescenta: “2026 está longe, mas está perto. Vamos fazer nosso conjunto para que Pernambuco se desenvolva e a governadora entre bem na reeleição”.
Nos bastidores do governo, a tese de uma mudança partidária de Raquel mais adiante ganha força. Os principais fatores para eventual troca são a perda de musculatura política do PSDB e o movimento para se aproximar de Lula. Os tucanos são adversários históricos do PT no plano nacional.
O PSD, que tem três ministérios no governo Lula, é o partido mais cotado no atual momento, mas não há tratativas fechadas nem portas fechadas a outras legendas de centro. O partido entrou na base aliada de Raquel em setembro, após romper com o prefeito do Recife, João Campos (PSB), e é comandado no estado pelo ministro da Pesca de Lula, André de Paula.
“Não posso falar por ela, mas acho que poderíamos partir para outro partido mais próximo de Lula. Não é a curto prazo, a gente tem tempo para isso. Quem tem tempo não tem pressa”, diz Izaías Régis.
Aliado de Raquel, o prefeito de Caruaru, Rodrigo Pinheiro, que era vice de Raquel quando ela foi prefeita, confirmou que sairá do PSDB. A tendência é que siga para um partido mais próximo do governo Lula, como Republicanos ou PV.
No PT, a leitura é que quanto mais palanques em apoio à reeleição de Lula, melhor. Pernambuco é um estado que historicamente dá votações expressivas a Lula. Em 2022, ele teve 66,9% dos votos válidos no segundo turno.
Atualmente, o PSB, que faz oposição a Raquel, é o aliado mais próximo do presidente em Pernambuco.
Líderes pessebistas minimizam os impactos das movimentações de Raquel e tecem críticas à neutralidade da governadora em 2022. O prefeito do Recife, João Campos, é o principal nome da legenda no estado.
“Lula tem agido como um estadista em relação aos estados, até com governadores que votaram contra ele. E o palanque da governadora ficou neutro nas eleições presidenciais como se fosse indiferente a vitória de [Jair] Bolsonaro ou Lula, e está provado que não era”, afirma o deputado estadual Waldemar Borges (PSB).
Do lado de Raquel, uma aliança com Lula afastaria o PL da base aliada. A sigla do ex-presidente Bolsonaro, com 5 dos 49 deputados, faz parte do campo governista na Assembleia Legislativa.
JOSÉ MATHEUS SANTOS / Folhapress