Ratinho Jr. tenta tirar pé do bolsonarismo e impor às pressas marcas para 2026

CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – Enquanto flerta com a possibilidade de se lançar candidato ao Planalto em 2026, Ratinho Junior (PSD) tenta às pressas impor marcas no seu segundo mandato à frente do governo do Paraná, após uma primeira gestão atravessada pela pandemia da Covid-19.

Filho do apresentador de televisão e empresário Carlos Roberto Massa, Ratinho Junior foi reeleito no ano passado ainda no primeiro turno, com quase 70% dos votos e em campanha afinada com o então presidente Jair Bolsonaro (PL), derrotado nas urnas.

Agora, tem prometido ao eleitorado paranaense tirar grandes obras de infraestrutura do papel, especialmente no litoral.

Em meio a uma disputa judicial com o Ministério Público Federal, inaugurou na sexta-feira (27) o canteiro de obras para a construção da Ponte de Guaratuba, aguardada há décadas pelas prefeituras do litoral e prevista para ser concluída em dois anos, ao final da sua gestão.

Para fora do Paraná, Ratinho tenta se apresentar como um governador a favor de privatizações e de direita, mas em uma opção moderada, num contraponto ao ex-presidente. Usa como exemplo a transformação da Copel (Companhia Paranaense de Energia) em corporação, sem acionista controlador.

Desde o início do ano, Ratinho vai se afastando do bolsonarismo, ainda que atento ao eleitorado do Paraná, onde o ex-mandatário ficou à frente de Lula (PT) no segundo turno com mais de 60% dos votos.

Em julho, correu para anunciar a manutenção das suas escolas cívico-militares, na contramão da decisão do MEC (Ministério da Educação) de encerrar o programa federal criado na gestão Bolsonaro e que havia inspirado o modelo local.

Por outro lado, em agosto e setembro, foi pessoalmente à Bolsa de Valores de São Paulo bater o martelo ao lado do ministro Renan Filho (MDB) no leilão das estradas do Paraná. Antes, já tinha aparecido em um vídeo com Lula durante a formalização da delegação das estradas estaduais à União, em Brasília.

Dois lotes de rodovias federais e estaduais foram leiloados a empresas, em um modelo de concessão que uniu Ratinho e o ministro do governo de Lula, mas deixou parlamentares do PT no Paraná insatisfeitos.

Com uma confortável base aliada na Assembleia Legislativa, Ratinho não tem dificuldade para aprovar projetos de lei e impor sua agenda.

Os obstáculos são outros, como a “liminar irresponsável” pedida pelo MPF, disse ele, em referência a recente medida judicial que temporariamente paralisou o projeto da obra da ponte de Guaratuba.

Outras obras no litoral estão no radar do MPF -como engorda de faixa de areia da praia e rodovia com supressão de vegetação de Mata Atlântica– e Ratinho vem subindo o tom contra o que chama de entrave ao desenvolvimento local.

A disputa judicial foi lembrada na sexta-feira durante os discursos na cerimônia que marcou o início da obra da ponte que liga Guaratuba a Matinhos. Prevaleceram, contudo, as menções sobre o eventual futuro político do governador.

“Vamos torcer para que esta ponte se estenda até lá em Brasília e que a senhora seja a primeira-dama do Brasil, se Deus quiser”, disse o prefeito de Matinhos, Zé da Ecler (Podemos), ao se dirigir a Luciana Saito Massa, presente na cerimônia.

“Nós temos muito orgulho do nosso governador e teremos muito mais quando tivermos o governador do Paraná na Presidência da República”, continuou o prefeito de Guaratuba, Roberto Justus (União Brasil).

Ao ser chamado para discursar, Ratinho disse que “uma das grandes conquistas do meu governo foi ter conseguido criar um ambiente de união no estado”. E criticou o que chama de “discussão ideológica” na política.

“Num mundo onde tem guerras para todo lado, onde as discussões políticas afastam as famílias, aonde muitas vezes a discussão ideológica é muito maior do que uma discussão de raciocínio lógico, como por exemplo, fazer uma ponte”, afirmou ele.

Até aqui, os aliados têm assumido a tarefa de reverberar uma eventual candidatura de Ratinho à Presidência da República, mas dão como certa uma vitória dele ao Senado, caso não opte pela corrida ao Planalto.

No início do mês, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, indicou que, se a sigla tiver candidato próprio em 2026, a vaga seria de Ratinho Junior.

Kassab é secretário no Governo de São Paulo, na gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos), que também é ventilado para o Planalto pelo campo da direita, assim como Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais.

Com eleições ainda distantes, Ratinho e outros governadores do Sul e do Sudeste têm intensificado uma agenda conjunta desde meados do ano, na esteira do debate em torno da reforma tributária.

Em julho, quando esteve no Paraná, Zema defendeu um nome do Sul ou do Sudeste para a próxima disputa ao Planalto. Segundo ele, são regiões que “representam muito da economia brasileira” e que “precisam ter mais força política”.

Também disse que preferia apoiar alguém do campo da direita, e não ser ele próprio o candidato. “2026 está muito longe”, ponderou ele, na ocasião.

CATARINA SCORTECCI / Folhapress

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