SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No dia seguinte à derrubada do regime de Bashar al-Assad, rebeldes na Síria disseram ter encontrado nesta segunda-feira (9) cerca de 40 corpos com sinais de tortura em um hospital perto de Damasco, a capital do país.
Segundo os rebeldes, os corpos estavam dentro de sacos plásticos, alguns identificados com nomes e números. “Abri a porta do necrotério e me deparei com imagem horrível: havia cerca de 40 cadáveres empilhados e com sinais de tortura”, disse por telefone à agência de notícias AFP o combatente Mohamed al Hajj, que pertence a uma facção rebelde no sul da Síria.
A AFP teve acesso a fotos e vídeos que os rebeldes dizem ter feito no hospital. As imagens mostram corpos com os olhos e dentes arrancados, cheios de hematomas e sujos de sangue, o que seriam indícios de tortura. Também há registros de ossos envoltos em panos e de cadáveres em decomposição.
Os corpos foram colocados em sacos ou embrulhados em panos brancos, que ficaram manchados de sangue. Ainda de acordo com a AFP, algumas das pessoas pareciam ter morrido recentemente.
Rebeldes liderados pela HTS (Organização para a Libertação do Levante, na sigla em árabe), cuja origem remonta à rede terrorista Al Qaeda, derrubaram o regime da Síria no domingo (8), após uma ofensiva relâmpago, ao depor o ditador Bashar al-Assad, que havia assumido a liderança do país em 2000.
O ditador sucedeu o seu pai, Hafez. No total, a família Assad controlou a Síria com mão de ferro durante mais de cinco décadas, período no qual dissidentes foram reprimidos de forma brutal.
Hajj disse à AFP que os combatentes receberam informações de funcionários do hospital sobre os corpos. Depois, eles teriam informado o comando militar sobre os indícios de tortura.
O Crescente Vermelho sírio, organização equivalente à Cruz Vermelha em países islâmicos, teria transportado os corpos a outro hospital em Damasco para que os familiares pudessem fazer a identificação.
Diab Serriya, cofundador da Associação de Pessoas Detidas e Desaparecidas da Prisão de Saydnaya, disse à AFP que os corpos podem ser de prisioneiros. Segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, pelo menos 60 mil pessoas morreram sob tortura ou devido às más condições nos centros de detenção durante o regime de Bashar al-Assad.
Após a queda do regime, o futuro do país continua incerto, e a instabilidade abre a possibilidade de que a guerra civil que matou 500 mil sírios desde o início, em 2011, seja retomada com força total.
Mesmo assim, a queda da ditadura foi comemorada com festa não só na Síria, como em diversos países que abrigam os cerca de milhões de refugiados do conflito.
“Após 14 anos de conflito, os acontecimentos recentes trazem esperança de que o sofrimento do povo sírio possa finalmente acabar e que a maior crise de deslocamento forçado do mundo possa caminhar para soluções justas”, escreveu em nota Filippo Grandi, chefe do Acnur, agência da ONU para refugiados.
“Uma transição que respeite os direitos, vidas e aspirações de todos os sírios -independentemente de etnia, religião ou crenças políticas- é crucial para que as pessoas se sintam seguras”, acrescentou.
Redação / Folhapress